Sem surpresa

Copom prepara aumento da taxa de juros pela oitava reunião seguida

A dúvida é se a elevação será de 0,25 ou 0,5 ponto percentual. Hoje, taxa básica está em 10,5% ao ano. CUT critica política do BC. Decisão sai um dia antes da divulgação do PIB de 2013

São Paulo – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central vai encerrar na noite de hoje (26) a segunda reunião do ano e, mais uma vez, não deve surpreender. A expectativa majoritária é de uma alta de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic) para 10,75% ao ano. Será o oitavo aumento seguido, acumulando acréscimo de 3,25 pontos em um ano.

Alguns ainda apostam em alta de meio ponto, cenário considerado menos provável, mas que não pode ser desconsiderado. O Copom fez isso nas seis últimas reuniões.

Se chegar mesmo aos 10,75% hoje, a Selic voltará ao nível em que estava no final do governo Lula. Na gestão Dilma, a taxa subiu nas primeiras reuniões, até atingir 12,5%, em julho de 2011. Dali até outubro de 2012, o Copom inverteu o sinal e fez vários cortes na Selic, que chegou ao menor nível histórico (7,25%). Mas, após um período de estabilidade, a política mudou novamente e a taxa voltou a subir desde abril de 2013 – e não parou mais.

Aumentar meio ponto pode revelar um receio ainda persistente quanto ao comportamento da inflação, ainda mais com a proximidade do período eleitoral. Em janeiro, o IPCA ficou em 0,55%, segundo o IBGE, no menor índice para o mês desde 2009. O acumulado em 12 meses está em 5,59%. Em meados do ano passado, chegou a 6,7%.

Mas também é preciso considerar as perspectivas de crescimento econômico para o país em 2014. Nesse caso, considerando os “ajustes” já feitos na taxa de juros, o Copom poderia reduzir o ritmo desde já. A decisão do Copom, por sinal, sai um dia antes da divulgação, pelo IBGE, do PIB do quarto trimestre e do ano de 2013.

Em artigo, o presidente da CUT, Vagner Freitas, afirma que a política de elevação dos juros não ajuda a controlar a inflação e prejudica o desenvolvimento sustentável, “reduz o mercado interno, encarece o crédito e serve apenas aos interesses do capital especulativo”. Ele propõe mudanças na formação do comitê. “Defendemos a participação da sociedade civil organizada – trabalhadores/as e empresários/as, inclusive do setor produtivo – para que o Copom não tome decisões influenciadas apenas pelo mercado financeiro e, sim, por toda a sociedade brasileira.”

Leia a seguir a íntegra do artigo do presidente da CUT, Vagner Freitas:

COPOM: os trabalhadores têm de ser ouvidos

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) iniciou nesta terça-feira (25) a segunda reunião do ano para definir a taxa básica de juros, a SELIC. A decisão será divulgada nesta quarta (26).

Segundo os jornais, o mercado financeiro prevê uma taxa de 11,25% este ano e de 12%, em 2015. No ano passado, depois de centenas de artigos de analistas ligados ao mercado financeiro prevendo o caos econômico, o Copom elevou a SELIC em 2,75% – em janeiro, a taxa subiu 0,5% e ficou em 10,5%.

Para a CUT, a política de elevação das taxas de juros, além de não contribuir para controlar os índices inflacionários, prejudica o desenvolvimento sustentável do País, gerador de emprego e renda, reduz o mercado interno, encarece o crédito e serve apenas aos interesses do capital especulativo.

Só o sistema financeiro ganha com isso. Quanto maior o spread, ou seja, a diferença entre a taxa básica de juros (10,5%) e o índice de inflação (5,9%), maior o lucro dos especuladores. E quem mais ganha são os investidores externos porque, em seus países, o spread é baixo.

E quem mais perde são os/as trabalhadores/as, em especial os/as que ganham menos. Isso porque, junto com os juros sobem todos os preços das mercadorias e serviços. Com isso, cai violentamente o poder de compra da classe trabalhadora.

A CUT não quer inflação nem juros altos. A CUT quer que os/as trabalhadores/as tenham poder aquisitivo para investir na qualidade de vida, moradia, lazer, educação.

É por tudo isso que a CUT entende que o Copom não pode ser formado apenas por economistas do Ministério da Fazenda e outras instâncias do governo. Defendemos a participação da sociedade civil organizada – trabalhadores/as e empresários/as, inclusive do setor produtivo – para que o Copom não tome decisões influenciadas apenas pelo mercado financeiro e, sim, por toda a sociedade brasileira.

Vagner Freitas, presidente Nacional da CUT