Contraf critica resistência de bancos privados para baixar spread bancário

Presidente da Febraban disse que a maior parte do spread não é composta pelo lucro das instituições financeiras

São Paulo — Após anúncio do governo federal de reduzir juros bancários em dois bancos públicos, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, a pressão para que bancos privados façam o mesmo se intensificou. Para a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), é uma “choradeira” a negativa dos bancos de não baixar o chamado spread bancário, que é a diferença entre os juros pagos pelos bancos aos investidores e as taxas cobradas dos clientes.

“Em vez de barganhar vantagens, os banqueiros deviam seguir o caminho aberto pelo Banco do Brasil e pela Caixa, que anunciaram quedas nas taxas de juros, como forma de contribuir também para a diminuição do spread, a melhoria do crédito e o estímulo à produção e ao consumo para gerar mais empregos, distribuir renda e alavancar o desenvolvimento econômico e social do país”, disse Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT.

Em reunião com representantes do Ministério da Fazenda, o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Murilo Portugal, sugeriu, entre outras propostas para reduzir o spread, a extensão para outros tipos de operações de crédito de benefícios que existem para os financiamentos imobiliários. Ele citou a proibição da capitalização de juros sobre uma dívida que já está sendo paga e a possibilidade de o cliente continuar a pagar o principal de um débito enquanto questiona as taxas de juros na Justiça.

O presidente da Febraban também cobrou a regulamentação do cadastro positivo (de quem paga as dívidas em dia), que permitirá aos bons pagadores ter acesso a taxas de juros mais baixos. A lei foi sancionada em junho do ano passado, mas a criação da cadastro positivo ainda depende da edição de um decreto pelo Ministério da Fazenda.

Portugal reivindicou ainda a redução do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) cobrados dos bancos. “O Brasil é um dos países que mais tributa a intermediação financeira”, reclamou. Ele também pediu a redução do depósito compulsório, atualmente em torno de 55%. “Essa é uma fatia muito acima da praticada no resto do mundo”, disse. O depósito compulsório é uma parte dos recursos captados dos clientes nos depósitos à vista, a prazo ou poupança que os bancos são obrigados a depositar em uma conta no Banco Central.  

Porém, para o presidente da Contraf, os bancos possuem lucratividade alta e, mesmo após reduções sucessivas da taxa Selic, não reduziram os juros cobrados dos consumidores e empresas. “Os bancos vivem fazendo aquisições e fusões, onde só eles ganham. Hoje, meia dúzia de instituições concentram 90% do sistema financeiro, acumulando lucros gigantescos, sem oferecer contrapartidas para a sociedade, que paga os juros mais altos do mundo, tarifas abusivas, spread nas alturas e bônus milionários para altos executivos. Além disso, é um dos setores que menos gera empregos no país”, afirmou Cordeiro.

Segundo pesquisa do Procon de São Paulo, a taxa média de juros de empréstimo pessoal fechou em 5,87% ao mês em março, enquanto a média dos juros do cheque especial subiu para 9,54% ao mês. Estudo do Ipea revela que bancos estrangeiros praticam taxas reduzidas nos países de origem. “O abuso dos juros cobrados no Brasil fica ainda mais claro quando comparamos as taxas praticadas aqui e em outros países”, disse Cordeiro.

Com informações da Contraf-CUT e Agência Brasil