BC deve manter juros até o fim de 2010, apostam bancos

Apesar de ter grande centralidade na cobertura jornalística de economia no Brasil, taxa Selic é desconhecida pela maioria das pessoas (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil) São Paulo – Analistas do mercado […]

Apesar de ter grande centralidade na cobertura jornalística de economia no Brasil, taxa Selic é desconhecida pela maioria das pessoas (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

São Paulo – Analistas do mercado financeiro consultados pelo Banco Central (BC) esperam pela manutenção da taxa básica de juros, a Selic, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para esta terça (31) e quarta-feira (1º). Atualmente, a Selic está em 10,75% ao ano. A decisão dos diretores do BC costuam seguir a avaliação de economistas dos bancos e corretoras de valores.

O Banco Central eleva os juros básicos quando considera que a trajetória de inflação é de alta, em ambiente de economia aquecida. A Selic é um instrumento de controle da inflação, que tem meta para este ano e 2011 de 4,5%, com limite inferior de 2,5% e superior de 6,5%. Cabe ao BC perseguir essa meta. Neste ano, o Copom elevou a taxa básica de juros em abril (de 8,75% para 9,50% ao ano), em junho (para 10,25% ao ano) e em julho (para 10,75% ao ano). Para o final de 2011, os analistas mantêm a projeção de 11,50% ao ano, segundo o boletim Focus, divulgado na segunda-feira (30).

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi o escolhido pelo governo para acompanhar a meta de inflação. Na estimativa dos analistas, esse índice deve ficar em 5,07% neste ano, contra os 5,10% previstos na semana passada. Para 2011, a estimativa oscilou de 4,86% para 4,87%. Para os dois anos, portanto, as projeções estão acima do centro da meta de 4,5%.

O boletim Focus também traz a estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe), que neste ano deve ficar em 4,99%, contra os 5% previstos no boletim anterior. Para 2011, a projeção permaneceu em 4,53%.

A estimativa para o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) foi alterada de 8,50% para 8,49%, neste ano, e permaneceu em 5%, em 2011. A expectativa para o Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) neste ano continua em 8,56%. Para o próximo ano, oscilou de 5% para 5,01%.

A projeção dos analistas para os preços administrados passou de 3,60% para 3,55%, em 2010, e foi mantida em 4,80%, em 2011. Os preços administrados são aqueles cobrados por serviços monitorados, como combustíveis, energia elétrica, telefonia, medicamentos, água, educação, saneamento, transporte urbano coletivo, entre outros.

Distância

Apesar da centralidade na economia brasileira, a maior parte das pessoas desconhece o tema. Segundo reportagem de Kelly Oliveira, da Agência Brasil, a taxa Selic fica longe das conversas em locais de comércio popular. O camelô Adalmir Ribeiro, de 40 anos, por exemplo, em um quiosque ao lado da sede do BC, na região central de Brasília, conta que até já ouviu falar na taxa Selic, mas não soube explicar do que se trata. “Estou perdido. Falta informação. Se houvesse informação, todo mundo iria ver e saberia o que significa. Para todo lado, você vê uma taxa diferente, vê juros aumentando”.

A funcionária de serviços gerais Laurita Mendes, de 46 anos, que passava ao lado do BC, nunca ouviu falar da Selic. “Nem na televisão”, afirmou. Assim também respondeu o designer gráfico Anderson de Araújo, 41 anos: “Taxa Selic? Nunca ouvi falar. Você não vai me dizer o que significa?”, perguntou.

O professor de economia da Universidade de Brasília (UnB) Newton Marques explica que a taxa básica de juros, a Selic, é um instrumento para controlar a inflação. Quando a economia está aquecida, os consumidores têm dinheiro para gastar. Assim, a procura por bens e serviços aumenta e há dificuldade da indústria, do comércio e do setor de serviços de suprir esse consumidor na mesma proporção do aumento da demanda.

Com isso, a tendência é de que preços aumentem, o que significa inflação. O Copom, então, eleva os juros para tornar o ambiente menos favorável ao consumo e ao investimento e para estimular pessoas e empresas a poupar. Com isso, é possível conter a expansão considerada excessiva da demanda. O comitê também pode não mexer nos juros básicos quando acredita que o patamar da taxa é suficiente para gerar equilíbrio entre o que se produz, o que se compra e os preços praticados. Ou ainda reduzir a taxa Selic se o objetivo for aquecer o mercado consumidor e estimular a atividade econômica.

Newton Marques explica que conhecer o efeito da Selic é necessário não somente para as empresas, que precisam tomar decisões, mas também para os cidadãos. Ele lembra que a Selic é “o piso” das taxas de juros de operações como empréstimos e aplicações financeiras. Quando a Selic sobe, a tendência é de aumento dos juros cobrados nos financiamentos oferecidos pelos bancos, como empréstimos pessoais e crédito para compra de imóveis, automóveis e bens duráveis.

Em situação de aumento de juros e de preços, os consumidores devem evitar consumo e empréstimos. Na avaliação de Marques, mesmo com a expectativa de manutenção da Selic, é hora de evitar gastos desnecessários, uma vez que é preciso aguardar qual será a política econômica adotada por quem ganhar as eleições para a Presidência da República, em outubro.

Além da Selic, outros aspectos são levados em consideração na definição dos juros cobrados pelos bancos para os empréstimos aos consumidores, como risco de inadimplência, os impostos cobrados pelo governo e a parcela de lucro das instituições financeiras – chamado de spread bancário. A Selic também é usada nas operações entre bancos e serve de referência para os empréstimos que o governo toma, por meio do lançamento de títulos públicos.

Fonte: Agência Brasil