Bancos reduzem taxas dos cartões de crédito, mas pode haver ‘armadilhas’

As quedas nos juros tem sido uma exigência imposta pelo governo, mas os bancos podem tentar compensá-las cobrando tarifas mais caras

São Paulo – Nesta semana, dois dos maiores bancos privados do país, o Bradesco, na segunda-feira (24) e o Itaú Unibanco, hoje (26), anunciaram redução nas taxas de juros de seus cartões de crédito. Eles “seguiram” as reduções anunciadas pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal no início de setembro. E, ao que tudo indica, novas reduções por parte de outros bancos particulares devem vir nos próximos dias.

As quedas nas taxas de juros bancários tem sido uma exigência imposta pela presidenta Dilma Rousseff e pelo Banco Central, os quais, para pressionar os bancos particulares, reduziram as tarifas nos bancos públicos. Os bancos privados, por sua vez, alegavam que a ameaça de inadimplência era grande, o que o tempo mostrou não ser verdade.

“A Caixa Econômica provou o contrário. Não só reduziu as taxas de crédito, como aumentou o volume de operações de crédito ao mesmo tempo em que a inadimplência se manteve em 2%”, disse a economista do Dieese na subseção do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Cátia Uehara. “A Caixa ainda aumentou os lucros em 30% no primeiro semestre e já está falando em novas contratações e em expandir a rede de agências”, contou.

Nos próximos dias, outros bancos devem seguir esta tendência de redução, mas o consumidor deve ficar atento para não cair em “armadilhas”. “Isso porque, quando se trata de bancos, nada é de graça”, diz a economista. Segundo Cátia, alguns bancos estão estão fazendo mudanças no perfil de seus cartões, em alguns casos, reduzindo os juros do crédito rotativo, mas deixando de parcelar a compra.

Atualmente, cerca de 80% das compras feitas com com cartão de crédito no país são parceladas, o que mostra que esta é uma exigência do perfil do consumidor brasileiro. “Se os cartões deixarem de fazer o parcelamento, o país voltará a fazer compras parceladas em cheques pré-datados, como era feito antigamente”, alerta a economista.

Outra mudança adotada por alguns bancos é que, até então, o cartão tinha uma data de vencimento fixa e havia até um período chamado de “data boa para compra”, que correspondia ao maior período entre a data da compra e o vencimento da fatura. “Agora, alguns cartões já cobram a fatura alguns dias após a compra”, adverte. 

Tarifas mais altas

Cátia diz que o consumidor deve estar muito atento em relação às tarifas cobradas pelos bancos. “Muitas vezes os bancos reduzem as taxas de juros, mas aumentam o valor das tarifas ou criam novas como forma de compensar as perdas”, adverte.

Segundo a economista, nos balanços dos bancos deste primeiro semestre de 2012, as receitas de tarifas bancárias já mostraram um aumento considerável. “Para se ter uma ideia do montante obtido, só com a receita das tarifas os bancos pagam todas as suas despesas da folha de pagamento e ainda sobra o suficiente para pagar mais 30% desta mesma folha”, diz Cátia. “No caso do banco Santander, esta sobra é de 45%”, completa.

Isso porque, segundo Cátia, as tarifas bancárias são consideradas pelos bancos como uma “receita secundária”. “A principal receita dos bancos é da intermediação financeira, quando um banco, por exemplo, canaliza o dinheiro proveniente de depósitos para financiamentos”, conta.

A economista dá as seguintes dicas para o consumidor:

  • observe as tarifas cobradas e o que vai pagar adicionalmente;
  • confira quais são as vantagens e desvantagens de aquirir determinado cartão;
  • confira o que deixará de ter com o novo cartão (parcelamento das compras, por exemplo, ou data fixa de vencimento);
  • examine outras vantagens oferecidas (se o cartão oferece milhagem, por exemplo, pode ser vantajoso para um consumidor que tem um perfil que viaja bastante).

As reduções

O Banco do Brasil (BB) reduziu no início de setembro as taxas de juros para o parcelamento das faturas dos cartões Ourocard em cerca de 30%. As taxas saíram do patamar de 2,88% a 5,7% ao mês para o intervalo de 1,94% a 3,94% ao mês. Atenção neste caso porque para ter acesso às novas taxas do BB é necessário aderir ao programa “Bom pra Todos”, que cobra uma tarifa mensal cujo valor vai depender do perfil do cliente.

Após o BB, a Caixa Econômica Federal anunciou a redução nos juros do cartão de crédito. A redução taxa anual do rotativo dos cartões de crédito Caixa, chegou a 52%. Para o parcelamento de fatura o banco reduziu até 36,87% da taxa anual. Para o rotativo, as reduções variam entre 12,32% e 52,57%.

O Bradesco anunciou na segunda-feira (24) uma redução de 53,7% na taxa do rotativo de seus cartões de crédito. Os juros cairão dos 14,9% atuais para 6,9%, a partir de novembro. O Itaú Unibanco lançou o Itaucard 2.0, cuja taxa de juros é fixa em 5,99% ao mês. A instituição prometeu hoje que até o final do ano todas as taxas de rotativo estarão em até 9,9% ao mês.

Os bancos HSBC e Santander já avisaram que também estudam alterar as taxas dos empréstimos em seus cartões.

Hoje, o Banco Central divulgou que a inadimplência média do consumidor ficou estável em 5,9% em agosto após leve alta em julho. Este dado leva em conta operações de pessoas físicas e jurídicas. Já o indicador relativo às operações apenas com pessoas físicas ficou em 7,9% no mês passado, mesmo índice do mês anterior.

Leia também

Últimas notícias