arautos da crise

Ladislau Dowbor: mercado financeiro aposta no quanto pior, melhor

Turbulência política atende aos interesses do capital especulativo, que ganha com juros altos e privatizações em cenário pós-golpe

reprodução/TVT

‘Todo esse processo interessa aos que especulam. O pessoal está sentindo o cheiro do dinheiro pela frente’

São Paulo – Segundo o professor de economia da PUC-SP Ladislau Dowbor, a crise política também prejudica a retomada econômica, já que os agentes do mercado financeiro entraram no jogo do “quanto pior, melhor”. O professor afirma que a situação que ficou clara na última sexta-feira (4), quando do depoimento forçado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Operação Lava Jato, dia em que a Bolsa de Valores de São Paulo registrou alta nas negociações e o dólar caiu, chegando a R$ 3,76, o menor valor desde o início de dezembro do ano passado.

Dowbor afirma que o ímpeto golpista, se bem-sucedido, aponta para mais privatizações e taxas de juros ainda maiores, o que significa mais dinheiro para acionistas, rentistas e especuladores em geral. “Todo esse processo interessa aos que especulam sobre a economia essencialmente. O pessoal está sentindo o cheiro do dinheiro pela frente”, diz Dowbor, em entrevista à repórter Vanessa Nakasato, para a edição de ontem (7) do Seu Jornal, da TVT.

Para ele, especuladores financeiros fazem pressão sobre as instituições políticas para manter um sistema econômico favorável ao ganho de grandes capitais, sem nenhum compromisso com a geração de emprego e renda, nem com a distribuição de riqueza no país. “O pior entrave que eles conseguiram colocar com toda força é elevar a taxa Selic (taxa básica de juros), que é uma taxa sobre a dívida pública, que capta dinheiro dos nossos impostos e remunera os bancos.”

Nós temos as nossas poupanças nos bancos, que nos pagam uma merreca. O banco pega  esse dinheiro, aplica em títulos do governo que pagam 14,25%. Isso está significando cerca de 500 bilhões de reais, em 2015, sendo transferidos do governo para os bancos”, explica o professor.

Os rendimentos elevados garantidos pelas altas taxas de juros desestimulariam assim o investimento produtivo. “O empresário pensa o seguinte: Em vez de produzir sapato, bicicleta, ou o que quer que seja, posso colocar o dinheiro para render com a taxa Selic, com risco zero, liquidez total, me rende 14,25%.”

Ladislau afirma que a operação Lava Jato traz consequências negativas à economia do país, ao causar paralisia em grandes empresas, como a Petrobras e as empreiteiras envolvidas, e que seria possível coibir tais práticas com investigações, mudança do sistema de auditória das grandes empresas e a prisão dos envolvidos, mas sem estabelecer o travamento das mesmas.

O professor considera que todo esse ambiente de crise econômica só será superado se os setores produtivos deixaram de apostar no jogo político, que visa à troca de governo, para investir no desenvolvimento do país. “Eu diria que é um golpe em câmera lenta o que a gente está assistindo, o que é extremamente grave”, conclui.

 


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