RAP NACIONAL

Em ‘Quartzo’, rapper Cristal transparece seus sentimentos e energiza carreira

Em sete faixas, artista gaúcha apresenta projeto recheado de dualidades e diferentes ritmos musicais

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Nascida no bairro Vila Nova, na zona sul de Porto Alegre, Cristal iniciou sua trajetória aos 15 anos, através dos slams de poesia falada

São Paulo – A música é uma canalizadora de energia e, assim como cristais e pedras, também possui propriedade terapêutica, capaz de recuperar a vitalidade. É dessa maneira que a rapper Cristal Rocha, conhecida apenas como Cristal, contextualiza o EP Quartzo, seu trabalho de estreia que busca expor seus sentimentos, curar algumas feridas e, acima de tudo, energizar o sua carreira que está só começando.

Nascida no bairro Vila Nova, na zona sul de Porto Alegre, Cristal iniciou sua trajetória aos 15 anos, por meio dos slams de poesia falada. Em 2017, já mostrou seu talento ao se tornar campeã regional. Dois anos depois, estreou na cena do rap, com o single Rude Girls e, meses depois, conquistou os holofotes com a música Ashley Banks, exaltando emporedamento e autoestima.

Hoje, aos 19 anos, Cristal colocou seu primeiro projeto na rua: o EP Quartzo. Nas sete faixas, a rapper gaúcha explora diferentes sonoridades e sentimentos. O título é um trocadilho com o seu próprio nome e diz que, na infância, colecionava cristais, reforçando a simbologia mística das pedras e a energia que eles representam em cada tipo.

Na capa do disco, por exemplo, ela apresenta seis tipos de cristais, como a ametista, o quartzo verde e o citrino. As pedras, segundo ela, são capazes de fortalecer a coragem, o bem-estar, o amor e até a prosperidade. Portanto, com a união entre o misticismo das pedras e a potência da música, Cristal cria um trabalho transparente, para se apresentar à cena, mas também com o objetivo de construir algo sólido ao longo prazo. Confira a entrevista:

Desde cedo, você alimenta um contato grande com a poesia, vencendo slams, e a poesia é um movimento cultural que exige empatia e sensibilidade por parte do artista. Você acredita que essa raiz, como poeta, ajudou-a a levar uma sensibilidade lírica ainda maior pro seu rap?

Com certeza. Escrevo desde muito nova e, através do slam, comecei a expor meus sentimentos e criei uma maturidade para saber falar. A poesia é um espaço mais político e exige um conhecimento sobre o cotidiano, ou seja, aumenta a responsabilidade no que você diz. E isso aumentou muito essa maturidade em mim. A poesia criou muito esse terreno lírico.

Você colocou no título o nome de uma pedra que afasta as energias negativas e atrai tranquilidade. Como esse é seu primeiro trabalho, é possível afirmar que elementos trazidos pelos cristais são aspirações que você busca para sua carreira?

Quartzo é um projeto pessoal. Por ser um disco de estreia, coloquei a questão dos cristais e energias, porque é uma coisa que me acompanha desde pequena. As pedras são formas de energização, de cura, e percebi que a música também era minha cura. Então, pra ser algo não só profissional, quis trazer algo pessoal e atrair coisas boas para um primeiro trabalho.

Você surgiu na cena com Ashley Banks e Rude Girl, faixas que tratam mais de um empoderamento e autoestima. Porém, o EP apresenta um seu lado mais frágil. Quando você viu a necessidade de expor essa fragilidade?

Em Quartzo, eu começo rimando: “Já tenho a atenção que já sonhava em ter”. Os passos não foram planejados, mas sabia que me sentiria a vontade para falar sobre assuntos que já tinha vontade. Nas minhas primeiras músicas, sou eu olhando para o externo, são músicas mais para curtir do que refletir.

Porém, Quartzo foi feito na época do isolamento social, onde tive que viver comigo mesma. As coisas que deixei passar, por causa da correria do dia a dia, começaram a me rondar e vi que precisava me cuidar. A música foi uma forma de expor isso. Quartzo é uma conversa e ser verdadeira comigo mesma.

Nas duas primeiras faixas do disco, você diz: “Salvando essas letras pra me salvarem um dia” e “a música é seu fim e sua esperança”. É um exemplo desse processo de ‘se cuidar’ por meio da música?

Eu trago um pouco essa dualidade porque, quando escrevo uma música triste é um reflexo do auge daquela tristeza. Tudo que escrevo vem daquele lugar ruim que não havia olhado antes, a música é um produto, é uma marca disso.

Muitas vezes já escrevi uma letra achando que seria a última, quer seria meu fim, mas depois de um tempo olhei para ela e pensei: “Consegui!”. Isso é saber olhar para a dor e registrar aquele momento através de uma música. A dor se eterniza na arte e, ao mesmo tempo, olhar para frente e seguir caminhando. Portanto, a música se torna um método de cura.

O EP Quartzo também apresenta mudanças de cadência constantes entre o rimado, o cantado, o rap. Nas letras, você é sentimental, mas também combativa. Esses diferentes ritmos e atmosferas fazem parte do desejo de criar um trabalho de dentro pra fora?

O disco juntou duas coisas: a vontade de falar e me expressar, além da necessidade de mostrar meu verdadeiro ‘eu’, apresentando novos tipos de musicalidades. Eu estava experimentando novos tipos de música, mas havia uma insegurança, pois não é o estilo que recebe mais plays do público.

Então, a gente largou essa preocupação para fazer músicas boas e abriu um espaço para a complexidade de lançar um pagode depois de um rap, porque essa é a minha vida. Às vezes, tô ouvindo rap e emendo com um samba, e resolvi expor essa variedade no meu trabalho. Essa é a Cristal e quem for consumir o EP vai entender esse processo.

Falando um pouco sobre a faixa ‘Lá Em Casa’. Essa música é uma espécie de válvula de escape, onde você busca a inspiração que tem em casa?

Se você pegar as letras numa ordem, vai entender o sentido de tudo. Na primeira música “Ametista”, eu começo gritando, isso mostra que tenho muito a falar. Nas próximas faixas, eu falo sobre o externo e eu mesma. Então, quando chega “Lá Em Casa”, sou eu me curando de tudo isso. É quando chego em casa e vejo que as coisas são mais simples e leves do que parecem ser. É um ponto de respiro e calma.

Após dois anos de ter surgido na cena, você segue alcançando novos patamares rapidamente. Quais os próximos passos planejados para administrar isso e continuar andando pra frente?

Aprendi a ter paciência. Quartzo foi um processo que demorou dois anos, o que foi bom. Mudei muita coisa, muitas ideias. Então, ainda tenho alguns objetivos, como lançar um álbum e para ele já tenho ideias desde 2019, mas estou guardando e vivendo cada momento. O mais importante é ter paciência, porque afobação não vai ajudar em nada, só vai atrapalhar nessa lapidação.