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‘Paul Singer – Uma Utopia Militante’: documentário expressa a coerência do professor

Construção solidária – “A beleza do processo pelo qual o filme sobre Paul Singer se fez se tornou mais forte do que os ventos contrários à sua realização”, diz Amir Labaki

Jailton Garcia/RBA (2006)
Jailton Garcia/RBA (2006)
Paulo Singer foi um dos maiores incentivadores da economia solidária no Brasil

Sã o Paulo – O festival É Tudo Verdade exibe até a meia-noite deste domingo (18) o documentário Paul Singer – Uma Utopia Militante. Dirigido por Ugo Giorgetti, o filme retrata um dos economistas mais respeitados do Brasil. Da fuga da família de judeus da Áustria ocupada pelos nazistas em 1938 – quando Paul Israel Singer (1932-1918) tinha 6 anos – a sua condição de uma das principais referências da economia solidária no Brasil. Entre um momento histórico e outro, passa por sua experiência como operário da Elevadores Atlas e sua formação intelectual autodidata antecedendo ao ingresso na Faculdade de Economia da USP.

O filme retrata a convivência serena com pensadores de diferentes matizes, como Delfim Netto (“hoje todos somos um pouco marxistas”) e José Arthur Giannotti (um dos principais formuladores do pensamento liberal do PSDB). E acentua uma conexão permanente entre a teoria e a prática de Singer como intelectual e como gestor público. Foi secretário de Planejamento da gestão de Luiza Erundina (1989-1992) e secretário Nacional de Economia Solidária durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff (2003-2016).


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“Ele é pura inteligência. Tem um belo nessa inteligência que não é todo mundo que capta. Se você não achar que inteligência é beleza, sai fora desse documentário. Porque ele é só isso: um homem pensando”, diz Ugo Giorgetti. E um homem sempre em busca da prática. Um pensador e um fazedor, como definem os diversos entrevistados do filme. Como o próprio Giannotti, que assinala a lealdade de Paul Singer às próprias ideias. “Era um operário. Era o único intelectual que eu conheço que começou em chão de fábrica. Fez eletrotécnica (no Colégio Getulio Vargas) porque queria ir para Israel ajudar na criação dos kibutz. E acabou que resolveu não ir para os kibutz. ‘Para fazer o socialismo, eu faço aqui’, dizia. Então, a vivência dele, embora aparente que não tem drama, ela tem. Primeiro a ação, em segundo lugar o pensamento, um pensamento cristalino.”


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Giorgetti lembra do testemunho da professora Lisete Arelaro, que foi candidata ao governo de São Paulo pelo Psol em 2018. “Ela diz que o Paul Singer era um professor que todo o saber dele era empregado para dar clareza ao que ele propunha. Nada era enigmático. Nós, mortais, entendíamos tudo. A beleza disso está no documentário. Tem um aspecto iluminista nele, na ambição de transformar o homem num ser que pensa sozinho”, observa o diretor. “Esse filme é isso: nada mais é do que uma notícia sobre uma pessoa singular e que precisa ser conhecida. E que podem ser feitos 10 filmes sobre ele. Um filme que diz o seguinte: ‘Senhores, existe Paul Singer na cultura brasileira’. Com muito orgulho para o Brasil, inclusive, onde existe uma necessidade desse tipo de gente. É um sujeito tão invulgar que preencher um vazio deixado pelo Paulo Singer não é fácil.”

A formação do grupo de estudos para a leitura de O Capital, por exemplo, já vale um documentário, sugere Ugo Giorgetti. “Outro documentário poderia ser a greve de 1953, a primeira greve que a Justiça do Trabalho disse ‘olha, vocês ganharam’. Uma greve enorme em São Paulo da qual ele foi um dos pilares. Tem outro documentário, que é a economia solidária, que está aí, seria falar do presente.”


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Ugo Giorgetti vê no filme sobre Paul Singer outros 10 documentários (Divulgação)

A campanha de financiamento coletivo para a filmagem do projeto Paul Singer – uma história do Brasil –, começou no final de maio de 2017, por iniciativa dos economistas Fernando Kleiman e Marcos Barreto. A ideia era reunir R$ 130 em 40 dias e entregar a condução do projeto a Ugo Giorgetti, autor de, entre outros, Uma Noite em Sampa (2016), Cara ou Coroa (2012), O Príncipe (2002) e Boleiros – Era uma Vez o Futebol (1998).

Giorgetti conta que a ideia do documentário não foi sua, mas que foi seduzido por Paul Singer. “Essa maneira que eu acho necessária. Essa tolerância. Esse método de não impor a ninguém uma ideia. Ideias não se impõem. Você assimila, e se convence ou não. Ele leva isso à extrema consequência quando define o Estado. O Estado não pode impor um regime. O socialismo, por exemplo, é que tem de se impor como uma construção da população. Não pode ser decretado”, explica.

O jornalista e crítico de cinema Amir Labaki, organizador do É Tudo Verdade, vê o processo de construção do filme como um “protótipo cinematográfico” das ideias que o próprio filme propõe: a construção gestada e colhida de maneira solidária e compartilhada. “A produção do filme expressa a lógica do personagem Paul Singer. Não só a beleza do próprio filme, mas a beleza do processo pelo qual esse filme se fez se tornou mais forte do que os ventos contrários à sua realização”, define, na conversa com Ugo Giorgetti, que pode ser assistida na íntegra abaixo.

Como assistir Paul Singer – Uma Utopia Militante

  • Disponível (de graça) até a meia-noite deste domingo (18)
  • No Sesc em Casa
  • Acesse o site www.etudoverdade.com.br e clique em “Programação”
  • Clique no filme escolhido e você será direcionado para a página do filme na plataforma Sesc Digital