Violência no campo

Sindicalista em Mato Grosso do Sul é ameaçado de morte

Ameaças seriam represália a mobilização de entidades do estado contra leilão destinado a arrecadar dinheiro para milícias de fazendeiros

Fetems/CUT/Reprodução

O presidente da Federação dos Trabalhadores em Educação durante pronunciamento na Assembleia Legislativa

São Paulo – O professor Roberto Botareli, presidente da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (Fetems-CUT), denunciou hoje (5) à Polícia Federal em Campo Grande que vem sofrendo ameças de morte e intimidações desde ontem. De acordo com informação divulgada pela CUT, apesar da gravidade da situação, o delegado se recusou a recebê-lo e o boletim de ocorrência foi registrado pelo escrivão de plantão. O presidente da central, Vagner Freitas, solicitou, por meio de ofício ao Ministério da Justiça e à Secretaria-Geral da Presidência da República, garantia de proteção ao dirigente e investigação das denúncias.

O presidente da Fetems conta que, por volta das 7h, foi procurado na sede da federação por um motoqueiro que se apresentou como jornalista, sem mostrar identificação. Pelas perguntas, o motoqueiro deixou claro que sabe detalhes da rotina do sindicalista. Quando a recepcionista disse que ele não estava, o rapaz perguntou: “Ele não está fazendo a caminhada que faz todos os dias?” Ontem, uma pessoa que se identificou como Maurício Pistoleiro já havia telefonado para a entidade e ameaçado o dirigente de morte.

A diretoria da federação atribui as ameaças e intimidações ao fato de a entidade apoiar os movimentos sociais que recorreram à Justiça local para impedir a realização de um leilão programado por fazendeiros da região no próximo sábado. Segundo os movimentos, o leilão teria o objetivo de arrecadar dinheiro para contratar seguranças armados para atuar nas áreas do estado onde há conflito de terras com indígenas. O telefonema ameaçador ocorreu momentos depois de a Justiça Federal no estado determinar a suspensão do chamado “Leilão da Resistência”, organizado pela Associação dos Criadores do Mato Grosso do Sul (Acrissul). A juíza Janete Cabral considerou o leilão um incentivo à violência fundiária.

“A Constituição proíbe a criação de milícias, e esse leilão teria um fim totalmente ilícito”, disse ontem o advogado das entidades, Luís Eloy, ao jornal Folha de S. Paulo. Ao conceder liminar impedindo o evento, a Justiça fixou multa de R$ 200 mil em caso de descumprimento da decisão. Ainde de acordo com o jornal, o presidente da Acrissul, Francisco Maia, teria considerado a decisão como atentado à democracia: “Bancos não contratam seguranças? Por que fazendas não podem contratar empresas especializadas?”

A Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul e a Acrissul informaram, durante entrevista coletiva, que irão manter o movimento da resistência programado para sábado. O presidente da Famasul, Eduardo Riedel, considerou legítimo o movimento dos produtores em defesa do direito da propriedade. “Se formos impedidos de nos unir para discutir nossos problemas, teremos a morte da democracia”, declarou, conforme publicou o blog Capital News. O evento já tem as presenças confirmadas de mais de 2 mil produtores, entre eles a presidenta da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), além da participação da “bancada federal, deputados estaduais e de lideranças rurais de outros estados”.

A disputa de terras entre índios e produtores rurais em Mato Grosso do Sul tem histórico violento. Segundo a Famasul, 80 propriedades estão ocupadas por indígenas. Em 30 de maio, o índio Terena Oziel Gabriel foi morto durante uma operação policial para retirada dos indígenas da Fazenda Buriti, no município de Sidrolândia.

Em setembro, durante a 6ª Conferência da Educação Pública, em Aparecida do Taboado, a Fetems homenageou Oziel e familiares. O Terena assassinado era estudante universitário e lutava pela retomada do seu território. Na ocasião, Roberto lamentou o fato de o estado concentrar mais de 50% dos assassinatos de índios no país. Disse que a 6ª conferência, além de espaço para debater o Plano Nacional de Educação, era também um momento ideal para reafirmar o compromisso da entidade com a diversidade, para discutir a educação no campo, na cidade, indígena e quilombola e, também, para fortalecer o compromisso das professoras, dos professores e dos dirigentes sindicais com uma escola pública inclusiva, democrática e comprometida com os valores da solidariedade e da igualdade.

A Federação dos Trabalhadores em Educação é a maior entidade sindical de Mato Grosso do Sul, reunindo 72 sindicatos municipais do setor, que representam 25 mil trabalhadores.

Com informações de Marize Muniz, da CUT