PF vai investigar redes neonazistas no Brasil, determina Flávio Dino
Ministro da Justiça e Segurança Pública informou decisão na madrugada desta quinta-feira, após indícios de uma atuação interestadual deste tipo de organização criminosa
Publicado 06/04/2023 - 10h06
São Paulo – O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, assinou um decreto para que a Polícia Federal instaure um inquérito para investigar organizações nazistas e neonazistas atuantes do Brasil. A determinação foi confirmada pelo ministro na madrugada desta quinta-feira (6) após indícios de uma rede interestadual deste tipo de organização criminosa.
“Assinei agora determinação à Polícia Federal para que instaure Inquérito Policial sobre organismos nazistas e/ou neonazistas no Brasil, já que há indícios de atuação interestadual. Há possível configuração de crimes previstos na Lei 7.716/89”, divulgou o chefe da Justiça em sua conta no Twitter.
A legislação citada por Flávio Dino abrange crimes como racismo ou resultantes de discriminação por etnia, religião e procedência natal e apologia ao nazismo e a discursos de ódio. O texto prevê pena de dois a cinco anos de prisão, além de pagamento de multa e prestação de serviços à sociedade.
Ataques em escolas
O pedido de investigação vem na esteira do ataque a uma creche em Blumenau (SC), nesta quarta (5), que resultou na morte de quatro crianças. Na tarde de ontem, o ministro se reuniu com equipes da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senap), do Diretório de Operações (Diop) e com presidentes da União Nacional dos Estudantes (UNE), da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG).
As entidades entregaram a Dino o documento “Paz nas Escolas” e debateram medidas contra os frequentes ataques que estão ocorrendo em escolas no Brasil nos últimos anos. Nove dias antes do ataque à creche em Santa Catarina, um estudante de 13 anos de uma escola estadual em São Paulo matou uma professora e feriu outras quatro pessoas com uma faca. Em dezembro, o Grupo de Trabalho da Educação do governo de transição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já havia contabilizado 35 alunos e professores assassinados em ataques pelo país desde o início dos anos 2000.
O documento, intitulado O ultraconservadorismo e extremismo de direita entre adolescentes e jovens no Brasil: ataques às instituições de ensino e alternativas para a ação governamental, revela como a extrema direita age para cooptar jovens nas escolas para a radicalização em sua ideologia.
Cooptação pela extrema direita
O perfil mais comum do cooptado por organizações de extrema direita, diz o relatório, é o do jovem, do sexo masculino, branco e heterossexual. Manipulados para converter sentimentos recorrentes da adolescência, como frustração sexual e raiva do mundo, em ódio, principalmente contra as mulheres. A cooptação, ainda segundo os especialistas, acontece de forma online, em fóruns, chats de vídeos e de jogos virtuais. “A opção por invadir uma escola não é mera coincidência ou fruto de uma escolha aleatória. As motivações incluem ódio às maiorias minorizadas e aproximação ideológica a teorias nazistas e fascistas”, destaca o texto.
Em resposta a a essa escalada de violência, o ministro da Justiça e Segurança Pública também anunciou nesta quarta o apoio financeiro de R$ 150 milhões às “rondas Escolares” das polícias estaduais e guardas municipais.
(*) Com informações do jornal O Estado de S. Paulo e Brasil de Fato