Chacina no Rio

‘Meu filho tinha problema cardíaco e morreu ao ver o irmão sendo torturado’

Famílias acusam PM do Rio por crueldade, tortura e execuções. 'Meu filho mais levou três golpes de faca e o mais velho, quatro. Me tiraram o direito de ser mãe'

TVT/REPRODUÇÃO

‘Enrolaram meu filho com um tapete e saíram arrastando ele pela escada’, relatou Eline, mãe de duas vítimas

São Paulo – Familiares relatam abusos, constrangimento e violência excessiva por parte da Polícia Militar do Rio de Janeiro, durante ação que resultou em 13 mortes, na última sexta-feira (8). As famílias das vítimas foram ouvidas nesta terça (12) por representantes de diversos órgãos públicos. “Eles destruíram as motos dos mototáxis que tentaram ajudar. A gente tentou entrar no morro pelo outro lado e jogaram bombas em cima de nós, xingando todo mundo”, contou uma moradora, durante a reunião.

Uma equipe formada por membros da Defensoria Pública do Rio e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) esteve nas comunidades do Falé-Fogueteiro, no centro do Rio, para apurar violações de direitos humanos decorrentes da violência policial.

Para os moradores, a operação policial teve contornos de crueldade, tortura e execuções. Ao menos 13 foram mortos, alguns enquanto dormiam. “Fui comprar pão, e eles (policiais) entraram em casa e mataram meus filhos. Quando eu cheguei em casa, não deixaram entrar e falaram para eu chorar por eles. Meu filho menor tinha problema cardíaco, morreu ao ver o irmão sendo torturado. Eles enrolaram meu filho com um tapete e saíram arrastando ele pela escada”, contou Eline Vicente da Silva, mãe de duas vítimas.

Eline conta que não tem coragem de entrar em casa. Nas paredes ainda é possível ver as marcas de disparos e de que não há sinais de arrombamento, ou seja, não houve resistência por parte dos jovens.

Com as certidões de óbitos, os familiares apontam as contradições da versão policial de que haveria confrontos e as mortes ocorrem em legítima defesa. Ferimentos a faca, tiros na perna e sinais de espancamento são usados como prova para mostrar que houve rendição antes da execução.

“Os meus dois filhos foram executados. Meu filho mais novo com três golpes de faca e o mais velho, com quatro no tórax. Não dá para mensurar o que estou sentido, me tiraram o direito de ser mãe”, relatou outra mãe, que não quis se identificar.

A Divisão de Homicídios já ouviu policiais envolvidos na ação, recolheu armas e as encaminhou à perícia. Agora, estão sendo ouvidos testemunhas e familiares.

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