Capitão do Carandiru diz que ordens partiram de Ubiratan e que desconhece autoria de disparos

Primeiro réu a depor afirma que não queria participar de operação, recorda visibilidade baixa dentro do pavilhão e nega ter usado metralhadora que carregava

Advogada de defesa, Ieda Ribeiro de Souza, orientou a maior parte dos réus a manter silêncio para não “cansar” os jurados (Foto: Marcelo Camargo/ABr)

São Paulo – O primeiro réu a depor no Tribunal do Júri sobre o massacre do Carandiru, em São Paulo, afirmou que partiram do comandante da operação, coronel Ubiratan Guimarães, as ordens para a operação que resultou na morte de 111 presos da Casa de Detenção, localizada na zona norte da capital paulista. Durante depoimento no Fórum Criminal da Barra Funda, hoje (19), o então capitão da Rota, Ronaldo Ribeiro dos Santos, afirmou ainda que não sabe quem disparou contra os detentos.

Hoje aposentado, o policial contou que foi chamado a uma reunião com o coronel Ubiratan, que à época comandava as Rondas Ostensivas Tobias Aguiar, a Rota. Segundo Ronaldo, partiu de Ubiratan a determinação para ocupar o segundo pavimento, um operativo comandado por ele, e no qual houve mortes.

O capitão da reserva disse aos jurados que logo à entrada do presídio foram ouvidos barulhos de tiros, o que levou a que a Rota fosse colocada na linha de frente, já que o Batalhão de Choque, segundo ele, não estava usando armas de fogo. “Na verdade, não, não queria (participar da operação), porque a gente sabe que normalmente é usado o Choque. Mas, para cumprir determinação, ficamos lá”, disse, quando questionado pela advogada de defesa, Ieda Ribeiro de Souza.

Ronaldo disse que portava um revólver e uma metralhadora. Ele garantiu, porém, não haver usado a metralhadora – a perícia mostrou munição desse tipo de armamento nas paredes, e sabe-se que havia apenas mais uma arma assim entre os policiais. O responsável pela operação naquele pavimento disse ainda que a visibilidade era muito baixa porque o local estava escuro, e que em dado momento ele notou que presos vinham na direção dos agentes de segurança, o que levou a que disparasse por três vezes, mas sem que se saiba se alguém foi atingido. 

Ao final da operação, que durou de 10 a 15 minutos, segundo o relato, Ronaldo percorreu o pavilhão e encontrou três detentos mortos. Ele disse, no entanto, que desconhece a autoria dos crimes. Depois disso, afirma, ele se retirou do local porque o pelotão que estava nesta ação era normalmente comandado por outro policial.

Hoje serão ouvidos quatro dos 26 réus. Dos 24 que se apresentaram ao fórum – dois serão julgados à revelia –, 20 decidiram não prestar novo depoimento. “Por orientação da minha advogada e para não cansar os senhores jurados, prefiro permanecer em silêncio”, disseram, um a um, quando questionados pelo juiz José Augusto Marzagão.

Amanhã (20) devem ser realizados os debates entre defesa e acusação. Um acordo entre a advogada e o Ministério Público deve limitar a cinco horas o tempo disponível para cada parte. Isso foi necessário depois que o prazo previsto de julgamento acabou não se cumprindo por causa do mal-estar de um dos jurados, que na quarta provocou a interrupção do júri até o dia seguinte.

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