Julgamento

Ex-capitão da PM diz que presos atiraram em agentes no Carandiru

Coronel diz durante júri que chegou a entrar em confronto com dois detentos e que foi ferido por estiletes e paus

Agência Brasil

A advogada de defesa mostrou fotos de escudos balísticos, usados pelos policiais, com evidências de tiro

São Paulo – Primeiro réu interrogado na segunda etapa do julgamento do massacre do Carandiru, o coronel Valter Alves de Mendonça deu hoje (31) sua versão sobre os fatos ocorridos no terceiro pavimento do Pavilhão 9 da Casa de Detenção do Carandiru, na zona norte de São Paulo. Ele foi o primeiro dos cinco acusados que devem depor hoje, e falou durante quase três horas. Os outros 20 devem se reservar o direito de permanecer calados durante o júri popular no Fórum Criminal da Barra Funda, na região central da capital.

Capitão da 3ª Companhia do 1º Batalhão de Choque das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota), Mendonça disse ter estudado o caso porque estava ali “defendendo sua liberdade” e mudou detalhes de depoimentos dados em outros momentos do processo ou durante investigação militar.

Alves de Mendonça era capitão em 1992 e comandava um dos agrupamentos que atuaram para debelar a rebelião do Carandiru. Segundo Mendonça, ele foi chamado ao Carandiru por volta das 15h. Inicialmente, o plano de invasão foi feito pelo Coronel Ubiratan Guimarães, em que ficou determinado que a Rota fosse a última a entrar no pavilhão. O plano, no entanto, foi alterado instantes antes da operação e informado a Mendonça pelo coronel Farolo.

Segundo o PM, a maior preocupação do então diretor, José Ismael Pedrosa, era que a rebelião chegasse ao Pavilhão Oito, onde estariam os presos mais perigosos, e também que houvesse fuga em massa. “Ele andava de um lado para o outro, eu percebi que ele [Pedrosa] queria intervenção. Disse que o Pavilhão Nove estava incontrolável.”

Mendonça afirma que, ao entrar no corredor esquerdo do pavimento, os presos começaram a correr no sentido contrário das tropas e a entrar nas celas. Ainda assim, seu agrupamento participou de quatro confrontos. Um apenas com luta corporal, em que ele foi ferido com estiletes e um porrete. E três com troca de tiros. No último, no entanto, ele não teria participado. Nesses confrontos, seis policiais teriam se ferido contra “dez, 11 ou 12” presos. O militar afirmou ter recolhido duas armas caídas ao lado dos detentos.

A advogada de defesa dos réus mostrou fotos aos jurados em que escudos balísticos, usados pelos policiais, apresentavam evidências de tiro. Para ela, uma prova irrevogável de que presos atiraram. Mendonça afirmou ter disparado cerca de cinco tiros de maneira intermitente com uma submetralhadora em resposta a estampidos e clarões que viriam de cerca de seis tiros disparados pelos presos.

O ex-capitão disse que entrou em dois confrontos com os presos e chegou a ser ferido. “Levei pauladas e estiletadas. A paulada foi na perna e fui cortado por estiletes no braço”. Contra sua equipe, nos dois confrontos, ele diz que foram disparados oito tiros. Valter declarou que não viu disparos do corredor, feitas por policiais, para dentro das celas. “Fiquei lá [no corredor] por 15 minutos, no máximo”, disse ele.

Após o ocorrido, Mendonça disse que levou presos e policiais feridos em sua viatura ao Pronto-Socorro de Santana. “Eu fui medicado e liberado, retornei para o presídio, mas não pude mais entrar”. O ex-capitão disse, além disso, que recolheu de dez a 12 presos mortos. Quanto aos policiais, ele disse que viu dois sargentos, dois soldados e um major serem feridos no confronto. Mendonça informou ainda que duas armas de presos foram apreendidas por ele.

Com informações da Agência Brasil