Propostas de governo: Chalita traz plano tradicional para habitação e mobilidade

Candidato aposta em proposições tradicionais e não se diferencia (Reprodução) Continuando com a análise dos planos de governo dos candidatos à prefeitura de São Paulo, li as propostas de Gabriel […]

Candidato aposta em proposições tradicionais e não se diferencia (Reprodução)

Continuando com a análise dos planos de governo dos candidatos à prefeitura de São Paulo, li as propostas de Gabriel Chalita, do PMDB, para a cidade. Já fiz o mesmo com os planos de Fernando Haddad, Paulinho da Força e Celso Russomano

A proposta de Chalita começa com uma bela defesa da importância da instância municipal de governo – em oposição às esferas estadual e federal – na vida das pessoas. Pode parecer um pouco óbvio, mas é sempre bom lembrar que é na cidade que os problemas dos cidadãos se apresentam e podem ser solucionados. O documento também defende que a cidade falhou em buscar caminhos alternativos depois que a desindustrialização transformou-se em um fato. A cidade hoje tende a concentrar mais serviços do que indústrias, mas as políticas públicas não acompanharam esse fato. Esse é um dos grandes desafios para os próximos prefeitos.

O plano do PMDB é dividido em quatro temas: educação, habitação, mobilidade e acessibilidade e saúde. A parte de habitação contou com a colaboração da geógrafa Maria Adélia de Souza, professora da Universidade de São Paulo e alinhada com o pensamento de Milton Santos. Isso traz às propostas do candidato embasamento teórico e qualidade, apesar de faltar um pouco de profundidade e detalhamento. O programa prevê a criação de um Grupo Executivo da Habitação, composto por diversos órgãos da prefeitura, de movimentos sociais e sindicatos, com o objetivo de facilitar a construção de moradia pela iniciativa privada. Ele defende também usar recursos do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) para construir moradias para pessoas em área de risco, além de aproveitar melhor os recursos o Programa Minha Casa, Minha Vida, que até agora não entraram com força na capital paulista. Aliás, está nas entrelinhas de todo o plano a tentativa de mostrar que o candidato pretende manter um bom relacionamento com o governo federal, o que não se dá há muitos anos na cidade.

Outra promessa é a transformação em moradia de 10 mil imóveis subutilizados no Centro, além da construção de unidades habitacionais de interesse social em bairros ao redor do Centro, como Bom Retiro, Liberdade e Mooca. 

Uma proposta que pode ser polêmica é a revisão do Plano Diretor da cidade e da criação de um novo zoneamento. Não é possível saber quais as mudanças que o candidato gostaria que acontecessem, já que não é exposta nenhuma crítica à legislação atual. De qualquer forma, não acredito na necessidade de mudança. O Plano Diretor da cidade é de boa qualidade e, até hoje, foi muito pouco respeitado. Um exemplo são as Zonas Especiais de Interesse Social, onde só é possível levantar empreendimentos comerciais se houver também a construção de moradias populares. Essa regra está sob ataque há tempos (e está prestes a ser votada na Câmara dos Vereadores. Mais detalhes aqui). Apesar de revisões de pontos específicos possam acontecer, não acredito na necessidade de mudar a lei que já existe. Por fim, essas mudanças só podem acontecer em votações na Câmara, o que faz com que qualquer proposta do Executivo tenha que passar pelo crivo dos vereadores.

As propostas para mobilidade e acessibilidade também não trazem grandes novidades. Chalita pretende modernizar a CET, dobrando seu orçamento. Defende novas ciclovias, calçadas melhores e automação de semáforos. Uma proposta interessante é a revisão dos itinerários dos ônibus, com base nos dados colhidos pelo sistema GPS já existente nos veículos e nas estatísticas de uso do Bilhete Único. 

O centro das ideias para a mobilidade é a criação de corredores de ônibus. Na verdade, a obra principal seria um corredor expresso entre a zona leste e o Centro, trajeto que levaria 30 minutos. Esse corredor funcionaria como escape para o metrô, já que acompanha o trajeto da Linha Vermelha. Criar corredores de ônibus é sempre positivo e existe grande demanda nessa região por um transporte público de maior qualidade. Não é uma proposta muito ousada, mas pode trazer alguma melhoria para quem se aperta no metrô diariamente.

De modo geral, as propostas de Chalita são tradicionais; não há nenhuma novidade em seu plano de governo. Pensando bem, o plano é a cara do PMDB: não erra nem se compromete com nenhum viés ideológico, mas tampouco inova.