Rio de Janeiro – A responsável por um dos principais documentos ambientais de nível global considera que a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável deixou em segundo plano a questão ambiental. Gro Harlem Brundtland, ex-primeira-ministra da Noruega, afirmou hoje (20), durante entrevista coletiva no Riocentro que a Rio+20 caminhou para trás em termos de preocupação com um dos pilares para o desenvolvimento sustentável, em especial no que diz respeito ao texto final aprovado pelos 191 países-membro.

“Quando você começa a ler, leva muito tempo até perceber que a terra tem limites, e que há fronteiras, e que a ameaça ambiental existe para toda a humanidade e deve ser levada a sério”, disse Bruntland, que atualmente integra um painel de especialistas montado pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para debater a questão energética relacionada ao desenvolvimento sustentável. “O desenvolvimento sustentável é uma combinação de uma perspectiva entre gerações que inclui a economia e questões sociais. O que estou dizendo não é que o conceito foi perdido. Ele está presente. É o pilar ambiental e as ameaças enfrentadas pela humanidade que não estão representadas com clareza.”

Como primeira-ministra da Noruega, ela encabeçou um processo de negociação global para fechar o documento “Nosso futuro comum”, lançado uma década antes da Eco-92, também no Rio. O texto já colocava uma visão crítica sobre o uso excessivo de recursos naturais e a incompatibilidade entre padrões de consumo e a capacidade da Terra de dar conta do fornecimento de matérias-primas.

Agora, para ela, os negociadores globais deveriam ter prestado mais atenção ao relatório finalizado pelo painel de alto nível composto por 22 especialistas. “Quero mencionar isso aqui porque está aqui na minha frente e precisa ser levado a sério. Os cientistas estão nos chamando a atenção sobre a necessidade de não esquecer os pontos de virada que a natureza produz”, apontou. “Estamos tendo o pilar do desenvolvimento econômico e social super-representado, lançando sombra sobre a ameaça ao meio ambiente.”