Dia sem Carro tira 1,5 milhão de veículos das ruas de Bogotá

Pontos de ônibus lotaram, enquanto avenidas ficaram vazias No dia de ontem (7), a cidade de Bogotá, capital da Colômbia, realizou o seu Dia sem Carro, evento que se repete […]

Pontos de ônibus lotaram, enquanto avenidas ficaram vazias

No dia de ontem (7), a cidade de Bogotá, capital da Colômbia, realizou o seu Dia sem Carro, evento que se repete há 12 anos. Enquanto em dias normais as avenidas ficam cheias de carro, ontem era possível ter uma outra perspectiva da metrópole. 

O Dia sem Carro de Bogotá é diferente do Dia Mundial Sem Carro que ocorre em setembro em várias cidades ao redor do planeta. Enquanto este último é um evento voluntário, na capital colombiana ele é uma lei. É de fato proibido usar o automóvel durante todo o dia. Quem não respeita leva uma multa de 350 mil pesos (cerca de R$ 380).

Para entender um pouco melhor como funciona o dia sem carro de Bogotá, conversei com minha colega de mestrado Solenne Cucchi. Francesa, Solenne passou os últimos dois anos trabalhando como coordenadora de projetos de mobilidade sustentável e meio ambiente para a Fundação Chevrolet. Ela trabalhou na preparação da cidade para o evento. Confira a entrevista abaixo:

Fiquei surpresa com a alta adesão da população ao Dia sem Carro, que é completamente diferente do que ocorre no Brasil. Qual o segredo dessa participação?

Acredito que o principal elemento para o êxito do Dia sem Carro em Bogotá é seu aspecto legal. Por lei, os carros particulares não podem circular a partir das 6h, assim como ocorre todos os dias com a medida “pico y placa” (rodízio). Qualquer veículo que circular pode ser parado e receber uma multa bastante alta. A medida nasceu no governo de (Enrique) Peñalosa.

Os moradores de Bogotá estão de acordo com essa medida? Existe algum tipo de resistência?

Muita gente em Bogotá não tem carro (a taxa de propriedade veícular é de apenas 17%). Por isso, a medida atinge apenas a uma parte minoritária das pessoas. A maior parte aceita e até apoia esse dia. Como já se vão 12 anos, há também o costume. Além disso, os cidadãos já estão acostumados a buscar alternativas ao carro, por conta do “pico y placa”.

Apesar das diferenças entre as duas ações – os dias sem carro em Bogotá e nas cidades brasileiras que aderem ao evento mundial – acho interessante comparar os casos. Em Bogotá, embora obrigatório, o dia sem carro conta com o apoio da população porque há muitos anos o sistema de transporte coletivo e também de transporte não motorizado é mais importante que a locomoção individual. Enrique Peñalosa, o prefeito que criou o dia sem carro, é conhecido mundialmente por transformar a antes perigosa Bogotá em um local mais agradável para morar. O Transmilenio, sistema de corredores de ônibus semelhante ao de Curitiba, foi adotado massivamente. Nas periferias, a prefeitura focava na construção de calçadas e ciclovias, enquanto as ruas continuavam a ser de terra. Tudo isso vem construindo uma cultura de transporte coletivo, não individual.

A mesma lei aplicada nas cidades brasileiras traria o caos. Seria incrível ver São Paulo sem carros, pelo menos por um dia. Mas não há transporte coletivo que dê conta de atender ao número de pessoas que hoje anda de carro. Além, claro, do fato de que a cultura do carro está tão entranhada nas pessoas que uma ação dessas jamais seria bem recebida. Pelo menos não atualmente.

Gosto de falar de Bogotá porque acredito que essa cidade pode nos servir de exemplo de muitas maneiras. É uma grande metrópole comparável a várias capitais brasileiras. A trajetória econômica dos países também tem suas semelhanças. O que foi aplicado lá poderia ser replicado por aqui. Bogotá é a prova de que a cultura do automóvel não precisa ser dominante.