Bolsa de Valores já vê Marina Silva como um Aécio de saias

Se passado ambientalista da candidata não combina com euforia especulativa, só há uma explicação: têm informações privilegiadas de que, com ela, teriam governo do mercado, pelo mercado e para o mercado

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Curiosamente, os especuladores da Bolsa de Valores ficaram mais eufóricos ainda com Marina do que com o tucano

Antes, quando diminuía a diferença entre Dilma Rousseff e Aécio Neves nas pesquisas eleitorais, os especuladores da Bolsa de Valores ficavam eufóricos, provocando alta nas ações das estatais. Viam em Aécio a certeza de que ele faria o que os tucanos sempre fizeram. Ora privatizam as empresas totalmente, ora transferem as fatias mais atraentes para a iniciativa privada, ora privatizam a gestão da estatal, como fizeram os governadores tucanos de São Paulo, Geraldo Alckmin e José Serra, com a Sabesp (empresa estadual de águas). Privilegiaram a distribuição de lucros para acionistas acima do razoável, sacrificando investimentos que levaram à falta de água nas casas das pessoas. O próprio Aécio Neves fez coisa semelhante na Cemig, priorizando aumentos draconianos das tarifas na conta de luz do cidadão e, com isso, distribuindo mais lucros aos acionistas acima do razoável.

Agora Aécio cai nas pesquisas e quem surge com chances de ameaçar a reeleição da presidenta é Marina Silva. Curiosamente, os especuladores da Bolsa de Valores ficaram mais eufóricos ainda. Pelo histórico pregresso de Marina, no mínimo os especuladores deveriam ficar cautelosos. Suas antigas posições sobre energia não eram exatamente expansionistas. Além disso, exigências ambientais sempre provocam custos mais altos nos empreendimentos, reduzindo o lucro. De certa forma as bandeiras ambientais são por natureza intervencionistas e regulatórias sobre a atividade econômica, coisa que quem prega o livre mercado tem ojeriza. Por que então as ações de estatais como a Eletrobras haveriam de subir? Difícil explicar se a Marina de hoje fosse a mesma do passado recente.

As bandeiras ambientais também têm restrições ao uso do petróleo. Por esse caminho a Petrobras deveria explorar o mínimo possível o pré-sal, e as ações deveriam cair caso Marina viesse a ser presidenta. Dilma tem um cronograma de investimentos ambicioso para Petrobras reconhecido pelo próprio mercado como atraente a médio prazo. Marina seria fator de incerteza para este futuro. Difícil explicar as ações da petroleira subirem com expectativas eleitorais positivas sobre Marina.

Só há uma explicação para os operadores da Bolsa de Valores se empolgarem com Marina: ela se rendeu às pressões e exigências do mercado tanto quanto Aécio Neves. O tucano escalou Armínio Fraga para ser o fiador de seu projeto, sinalizando ao mercado a certeza de como será seu governo. Marina Silva não disse em público quem seria seu ministro da fazenda. Eduardo Campos, antes de perder a vida, quando ainda era cabeça da chapa do PSB e Marina era vice, já havia dito publicamente que gostaria de ter o banqueiro Roberto Setúbal no cargo. Trata-se do presidente do Banco Itaú e irmão de Neca Setúbal, também acionista do banco, e coordenadora do programa de governo de Marina.

O comportamento da Bolsa mostra que o mercado financeiro tem informação privilegiada sobre como seria um governo de Marina, que o cidadão comum, eleitor, não tem. O mercado já vê Marina como um Aécio de saias. Os donos do Itaú tornaram-se para Marina mais do que Armínio Fraga representa para Aécio. Mais do que um avalista, tornaram-se um garantidor ao mercado de que, com ela, dariam cartas na área econômica – em um governo do mercado, pelo mercado e para o mercado.