Aquecimento global

Terra tem trimestre mais quente já registrado por cientistas

Ondas de calor extremo têm relação com o aquecimento global. Mudanças climáticas colocam a ONU em alerta máximo

Elza Fiúza/ABr
Elza Fiúza/ABr
"O Brasil tem que estar muito mais preparado para lidar com a intensificação destes eventos, para poder minimizar o dano às populações vulneráveis”

São Paulo – Um novo estudo alarmante revela que a Terra enfrentou o trimestre mais quente já registrado, com temperaturas da superfície do mar atingindo níveis sem precedentes e condições climáticas extremas. O relatório, divulgado nesta quarta-feira (6) pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), em parceria com o Serviço de Alterações Climáticas Copérnico, confirma uma agravante intensificação das mudanças climáticas e um aumento na frequência de ondas de calor.

As ondas de calor extremo, frequentemente agravadas por incêndios florestais e pelo transporte de poeira do deserto, têm consequências mensuráveis na qualidade do ar, na saúde humana e no meio ambiente.

O climatologista Álvaro Silva, com sede em Lisboa, comenta em entrevista à ONU News sobre a situação atual. Ele destaca que, embora preocupante, ainda há margem para a reversão desse cenário.

“Já se antevia. Este balanço que fazemos agora, no final do verão climatológico, que foi o mais quente que há registro já se esperava depois de um julho extremamente quente, o mais quente desde que há registro. E o mês de agosto foi o segundo mais quente e o agosto mais quente desde que há registro”, disse.

Ondas de calor

Os cientistas envolvidos na pesquisa conduziram uma análise abrangente das tendências globais recentes. Para isso, observaram um aquecimento generalizado em todas as bacias oceânicas e um aumento nas ondas de calor marinhas.

“Este balanço leva-nos a refletir e, sobretudo, a querer mais do ponto de vista da ação climática e de redução dos gases com efeito de estufa. Só com um aumento desta ambição, do ponto de vista de mitigação dos gases de efeito estufa, é que será possível atenuar. Então, depois contrariar esta tendência crescente de aumento da temperatura global”, completou o cientista.

De acordo com o estudo, a extensão do gelo marinho na Antártida permanece em um nível recorde para esta época do ano. No mês passado, a temperatura média global foi cerca de 1,5°C mais quente do que a média pré-industrial entre 1850 e 1900. O período de janeiro a agosto deste ano já é o segundo mais quente já registrado, seguindo 2016, após um intenso aquecimento causado pelo fenômeno El Niño.

Mais quente

No mês de agosto, foram registradas as mais altas temperaturas médias globais mensais da superfície do mar, atingindo 20,98°C. Todas as 30 temperaturas diárias durante o período superaram o recorde anterior, estabelecido em março de 2016.

Em uma declaração, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou que o planeta está enfrentando o verão mais quente já registrado. Então, disse que o “colapso climático” está em curso. Guterres enfatizou a importância de agir com urgência para evitar as piores consequências das mudanças climáticas.

Em relação à extensão do gelo marinho da Antártida, os registros indicam que se encontra em um nível historicamente baixo para esta época do ano, com uma anomalia mensal de 12% abaixo da média. Esse dado representa a maior anomalia negativa para o mês de agosto desde que as observações por satélite começaram na década de 1970.

Já a extensão do gelo marinho do Ártico ficou 10% abaixo da média. Isso, embora ainda esteja significativamente acima do mínimo recorde estabelecido em agosto de 2012.

Ainda em maio, um relatório conjunto da OMM e do Met Office do Reino Unido alertou que existe uma probabilidade de 98% de que pelo menos um dos próximos cinco anos seja o mais quente já registrado. Então, cientistas reforçam a urgência de ações para combater o aquecimento global.