Países pobres querem corte maior de CO2; ONU diz ser impossível

Barcelona – Os países em desenvolvimento afirmaram nesta quarta-feira (4) que correm risco de “destruição total”, a menos que as nações ricas intensifiquem a luta contra a mudança climática para […]

Barcelona – Os países em desenvolvimento afirmaram nesta quarta-feira (4) que correm risco de “destruição total”, a menos que as nações ricas intensifiquem a luta contra a mudança climática para um nível que a Organização das Nações Unidas (ONU) diz estar fora de alcance.

Mantendo a pressão sobre as negociações climáticas da ONU em Barcelona, os países pobres insistiram que as nações desenvolvidas cortem até 2020 as emissões de gases-estufa em ao menos 40% abaixo dos níveis de 1990 – muito mais do que o proposto.

A presidência sudanesa do Grupo dos 77 e a China, representando os países pobres, afirmaram que mesmo as ofertas mais ambiciosas feitas pela União Europeia eram muito fracas para um novo pacto climático a ser selado em Copenhague no mês que vem.

“O resultado disso é condenar os países em desenvolvimento a uma destruição total de seu sustento, de suas economias. As terras e florestas deles serão destruídas. E por qual propósito?”, questionou o sudanês Lumumba Sanislaus Di-Aping.

“Qualquer coisa abaixo de 40% significa que a destruição será oferecida à população e às terras da África”, disse ele em entrevista coletiva.

Até o momento, os países desenvolvidos planejam cortes entre 11% e 15% em média até 2020 a partir dos níveis de 1990. Os cortes buscam arrefecer a mudança climática, que pode provocar mais secas, inundações, aumento no nível das marés, ciclones mais potentes e disseminação de doenças.

No entanto, até mesmo a ONU afirma que cortes de 40% envolveriam uma mudança drástica demais. As nações africanas retomaram as negociações em Barcelona na terça-feira, um dia depois de um boicote parcial.

“Acho que chegar a menos 40 é uma suspensão muito pesada”, disse à Reuters Yvo de Boer, chefe do Secretariado de Mudança Climática da ONU. Uma mudança dessas exigiria “voltar à estaca zero” e economicamente “representaria um custo enorme”, acrescentou.

Mínimo

Di-Aping, no entanto, disse que “em termos reais e absolutos (o esforço) é mínimo”. Ele disse que os países ricos gastaram bilhões de dólares para resolver a crise financeira ou para melhorar a defesa.

De Boer afirmou que há uma chance de se fazer cortes maiores.

“Posso ver algum progresso sendo feito para tornar os números mais ambiciosos”, disse. Ele afirmou esperar que Rússia e Ucrânia, principalmente, revisem os cortes planejados.

Cortes de 40%, como exigido pelas nações africanas, “seriam extremamente difíceis”, disse Anders Turesson, chefe da delegação sueca que está na presidência rotativa da União Europeia.

“Mesmo se a União Europeia baixasse para zero seria extremamente difícil”, disse ele à Reuters. Ele também disse que é essencial que os EUA apresentem um número para os cortes norte-americanos até 2020 em Copenhague.

Os EUA são o único país fora do Protocolo de Kyoto, e o Senado norte-americano está debatendo um projeto de lei que cortaria as emissões em cerca de 7 por cento abaixo dos níveis de 1990.

Um painel da ONU com cientistas especializados em clima afirmou em 2007 que as emissões dos países desenvolvidos deveriam ser cortadas entre 25% e 40% até 2020 para evitar o pior cenário do aquecimento global.

Os países africanos afirmam que pessoas estão morrendo por falta de água e de alimentos e que o relatório de 2007 subestimou o compasso da mudança.

Fonte: Reuters