Diplomacia de volta

COP27: Lula fala em resgatar papel de mediador do Brasil no mundo em reuniões com China e EUA

Em seu primeiro dia no Egito, o presidente eleito discutiu sobre o fortalecimento da cooperação Sul-Sul com representante chinês e tratou da agenda climática em encontro com John Kerry. Lula também conversou com Pacheco

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
"Diga a Biden que o Brasil está de volta à agenda climática, ao cumprimento do Acordo do Paris. Seremos um ator importante na agenda internacional", garantiu Lula"

São Paulo – Antes de abrir a agenda oficial de compromissos na Conferência do Clima da ONU, a COP27, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se reuniu nessa terça-feira (15) com os enviados especiais do clima da China, Xie Zhenhua, e dos Estados Unidos, John Kerry, com os quais destacou a retomada da diplomacia brasileira. Segundo interlocutores que participaram das reuniões, o presidente afirmou que o Brasil como mediador do mundo está de volta. 

Os encontros com os emissários chinês e estadunidense se realizaram separadamente. Nas duas oportunidades, eles trataram também sobre a Guerra da Ucrânia. Na ocasião, Lula comentou que se China e Estados Unidos querem paz, as duas nações são capazes de criá-la. O presidente eleito recebeu as autoridades no hotel onde está hospedado em Sharm el-Sheikh, no Egito, onde ocorre a COP27. Ele chegou na madrugada desta terça para participar nos próximos dois dias do evento, a convite do presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, e do governador reeleito do Pará, Helder Barbalho (MDB). 

Lula abriu, contudo, as conversas diplomáticas com o representante chinês, discutindo também sobre o fortalecimento da cooperação Sul-Sul. Já com John Kerry, o presidente eleito teve foco na agenda climática, de acordo com informações do jornal Folha de S. Paulo. “Diga a Biden que o Brasil está de volta à agenda climática, ao cumprimento do Acordo do Paris. Seremos um ator importante na agenda internacional”, garantiu Lula, segundo presentes na reunião. 

Reunião com Pacheco

Antes da reunião com Lula, o enviado especial dos EUA disse estar “confiante” de que o futuro presidente vai promover uma “guinada completa” na política ambiental. A afirmação foi destacada em entrevista a BBC News Brasil, ao comentar sobre as pretensões do país em injetar recursos no Fundo Amazônia. “Estamos animados para trabalhar com ele e confiantes de que faremos tudo o que podemos (para preservar a Amazônia)”, destacou Kerry. 

Ainda ontem, Lula conversou por telefone com o presidente do Egito, com o qual mencionou a intenção de estreitar as relações entre os dois países. Ele também se reuniu com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Na reunião reservada, que durou cerca de 15 minutos, Lula defendeu retirar por quatro anos as despesas com o Bolsa Família do teto de gastos, que limita investimentos sociais. O grupo de economistas da equipe de transição do governo eleito deve fazer nesta semana a primeira reunião com parlamentares para discutir a tramitação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para viabilizar o pagamento do programa no orçamento de 2023. 

Compromissos climáticos

A agenda de Lula começa, porém, oficialmente neste quarta (16). Conforme reportou a RBAo presidente eleito se reuniu com os governadores da Amazônia e propôs que a COP de 2025 seja realizada no Brasil. A conferência teria acontecido no Brasil em 2019, mas foi cancelada por Bolsonaro ainda em 2018, logo após sua eleição. Lula também fará um pronunciamento na área da ONU, por volta às 12h15 (horário de Brasília). Amanhã, ele se encontra com representantes da sociedade civil brasileira e participa do Fórum Internacional dos Povos Indígenas/Fórum dos Povos sobre Mudança Climática. 

A expectativa das organizações é que Lula firme o compromisso de corrigir a meta climática brasileira no Acordo de Paris. Já que, no governo Bolsonaro, o acordo sofreu uma “pedalada climática” que, na prática, reduziu o compromisso. Também há uma movimentação com relação a possibilidade de anúncio de quem comandará o Ministério do Meio Ambiente no terceiro governo Lula. Os nomes mais cotados, as ex-ministras da pasta Marina Silva (Rede-SP) e Izabella Teixeira, e o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) também estão presentes na COP27.

(*) Com informações do jornal Folha de S. Paulo