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COP27 avança com timidez rumo a um fundo para danos de desastres climáticos

A COP27 terá, ao menos, mais um dia de negociações. Apesar de impasses e críticas à condução da ditadura egípcia, criação de um fundo avança

Marcelo Camargo/ABr
Marcelo Camargo/ABr
A cúpula terminaria oficialmente hoje (19) no balneário de Sharm El-Sheikh, no Egito, mas sem a construção de um documento com diretrizes concretas

Sao Paulo – A resolução da Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP27) segue cercada de interrogações. Existem impasses entre as nações para avanços concretos em direção à construção de um acordo para corrigir problemas que envolvem a emergência do aquecimento global. A cúpula terminaria oficialmente hoje (19) no balneário de Sharm El-Sheikh, no Egito, mas sem a construção de um documento com diretrizes concretas. As negociações devem se estender por, ao menos, mais um dia. Contudo, o sábado foi de ligeiros avanços.

Os representantes dos mais de 190 países que participam do evento chegaram a um ponto de acordo no dia final da COP27. Trata-se do compromisso da criação de um fundo para corrigir injustiças climáticas em países mais vulneráveis. A pauta foi uma das principais reivindicações do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva na COP27. O petista salientou, em diferentes encontros, que países ricos que contribuem de forma radical na emissão de gases de efeito estufa deveriam arcar com a responsabilidade dos efeitos do aquecimento global.

Efeitos, estes, que atingem mais países pobres ou em desenvolvimento, que ainda possuem florestas intactas, ou que sofrem com a elevação do nível dos oceanos. “Precisamos, com muita urgência, de mecanismos financeiros para remediar as perdas e os danos causados pela mudança climática. Não podemos mais adiar esse debate”, disse Lula na quarta-feira (16). Informações do jornal norte-americano The Wall Street Journal dão conta de que a pressão dos países emergentes surtiu resultados diante da equipe dos Estados Unidos. O país, maior poluente do mundo ao lado da China, articulou durante este último dia de COP27 em favor da criação do fundo.

Fracassos

A criação de fundos destinados à proteção ambiental tem certo consenso dentro da comunidade europeia. Contudo, Estados Unidos, China, Arábia Saudita, entre outros grandes poluidores, sempre recearam acordos do tipo, sob pretexto de insegurança jurídica. O vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, propôs na quinta-feira a criação de um “Fundo de Resposta” aos problemas climáticos. Entretanto, os impasses dos dias seguintes levaram Timmermans a declarar que os resultados da COP tendiam a um “retrocesso inaceitável”.

Agora, os resultados na prática ainda carecem de ações. No fim, como explicou Lula durante sua passagem pela COP27, o mundo ainda não cumpriu com os compromissos do Acordo de Paris de 2016; sequer se adaptou totalmente ao Protocolo de Kyoto, assinado em 1997. Diante destes impasses, o presidente eleito cobrou mudanças em toda a organização das Nações Unidas, que classificou de ultrapassada em discurso ontem, ao lado do primeiro-ministro de Portugal, António Costa. “A ONU de hoje não pode ser a ONU de 1948. O mundo mudou, a cultura mudou”, disse.

Fator Egito

Tradicionalmente, o país anfitrião é responsável por articular e pressionar a comunidade internacional por avanços. Contudo, informações dão conta de que o governo egípcio não cumpriu esse papel. O país é liderado hoje pelo ditador Abdel Fattah El-Sisi. Além da falta de acordos e das divisões da comunidade internacional, a COP27 foi marcada por acusações de assédio da ditadura egípcia, além de casos de violência.

Na sexta-feira, as Nações Unidas divulgaram um comunicado de repúdio ao governo local. “O Egito precisa parar com todos os atos de assédio e intimidação”, disse a entidade. A ONU afirma que recebeu diversas denúncias de que participantes da COP estariam sendo monitoradas e interrogadas por funcionários do governo El-Sisi.

Em um dos casos relatados, um parlamentar ligado ao ditador interrompeu uma entrevista coletiva da ativista Sanaa Seif, irmã do preso político Alaa Abd el-Fattah, crítico do regime. “Nós estamos profundamente preocupados pelos atos reportados de assédio e intimidação por funcionários egípcios, infringindo os direitos de egípcios e não egípcios na COP27, incluindo os seus direitos à liberdade de se reunir livremente, de expressão e de participação ativa”, completou a nota da ONU.

Com informações da Reuters, AFP e The Wall Street Journal


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