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Câmara dos Deputados aprova ‘Pacote do Veneno’ em aceno ao agronegócio

Bancada ruralista obteve 301 votos favoráveis ao PL que facilita popularização de pesticidas no país; 150 deputados foram contrários

Paulo Sergio/Câmara dos Deputados
Paulo Sergio/Câmara dos Deputados
Na defesa dos ruralistas, Arthur Lira colocou em votação, e conseguiu aprovar, nessa quarta, o PL que favorece o setor, e coloca mais veneno na campo brasileiro

Brasil de Fato – Após uma articulação encabeçada por lideranças da bancada ruralista, o plenário da Câmara dos Deputados aprovou, nessa quarta-feira (9), o Projeto de Lei (PL) 6.299/2002, apelidado de “Pacote do Veneno” por parlamentares de oposição, ambientalistas e segmentos populares. Foram 301 votos favoráveis e 150 contrários.

A medida flexibiliza as normas que tratam da adoção de agrotóxicos no país, facilitam a abertura do mercado para novos pesticidas e centralizam no Ministério da Agricultura as tarefas de fiscalização e análise desses produtos para uso agropecuário.

Ainda na noite dessa quarta-feira, os deputados começaram a analisar os destaques apresentados pelos partidos a fim de realizar mudanças no PL, idealizado inicialmente no Senado. O projeto passou 20 anos tramitando na Câmara, tendo chegado à Casa em 2002.

Posturas quanto à votação do PL

O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que teria sido feito um acordo no final de 2021 para projetar a apreciação do PL neste começo de ano legislativo. O discurso, no entanto, não poupou a iniciativa das críticas dos opositores.

“Em uma pauta sem discussão com líderes, tenta-se colocar um projeto que libera veneno, venenos proibidos nos países de origem”, lembrou a deputada Fernanda Melchiona (Psol-RS), uma das que tentaram evitar a votação.

O governo Bolsonaro tem batido recordes sequenciais de liberação de veneno para utilização nas lavouras. Somente no ano passado, por exemplo, houve autorização para 585 novos produtos, segundo dados do Ministério da Agricultura. Em 2020, foram 493, enquanto em 2019 os ruralistas obtiveram aval para 475 substâncias dessa natureza.

Debate

O conteúdo do “Pacote do Veneno” acirra fortemente a disputa política entre a bancada ruralista e seus aliados e os opositores do grupo. O setor é um dos pilares da gestão Bolsonaro e, por isso, tem ganhado espaço no Legislativo nos últimos anos. 

Entre outras coisas, o segmento incluiu no projeto a substituição do termo “agrotóxico” pelo verbete “pesticida”, em uma simbólica disputa de narrativa com os especialistas que pedem maior rigidez e controle do Estado na adoção dessas substâncias. 

Este último grupo aponta uma série de problemas e riscos associados a agrotóxicos, como é o caso da destruição dos recursos ambientais e da afetação que os venenos causam na saúde da população. Este aspecto foi lembrado, por exemplo, pelo deputado Alessandro Molon (PSB-RJ). 

“A aprovação desse projeto vai significar colocar mais veneno no prato de comida das famílias brasileiras. É algo da maior gravidade. Significa incluir na comida substâncias que causam câncer, mutações genéticas, distúrbios hormonais e todos tipo de dano pra saúde”, resumiu.

Horas antes, a votação da urgência

Poucas horas antes da votação do mérito do projeto, o plenário da Câmara aprovou a urgência da pauta, que foi chancelada por uma maioria de 327 votos favoráveis e 71 contrários, com uma abstenção. Outros 69 parlamentares — das legendas PT, PSB, PDT, Psol, PV e Rede — tiveram a participação no processo contabilizada como “obstrução”, por isso não integram o placar.

A liderança do governo pediu que os correligionários votassem a favor do PL do “Pacote do Veneno” e foi acompanhada pelos líderes das siglas PSL, PL, PP, PSD, MDB, PSDB, Novo, Solidariedade e Republicanos. O grupo está tentando agilizar a votação de mérito da proposta ainda na sessão desta quarta.

O líder do governo, Ricardo Barros (PP-PR), havia anunciado na terça (8) que estava prevista a análise da urgência do tema para essa quarta.