Desmatamento na Mata Atlântica mantém ritmo e precisa de mais fiscalização

Poder público tem capacidade de aprimorar o controle do desflorestamento nos 17 estados onde ocorre o bioma. Estudo aponta áreas onde há mais perdas

Estudo traz dados de 10 dos 17 estados com cobertura de Mata Atlântica

Apenas 7,9% da Mata Atlântica origial está preservada. O alerta consta do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, divulgado na terça-feira (26), pela Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Os desflorestamentos de 2005 a 2008 totalizaram 102,9 mil hectares em 10 dos 17 estados onde a floresta ocorre. A área é equivalente a mais de 100 mil campos de futebol por ano. A taxa de desmatamento é bem próxima da média anual identificada no período de 2000-2005. Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná e Bahia são as áreas mais críticas, por serem os que mais possuem florestas. Por isso, tem grandes áreas desmatadas em números absolutos.

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A pesquisa considerou a área total do Bioma Mata Atlântica estabelecida no Mapa da Área da Aplicação da Lei nº 11.428/2006, publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), produzido em 2008 e publicado no início deste ano. Com isso, o território total de análise foi reduzido para 1,3 milhão de quilômetros quadrados, dos quais apenas 102 mil quilômetros quadrados (ou 7,9%) está preservada, segundo a ONG.

“O que acontece é que a Mata Atlântica ocorre em muitas regiões, e diferentemente de outras regiões, é uma floresta com uma ocupação muito grande, mais de 112 milhões de pessoas vivem lá”, analisa Marcia Hirota, diretora de Gestão do Conhecimento da SOS Mata Atlântica e responsável pelo Atlas, em entrevista a Gilson Monteiro, do Jornal Brasil Atual. “A principal responsabilidade por conter a situação é do poder público, que tem condições de controlar o desmatamento”, completa.

Os estados analisados foram Bahia, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A Mata Atlântica também ocorre em Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe.

Por se tratar de uma área muito ampla, a diversidade de espécies também é imensa. Assim, avalia Marcia, se os governos federal e estaduais não intensificarem a fiscalização, o trabalho de conscientização promovido pela organização será insuficiente para a preservação ambiental.

Por estado

Dos 27.235.854 hectares de mata originária em Minas Gerais, equivalentes a 46% do território, resta apenas menos de um quarto. Em Santa Catarina, todo o território está inserido no bioma, mas apenas 23,3% de floresta ainda permanece em pé. No caso baiano, a área de Mata Atlântica corresponde a 8,8% da área, diante de 33% originais.

O Atlas dos Municípios da Mata Atlântica, traz dados sobre cada cidade onde existe esse tipo de vegetação. Os municípios que mais perderam cobertura florestal foram Jequitinhonha (MG), Itaiópolis (SC), Bom Jesus da Lapa, Cândido Sales e Vitória da Conquista (BA). O ranquamento é feito a partir do Índice de Preservação da Mata Atlântica (IPMA), desenvolvido para a própria publicação. 

Desflorestamentos da Mata Atlântica ocorridos no período 2005-2008 por estado – em ordem de

UF Área UF
(ha)
Área de Mata Atlântica
(ha)
Floresta Desflorestamento
2005 (ha)2008 (ha) %ha %
MG58.697.56527.235.8542.669.8772.637.1509,7%32.728 1.23%
SP24.873.20316.918.9182.308.0382.305.58313,6%2.455 0.11%
SC9.565.4849.591.0122.177.6852.151.73222,4%25.953 1.19%
PR20.044.40619.667.4851.947.6421.937.6639,9%9.978 0.51%
BA56.557.94818.875.0991.606.1321.581.9858,4%24.148 1.50%
RS28.403.07813.759.3801.008.7421.005.6257,3%3.117 0.31%
RJ4.383.5234.394.507808.849807.81018,4%1.039 0.13%
ES4.616.5914.614.841476.173475.60010,3%573 0.12%
MS36.193.5836.366.586362.430360.2155,7%2.215 0.61%
GO34.127.0821.051.42238.38337.6493,6%733 1.91%

Periodicidade

Para tornar mais evidentes as mudanças causadas pelo desmatamento, a Fundação passará a divulgar os dados em intervalos menores. “Nas situações anteriores, o levantamento foi apresentado de cinco em cinco anos e, toda vez que divulgávamos os resultados, a responsabilidade [dos governos] era de uma outra gestão. O que agora pretendemos fazer é monitorar sistematicamente para também poder avaliar a atuação do poder público, do Executivo e do Legislativo sobre a proteção da Mata Atlântica”, explica a integrante da Fundação SOS Mata Atlântica.

O Atlas revela a identificação, a localização e a situação dos principais remanescentes florestais existentes nos municípios abrangidos pela Mata. Sua primeira edição foi lançada em 1990, dois anos depois de estabelecido um acordo com o Inpe e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Os dados e mapas estão disponíveis na página da  SOS Mata Atlântica e do Inpe (PDF).

Com informações do Jornal Brasil Atual