Na quarta tentativa, Câmara de São Paulo aprova homenagem à Rota
Proposta do vereador Telhada (PSDB) recebeu 37 votos a favor e 15 contrários. Sessão contou com presença de manifestantes pró e contra, e alguns acabaram expulsos do plenário
Publicado 03/09/2013 - 17h53
São Paulo – São Paulo – A Câmara Municipal de São Paulo aprovou – por 37 votos contra 15 e uma abstenção – na tarde de hoje (3) a outorga da chamada “Salva de Prata” à Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), conforme o projeto de decreto legislativo do vereador Coronel Telhada (PSDB). A sessão extraordinária foi tumultuada, com manifestantes contra e a favor nas galerias travando uma “guerra” de palavras de ordem. O presidente da Casa, José Américo (PT), pediu auxílio do policiamento para colocar alguns manifestantes para fora do Plenário.
Foi a quarta tentativa do vereador tucano de aprovar a “Salva de Prata”. Os votos contrários foram 11 do PT, mais um de PV, PCdoB, PPS e PSOL. Nas três votações anteriores, o PDC não conseguiu voto favorável de 37 dos 55 vereadores, o mínimo necessário, mas também não se chegou aos 19 votos contrários suficientes para arquivar a proposta. No dia 28 de agosto, faltou apenas o apoio de um vereador e a sessão terminou com 36 favoráveis, 14 contrários e cinco abstenções.
A sessão de hoje foi tensa. Movimentos sociais, principalmente da periferia e vinculados à questão racial dividiram as galerias com um grupo que apoiava o projeto de Telhada, que convocou PMs, familiares de policiais e simpatizantes de seu projeto pelo Facebook.
Deputados de esquerda e direita foram vaiados e alvos de hostilidades. Telhada e Conte Lopes (PTB) foram xingados de assassinos; os vereadores petistas e Orlando Silva (PCdoB), de “mensaleiros”. O presidente José Américo alertou que os parlamentares não podiam ser interrompidos em seus discursos, e ameaçou várias vezes retirar pessoas ou grupos do plenário. Por fim, cumpriu as ameaças e mandou o policiamento retirar três manifestantes.
“Não sei por que tanta briga por causa de uma medalha”, disse o vereador Conte Lopes ao subir na tribuna. “Vocês têm dificuldade de conviver com a democracia”, afirmou, dirigindo-se a manifestantes que o impediam de falar.
Câmara rachada
O vereador Ricardo Young (PPS) chamou a atenção para a divisão que o projeto de Telhada provocava na Câmara e nas tribunas, e disse que a proposta não poderia ser aprovada com o parlamento dividido. “Estou aqui há oito meses e até hoje não tinha visto uma divisão tão grande”, explicou. “Como fazer uma homenagem com tamanha divisão? É óbvio que a sociedade precisa da polícia, mas é óbvio também que a polícia precisa respeitar a periferia”, afirmou Young, que está em seu primeiro mandato.
O vereador Orlando Silva pediu “reflexão à bancada do PSDB de José Gregori, de Franco Montoro e de Mário Covas, que enfrentaram o autoritarismo a vai se juntar a quem afronta os direitos humanos”. O PSDB, porém, além de ser a legenda do autor do projeto, votou em bloco na proposta de Telhada.
Em seu discurso, a vereadora Juliana Cardoso (PT) esclareceu que o voto de seu partido não é contra a Polícia Militar. “Estamos discutindo no campo das ideias. Não somos contra a corporação. A Rota vai às periferias e acaba com a juventude, principalmente a juventude negra.” Segundo Juliana, o projeto Telhada, numa primeira versão, “defendia a Rota contra (Carlos) Lamarca e Carlos (Marighella) e a favor da ditadura. Por isso, estamos debatendo uma questão ideológica”.
“A juventude negra tem medo da Rota e 65% dos mortos pela Rota são inocentes. A homenagem à Rota divide a Câmara”, disse Orlando Silva (PCdoB). “Declaramos nosso absoluto repúdio ao decreto. A Rota foi criada nos anos 1970 para combater os grupos que lutavam contra a ditadura”, discursou Toninho Vespoli (PSOL).
Torturado no DOI-Codi no período da ditadura (1964-1985), o vereador Gilberto Natalini (PV) foi o único de seu partido que votou “não”. “Votei contra, achava que não era o caso de fazerem essa homenagem, mas respeito a posição da maioria.” Dos quatro deputados do PV, dois foram “sim” e um se ausentou.
O vereador Conte Lopes (PTB) disse que a população na periferia “adora” a Rota e que o governador Franco Montoro acabou com o Dops, mas não extinguiu a corporação porque a sociedade a apoia.
O autor do projeto, vereador Coronel Telhada, também afirmou que a população é a favor e apoia seu projeto. “A Rota é contra a corrupção e a favor da ordem. Na hora em que as pessoas precisam, é a PM que chamam”, disse. “Esse pequeno grupo contra, que está aqui, não representa nada”, declarou, dirigindo-se aos que o vaiavam da tribuna.
Confira como votaram os vereadores:
Abou Anni (PV) SIM
Adilson Amadeu (PTB) SIM
Alessandro Guedes (PT) NÃO
Alfredinho (PT) NÃO
Andrea Matarazzo (PSDB) SIM
Ari Friedenbach (PPS) Abstenção
Arselino Tatto (PT) NÃO
Atilio Francisco (PRB) SIM
Aurélio Nomura (PSDB) SIM
Dr. Calvo (PMDB) SIM
Claudinho de Souza (PSDB) SIM
Conte Lopes (PTB) Sim
Coronel Camilo (PSD) SIM
Coronel Telhada (PSDB) SIM
David Soares (PSD) Sim
Edir Sales (PSD) SIM
Eduardo Tuma (PSDB) SIM
Floriano Pesaro (PSDB) SIM
George Hato (PMDB) SIM
Gilson Barreto (PSDB) SIM
Goulart (PSD) SIM
Jair Tatto (PT) NÃO
Jean Madeira (PRB) SIM
José Américo (PT) NÃO
José Police Neto (PSD) SIM
Juliana Cardoso (PT) NÃO
Laércio Benko (PHS) SIM
Marco Aurélio Cunha (PSD) SIM
Mario Covas Neto (PSDB)
Marquito (PTB) SIM
Marta Costa (PSD) SIM
Milton Leite (DEM) SIM
Nabil Bonduki (PT) NÃO
Natalini (PV) NÃO
Nelo Rodolfo (PMDB) SIM
Noemi Nonato (PSB) SIM
Orlando Silva (PC do B) NÃO
Ota (PSB) SIM
Patrícia Bezerra (PSDB) SIM
Paulo Fiorilo (PT) NÃO
Paulo Frange (PTB) SIM
Pastor Edemilson Chaves (PP) SIM
Reis (PT) NÃO
Ricardo Nunes (PMDB) SIM
Ricardo Young (PPS) NÃO
Sandra Tadeu (DEM) SIM
Senival Moura (PT) NÃO
Souza Santos (PSD) SIM
Toninho Paiva (PR) SIM
Toninho Vespoli (PSOL) NÃO
Tripoli (PV) SIM
Wadih Mutran (PP) SIM
Vavá dos Transportes (PT) NÃO