Ligação entre revista Veja e contraventores explica “esquizofrenia” da CPI de Cachoeira, diz Carta Capital

Os documentos apreendidos pela Polícia Federal na Monte Carlo e o jornalismo dito investigativo: a cortina de fumaça para tentar barrar a CPMI (Foto: Marcello Casal Jr. Arquivo Agência Brasil) […]

Os documentos apreendidos pela Polícia Federal na Monte Carlo e o jornalismo dito investigativo: a cortina de fumaça para tentar barrar a CPMI (Foto: Marcello Casal Jr. Arquivo Agência Brasil)

São Paulo – A revista Carta Capital desta semana elenca as conexões entre a mídia tradicional e a quadrilha do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, como o fator central para explicar a cobertura jornalística “esquizofrênica” em torno da comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) a ser criada no Congresso para investigar o caso exposto pela Operação Monte Carlo, da Polícia Federal.

“A ameaça de que a comissão revolva as entranhas das relações entre o jornalismo autointitulado investigativo e o submundo da arapongagem e da contravenção, a ponto de expor os reais interesses de ambos, talvez explique a esquizofrenia da cobertura midiática”, argumenta o texto do repórter especial Leandro Fortes.

Ele aponta que existe uma campanha de intimidação na tentativa de barrar a criação da CPMI, adotando, “em coro”, a linha de que se trata de uma tentativa do PT de abafar o caso do mensalão, que supostamente poderia ser julgado nos próximos meses pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A revista Veja desta semana traz na capa a “tentativa desesperada” dos petistas de apagar o caso, afirmando que a comissão de inquérito é uma “cortina de fumaça” para abafar o iminente julgamento.

A editora Abril, responsável pela publicação semanal, teria muito a perder. A começar pelas já reveladas conexões entre o jornalista Policarpo Júnior, diretor da sucursal de Brasília, que manteve 200 ligações telefônicas com o bicheiro. Além disso, o dono da editora, Victor Civita, poderia acabar convocado para explicar-se sobre o caso. Poderia voltar à tona ainda o caso em que um repórter da revista tentou invadir o quarto de hotel do ex-ministro José Dirceu em Brasília na tentativa de roubar documentos. 

Por fim, segundo Carta Capital, a participação de Veja na “construção do mensalão” também pode emergir do trabalho da comissão. O começo da história foi um vídeo gravado por arapongas de Cachoeira mostrando o pagamento de suborno a um funcionário dos Correios indicado pelo PTB, então presidido por Roberto Jefferson, que supôs haver o dedo de Dirceu na história e resolveu denunciar um imaginado esquema que, depois, admitiu não existir. O araponga Jairo Martins, responsável pelas imagens que acabaram levadas à redação da revista semanal, é flagrado em conversa dizendo que a quadrilha é que levanta as grandes histórias reveladas pela publicação.

Por isso, jornais e revistas da mídia tradicional passaram a se esforçar para encontrar conexões entre a quadrilha de Cachoeira e aliados do governo de Dilma Rousseff. Seria esta a função dos áudios relevados pelo jornal O Estado de S. Paulo mostrando chamadas telefônicas entre o deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) e o araponga Idalberto Matias, o Dadá. As gravações não mostram nenhuma vinculação do delegado da Polícia Federal com o esquema, e são fruto do trabalho prestado por Dadá, então na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), à apuração da Operação Satiagraha. “Sua divulgação parece uma tentativa de constranger o deputado”, adverte Carta Capital