Procurador critica governo por ceder demais a ruralistas ao estender prazo de reflorestamento

Ao estender prazo para recompor áreas desmatadas ilegalmente, Ministério Público Federal do Pará entende que governo enviou sinal de que punição pode nunca virar realidade

Operação do Ministério do Meio Ambiente combate produção ilegal de carvão em Cristalina, no interior de Goiás (Foto: Jefferson Rudy. MMA)

O Ministério Público Federal no Pará entende que o governo federal errou ao estender o prazo para que propriedades desmatadas além dos limites legais tenham suas áreas recompostas. Acréscimos feitos ao Código Florestal brasileiro previam que, a partir deste mês, os produtores que tivessem desrespeitado a lei estariam sujeitos a pesadas multas.

Pela medida publicada nesta sexta-feira (11) no Diário Oficial da União, o Programa Federal de Apoio à Regularização Ambiental de Imóveis Rurais entra em vigor em junho de 2011, com mais um facilitador: os proprietários flagrados na ilegalidade ganham seis meses para regularizar a situação.

O procurador Ubiratan Cazetta manifesta, à Rede Brasil Atual, que a decisão transmite a ideia de que o cumprimento da lei nunca será cobrado. “Não vem acompanhado de nenhuma política efetiva que justifique a mudança do prazo. E o pior é que vem dentro de um contexto que o torna contraditório. Ao mesmo tempo em que você anuncia uma meta de redução de desmatamento, estabelece parâmetros em que flexibiliza a situação sem um motivo justo, leva ao descrédito da necessidade de iniciar, o quanto antes, a recuperação das áreas degradadas”, afirma.

Cazetta refere-se à meta apresentada pelo governo de reduzir as emissões de gases que provocam o efeito estufa em até 39% até 2020. Para cumprir a promessa, a principal aposta é reduzir o desmatamento em até 90% no período. Neste semestre, além disso, foi anunciado o menor nível de derrubara e queimada na Amazônia nas duas décadas em que é feita a medição dos níveis.

Ao longo do ano, o Ministério Público Federal assinou compromissos setoriais de que não haveria produção em áreas degradadas. Produtores e compradores, em especial os supermercados, aceitaram assinar termos em que se comprometiam a fazer esse rastreamento. No estado do Pará, iniciou-se a emissão de guias eletrônicas animais, um mecanismo para facilitar o controle do gado e dificultar a presença de bovinos em áreas desmatadas.

É diante desse conjunto de esforços realizados ao longo de 2009 que Ubiratan Cazetta entende que a medida do governo é um sinal contraditório, já que, quando se trata de preservação, não é possível promover ações reticentes. O procurador aponta que, por trás da decisão, há a intenção de não desagradar a alguns setores produtivos em véspera de ano eleitoral.

Ao longo dos últimos meses a bancada que representa os grandes proprietários de terras no Congresso teve movimentação intensa. Alguns parlamentares não esconderam que a entrada em vigor da punição a partir de dezembro era o principal motivo para tal articulação, uma forma de pressionar o governo a adiar a execução das novas medidas.

Dentro dessa ofensiva, entraram a tentativa de rever e até mesmo anular a validade do Código Florestal e o projeto que dá anistia a todos os que tivessem desmatado até 2006 – nas projeções do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a medida daria perdão ao desmate de uma área equivalente a nove vezes o estado do Rio de Janeiro.

Pelo lado do governo, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, pronunciou-se nesta sexta-feira a respeito do adiamento, afirmando que o decreto não favorece ruralistas, mas viabiliza a efetiva regularização dos agricultores que ainda não atendem às exigências do Código Florestal. “O decreto cria o programa ‘Mais Ambiente’, que pela primeira vez vai dar recursos, crédito e educação ambiental para as pessoas se legalizarem. Desde que o Código Florestal foi criado, há 44 anos, 90% dos agricultores estão na ilegalidade”, afirma.

O procurador Ubiratan Cazetta, no entanto, vê uma crescente frente de ação dos ruralistas e entende que há forças econômicas que buscam retrocessos na legislação ambiental. “Faz parte do jogo político haver pressões. Mas é preciso saber se vamos resistir às pressões e se não prevalecerá a questão puramente econômica sobre algo muito mais importante, que é a preservação ambiental”, ressalta.

Com informações da Agência Brasil.

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