Nobel da Paz argentino diz que novo papa não foi cúmplice da ditadura

'Não foi um dos bispos que mais defenderam os direitos humanos', disse Adolfo Pérez Esquivel, mas praticou 'uma diplomacia silenciosa que pediu pelos desaparecidos e presos políticos'

Peres Esquivel é recebido em audiência pelo papa Francisco, no Vaticano (©romereports.com/reprodução)

São Paulo – O prêmio Nobel da Paz argentino e histórico defensor dos direitos humanos na América latina, Adolfo Pérez Esquivel, disse hoje (21) após se reunir com o papa Francisco em Roma que, enquanto exerceu como líder dos jesuítas em Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio não teve nada a ver com a ditadura que se abateu sobre o país entre 1976 e 1983. “Não foi um dos bispos que mais defenderam os direitos humanos” durante o regime, disse Esquivel, mas praticou “uma diplomacia silenciosa que pediu pelos desaparecidos e presos políticos”.

A notícia foi publicada pelo diário Página 12, um dos principais veículos de imprensa a denunciar as atividades de Bergoglio durante o governo da Junta Militar – responsável pelo assassinato ou sumiço de aproximadamente 30 mil pessoas. O jornal vem publicando notícias de que, na época, Bregoglio teria sido conivente com a prisão e tortura de dois religiosos jesuítas pelos militares. “Houve bispos cúmplices, mas não Bergoglio”, insistiu Esquivel, que anteriormente já havia defendido o novo papa dessas acusações.

Uma semana atrás, porém, o Nobel da Paz publicara em sua página na internet que mas acho que a Bergoglio “faltou coragem para acompanhar a nossa luta pelos direitos humanos nos momentos mais difíceis”. “É indiscutível que houve cumplicidade de boa parte da hierarquia da Igreja no genocídio perpetrado contra o povo argentino. Foram poucos os pastores que tiveram coragem e tomaram a decisão de assumir a nossa luta em defesa dos direitos humanos contra a ditadura militar.”

Durante a reunião em Roma, os dois ilustres argentinos conversaram sobre vários temas – inclusive sobre os desafios que esperam ao primeiro sumo pontífice latino-americano. “Falamos sobre direitos humanos e ele me disse que precisamos buscar a verdade, a justiça e a reparação”, disse. “Me pediu que rezasse por ele e me comprometi a acompanhá-lo.”

De acordo com Esquivel, Francisco demonstrou sua preocupação por reduzir os índices de pobreza no mundo e que por isso escolheu seu nome em homenagem a São Francisco de Assis. Adolfo Pérez Esquivel ajudou a criar e preside o Serviço Paz e Justiça (Serpaj), criado em 1974. Graças à sua atuação em defesa dos direitos humanos e da resistência pacífica às ditaduras latino-americanas, foi agraciado com o prêmio Nobel da Paz em 1980.