Polícia vai pedir prisão de 7 suspeitos por morte de ativista no PA

Delegado se diz convencido de que assassinato foi motivado por vingança, mas vai esperar depoimentos para saber se mandantes são grileiros ou assentados rivais de Alcântara

São Paulo – A Polícia Civil do Pará deve apresentar nesta terça-feira (6) pedidos de prisão temporária contra sete suspeitos de envolvimento na morte do sindicalista Pedro Alcântara. O coordenador de Políticas Agrárias da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Pará (Fetraf-PA) foi morto na última quarta-feira (31/03), quando passeava com a esposa no município de Redenção, ao sul de Marabá (PA).

O delegado Alberto Teixeira, coordenador do Grupo de Combate ao Crime Organizado, confirmou à Rede Brasil Atual que a medida será adotada como forma de garantir a preservação de provas. Ele espera receber até o fim desta semana o resultado da perícia feita pelo Instituto Médico Legal, em Belém (PA), na arma que teria sido utilizada no crime. Caso o exame comprove as suspeitas, o delegado deve dar entrada no pedido de prisão preventiva, cujo prazo é maior, de 30 dias.

Os responsáveis pelo crime devem responder por homicídio duplamente qualificado (pagamento de recompensa e vítima indefesa), com penas que chegam a 50 anos. Teixeira não tem dúvida de que o crime ocorreu por vingança. “Foi orquestrado. Alguém foi pago para cometer este crime. Mas o motivo eu não posso afirmar com certeza. Preso quem executou, vamos tentar chegar até o mandante”, ressalta.

A Polícia Civil do Pará, que articulou diversos grupos na tentativa de esclarecer os fatos, considera que o homicídio pode ter sido motivado por rixas com facções de fazendeiros irritados com a atuação de Alcântara na região. Outra hipótese é de que membros de grupos dissidentes, também de movimentos sociais que lutam por assentamentos, tenham sido os responsáveis.

A esposa de Alcântara, que no momento do crime estava alguns metros do marido, teve apenas tempo de ver que os tiros foram disparados a partir de uma moto ocupada por duas pessoas. Assustada, ela não teve condições de dar mais informações à polícia sobre os fatos, segundo o delegado.

Militante

O dirigente da Fetraf-PA era militante da reforma agrária na Amazônia. Com três mandatos como vereador de Redenção, Alcântara comandou, no ano passado, uma ocupação que tinha como objetivo incluir uma propriedade em programas de reforma agrária do estado. De acordo com testemunhas, a ação gerou disputa com outros grupos interessados em beneficiar-se da redistribuição de terras.

A Fetraf marcou para a próxima semana uma audiência na qual espera ouvir autoridades dos governos estadual e federal a respeito do caso. A entidade considera que apenas o combate à grilagem de terras na região fará com que o episódio não se repita. “Não é caso isolado. É uma questão política de um grupo, um consórcio de grileiros. O esclarecimento do crime, sozinho, não resolve, mas é um começo”, afirma Francisco Ferreira de Carvalho, coordenador estadual da Fetraf.

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) emitiu nota afirmando que Alcântara é mais uma vítima da impunidade vista no setor rural brasileiro. “Não podemos mais aceitar que nossos trabalhadores e trabalhadoras que lutam pela reforma agrária e pelo fortalecimento da agricultura familiar, continuem a ser criminalizados e covardemente executados por pessoas que querem impedir o desenvolvimento de nosso país. Não é possível que o Judiciário brasileiro ainda permita que esses crimes continuem impunes”, informa o comunicado.