Em São Paulo

Sindicato aponta ‘traição’ de Tarcísio sobre catraca livre, e greve continua no Metrô

Trabalhadores afirmam que voltarão imediatamente ao serviço caso empresa aceite proposta do MPT. E mantêm posição sobre catraca livre. Juíza multou companhia por prática antissindical

Rovena Rosa/Agência Brasil
Rovena Rosa/Agência Brasil

São Paulo – Os metroviários de São Paulo decidiram se manter em greve até que o Metrô aceite proposta conciliatória apresentada nesta quinta-feira (23) pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). A proposta tem cinco itens: abertura de agenda de negociação, pagamento de abono (no valor de R$ 2.500 por ano de 2020 em diante), cancelamento de punições, não desconto de dias parados e abertura de “cláusula da paz” entre as partes, enquanto durarem as discussões. Se até as 23h a empresa concordasse com os itens apresentados pelo MPT, eles afirmaram que voltariam ao trabalho imediatamente. Mas não houve retorno até esse horário.

Na assembleia realizada na noite desta quinta-feira (23), na sede do sindicato (Tatuapé, zona leste), a presidenta do Sindicato dos Metroviários, Camila Lisboa, fez um histórico das tentativas de negociação e acusou o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) de “traição”. Segundo ela, enquanto o governo sinalizava aceitar a liberação das catracas, recorria à Justiça contra a greve. De 2.634 votos, presenciais e virtuais, 91,2% foram a favor da posição do sindicato – aceitar a proposta do MPT, mas só voltar ao trabalho se houver concordância do Metrô com esses termos. Eles conseguiram decisão judicial favorável às catracas.

Governo contra a população

“O Metrô não apresentou proposta nenhuma (ontem). O sindicato apresentou a proposta da catraca livre”, disse Camila. “O que o Tarcísio de Freitas fez foi uma traição à ação da catraca livre, que favoreceria a população” acrescentou. Ela informou que foi procurada pela direção do Metrô, na manhã de hoje, para saber em quanto tempo os trabalhadores voltariam a seus postos no caso de abertura da catraca. Mas, enquanto isso, buscava liminar judicial. “Foi um show de intransigência.”

A decisão ocorre após um dia de vaivéns nas conversas envolvendo o sindicato, a Companhia do Metropolitano e o governo de São Paulo. Os metroviários acusaram o Executivo de “má fé”. A categoria está em campanha pelo abono há semanas. Chegou a fazer protesto no dia 9 e adiou greve marcada para o dia 15. Em nota, o Metrô disse que fez “todos os esforços” para um acordo e considerou “incompreensível” a postura do sindicato. A empresa diz não ter como pagar um abono neste momento.

Camila, na assembleia: ‘O Metrô não apresentou proposta nenhuma. O sindicato apresentou a proposta da catraca livre’ (Reprodução/YouTube)

Inicialmente, o governo afirmou, pelas redes sociais, que o Metrô funcionaria com catracas abertas. A empresa já teria, inclusive, comunicado o sindicato sua aceitação. E condicionou a medida ao retorno imediato dos trabalhadores, ainda no período da manhã.

Categoria quer trabalhar

Em entrevista ainda nas primeiras horas do movimento, Camila Lisboa disse que os trabalhadores do Metrô encerrariam a greve em duas circunstâncias. “Se libera as catracas pros trabalhadores, porque nós não queremos prejudicar os passageiros, e se também o governador Tarcísio abre negociação. O metroviário e a metroviária querem trabalhar, mas eles também querem lutar pelos seus direitos. Nós somos trabalhadores que nao pararam de trabalhar durante toda a pandemia, e durante todo esse período o Metrô deixou de pagar coisas que nos deve”, afirmou. Na assembleia, ela afirmou que “o desafio da catraca segue aberto”.

Abertura não autorizada

Às 11h, de acordo com os metroviários, todos estavam a postos para operar com catracas liberadas. Mas a empresa não autorizou a abertura das estações. Às 17h15, o Metrô informou que, por meio de seu plano de contingência, conseguiu reabrir parcialmente, apenas até as 20h, as linhas 1-Azul (das estações Ana Rosa à Luz), 2-Verde (do Alto do Ipiranga à estação Clínicas) e 3- Vermelha (da Santa Cecília até a Bresser-Mooca). A Linha 15-Prata (entre Cidade Tiradentes e Vila Prudente) permanecia fechada.

Enquanto isso, ainda pela manhã, a companhia voltava ao Judiciário, e desta vez obteve a liminar que havia sido negada na véspera. Assim, o Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (TRT-2) determinou manutenção de 80% dos serviços nos horários de pico (das 6h às 9h e das 16h às 19h) e 60% nos demais horários, sob pena de multa. O desembargador Ricardo Apostólico afirmou que a liberação poderia provocar “colapso” no sistema. Em 2022, o Metrô transportou 2,6 milhões de pessoas, em média, nos dias úteis.

Entendimento diferente da véspera, quando a juíza Elaine Aparecida da Silva Pedroso havia considerado a alternativa das catracas viável à greve no Metrô. Segundo ela, ao negar liminar, o método (das catracas) “não diminui a oferta dos serviços de transporte à comunidade, afastando-a de prejuízo danoso”.

Mas em nova decisão, a mesma magistrada considerou que o Metrô agiu “temerariamente” ao anunciar a abertura das catracas e recuado posteriormente. E puniu a empresa em R$ 100 mil por prática antissindical.

A mobilização desta semana ainda não se refere à campanha salarial da categoria, que tem data-base em 1º de maio. A pauta de reivindicações ja foi aprovada, mas as negociações não começaram.