Para dirigente da CUT, categorias devem ter ‘enfrentamento’ no segundo semestre

Dirigente contesta presidente do BC e questiona orientação econômica do governo

Vagner Freitas: queremos aumento real, PLR e convenções coletivas “recheadas” (Foto: Rossana Lana / SMABC)

São Paulo – As campanhas salariais do segundo semestre manterão o foco no aumento real de salários (acima da inflação) e no acréscimo de direitos sociais, diz o secretário de Administração e Finanças da CUT, Vagner Freitas. “A economia está em franca expansão. Não concordamos com essa visão do presidente do Banco Central (Alexandre Tombini) contra aumento real. As causas da inflação não foram por conta dos salários”, afirmou o dirigente. “A orientação para as categorias é partir para o enfrentamento”, acrescentou. “Queremos aumento real, PLR (participação nos lucros ou resultados), rechear as convenções coletivas de avanços sociais.”

Ele também questionou a política econômica, lembrando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva era um defensor do mercado interno e, durante a crise econômica, pediu à população que continuasse consumindo, para manter a economia aquecida. “Será que no governo Dilma mudou a orientação? Isso é opinião do governo ou do Tombini?”, criticou Freitas, que participou de seminário promovido nesta quinta-feira pela Fiesp, CUT, Força Sindical e sindicatos dos Metalúrgicos do ABC e de São Paulo.

O presidente estadual da CUT em São Paulo, Adi dos Santos Lima, disse que a inflação “nunca deixou de ser” pretexto dos empresários para dificultar as negociações. “Precisamos aumentar a renda do trabalhador para aumentar o consumo, para aumentar a produção e os empregos. É essa a lógica que queremos manter”, afirmou.

Segundo ele, na primeira semana de junho deverá ser realizada uma primeira reunião para discutir estratégias e ações das categorias com data-base no segundo semestre, como bancários, metalúrgicos, petroleiros e químicos. E o aumento real não sai da pauta. “Ainda temos um dos salários mais baixos do mundo pelo tamanho da nossa produção.”

Filiado à Força Sindical, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, com quase 300 mil trabalhadores na base, vai reunir os delegados sindicais nas primeiras duas semanas de junho para definir os eixos da campanha. A pauta deverá ser aprovada em assembleia programada para 1º de julho. “Inflação não é problema, ela vai se estabilizar dentro do razoável”, afirma o presidente da entidade, Miguel Torres. Ele lembrou que o crescimento de 4,5% previsto para a economia este ano, ainda que abaixo de 2010 (7,5%), se dá sobre uma base maior, já que em 2009 houve ligeiro recuo (-0,6%).

Mas ele também chamou a atenção para a necessidade de uma política industrial no Brasil, que garanta investimentos e estimule exportações. Miguel observou que setores como autopeças e máquinas sofrem diretamente com o avanço das importações – na base do sindicato, o segmento de máquinas e eletroeletrônicos corresponde a 40% do total.

A indústria de autopeças projeta déficit entre US$ 4,5 bilhões e US$ 5 bilhões este ano. No segmento de máquinas e equipamentos, segundo a Abimaq, o déficit apenas no primeiro quadrimestre atingiu US$ 5,5 bilhões, crescimento de 33,3% em relação a igual período de 2010 (déficit de US$ 4,1 bilhões).