Polêmica

Debate na CNI expõe dificuldade de consenso em projeto da terceirização

Em debate virtual promovido por entidade da indústria, empresários insistem que prática 'moderniza'. Para trabaladores, terceirizados têm jornada semanal em média três horas maior e recebem 27% menos

Roberto Parizotti/CUT

Ato das centrais realizados ontem (6) em várias localidades do país reforçaram a pressão contra o PL 4.330

São Paulo – Na semana que antecede a votação do Projeto de Lei 4.330, que regulamenta a terceirização do trabalho, o tema pautou um debate virtual acalorado promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) na tarde de hoje (7). Representantes dos trabalhadores, empresários e do Legislativo apresentaram diferentes pontos de vista no debate, que teve intermediação de José Pastore, professor aposentado da Universidade de São Paulo.

De acordo com estudo elaborado pelo Dieese e pela CUT, o terceirizado trabalha em média três horas a mais por semana e ganha 27% menos do que os empregados diretos. Para odiretor sindical da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e conselheiro em Relações de Trabalho da CNI, Adauto Duarte, a isonomia salarial defendida pelas centrais representa um problema para o trabalhador. “Se o trabalhador ficar seis meses na empresa e passar a ganhar mais, quando sair para prestar serviço a outra empresa, não vai receber salário equivalente, daí perde a oportunidade de mudar de emprego”, defendeu. “É melhor ficar desempregado?”, questionou.

Para Duarte, discutir a terceirização é uma forma de manter a competitividade no mercado de trabalho. “A grande evolução da humanidade passa pela competitividade. Tudo o que conhecemos veio através da competição. As empresas brasileiras e os trabalhadores têm de participar disso. Ou vamos ficar sem contribuir com o mundo?”

“Se o trabalho for caro e faltar competitividade, o emprego acaba”, completou o deputado federalLaércio Oliveira (PR-SE).

As reuniões sobre aregulamentação do PL 4.330, do deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), também tentam chegar a um consenso em relação à representação sindical dos terceirizados. Dirigentes sindicais defendem que eles sejam associados ao sindicato dos trabalhadores da empresa que contrata os serviços.

Para o consultor jurídico da CUT Ericson Crivelli, a falta de garantias das prestadoras de serviço às empresas contratantes e, consequentemente aos empregados, exige profunda discussão. “As empresas respondem muitos processos porque a terceirizada não oferece garantia. Se o objetivo do projeto é dar segurança ao empregado, a presença de um sindicato forte é fundamental. O PL está abrindo uma possibilidade enorme de desestruturação sindical.”

“Não haverá desorganização alguma. O que é desorganizar a base sindical? É os trabalhadores saírem do mando das centrais e passar a ser representado por sindicato tal e sindicato tal?”, rebateu Laércio Oliveira. Para ele, as relações trabalhistas no Brasil evoluíram muito e os sindicatos também se especializaram. “Hoje não existe o coitadinho desamparado, porque ele sempre tem onde reclamar de algo pelo qual se sentiu lesado.”

Pastore destacou que as discussões têm seguido de maneira construtiva: “Nunca houve tanta abertura e discussão sobre esse assunto. As centrais se manifestam, os empresários atuam com seus pontos de vista, o Judiciário é consultado e, recentemente, foi criada uma comissão com a inclusão do Legislativo. É preciso buscar disciplina da terceirização através de lei e é isso o que estamos fazendo”.

O PL 4.330, apresentado em 2004, tem previsão de votação na próxima terça (13), na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Na véspera, ocorre a última reunião da comissão quadripartite, formada por trabalhadores, empresários, representantes do governo e Legislativo, para tentar um consenso.