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Capital paulista tem 27 servidores da saúde mortos e 5 mil afastados pela covid-19

Dados organizados pelo Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo aponta mais mortes que os dados oficiais do governo Covas

Edi Sousa/Sindsep
Edi Sousa/Sindsep
Trabalhadores já realizaram protestos por melhores condições na rede de saúde e em memória dos trabalhadores mortos

São Paulo – O Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep) informa que 27 trabalhadores da saúde da capital paulista, entre servidores e terceirizados, morreram em casos suspeitos ou confirmados de covid-19 desde o início da pandemia. O governo Bruno Covas (PSDB) registra 21 óbitos.

A entidade responsabiliza a prefeitura pela situação, por falta de treinamento adequado e de equipamentos de proteção individual (EPIs) para todos os profissionais. “O Sindsep se solidariza com familiares e amigos e segue exigindo que o governo Covas proteja e valorize seus profissionais”, afirmam os servidores.

O número representa aumento de 42% desde a última atualização dos dados de mortes de servidores pela covid-19, no final de abril – naquele momento, havia 19 profissionais mortos. O número de servidores afastados por casos suspeitos ou confirmados também subiu. Em 8 de maio, a prefeitura informava que 4.365 trabalhadores da saúde haviam sido afastados de suas funções desde o início da pandemia. Na última quinta-feira (28), eram 5.082. Destes, 2.026 tiveram casos confirmados.

EPIs e treinamento

O sindicato aponta a falta de EPIs e de treinamento adequado para os trabalhadores da saúde como razão principal para as contaminações e mortes dos servidores. Além de máscaras, faltam luvas, álcool em gel, protetores faciais, toucas cirúrgicas e demais itens de proteção para o corpo. Aventais e macacões impermeáveis não têm sido recebidos em número suficiente.

Pesquisa realizada pelo Sindsep revelou que 62% dos trabalhadores da saúde afirmam não ter acesso à máscara do tipo N95, e ainda enfrentam a falta de máscaras de proteção (52%). Além disso, não há álcool para 70% dos profissionais e avental, para 30%. Ao mapear as condições de segurança de trabalho, a pesquisa mostrou que a possibilidade de contaminação é ainda maior para os servidores do grupo de risco da covid-19, que são quase um terço dos funcionários públicos, considerando apenas aqueles que têm 60 anos ou mais.

Para o Sindsep, os dados assustam e reforçam denúncias de falta de EPIs trazidas especialmente por funcionários da rede hospitalar. “Os trabalhadores da saúde estão em perigo diante da irresponsabilidade da prefeitura com o fornecimento em quantidade e qualidade adequados dos equipamentos de proteção. Os meios de comunicação dia após dia expõem a realidade da falta e da qualidade inapropriada dos EPIs distribuídos: aventais, capotes, toucas, óculos de proteção, face shield, sapatilhas e também insumos como álcool gel”, diz o sindicato.

‘Um cala-boca’

O governo Covas chegou a entregar máscaras de proteção para os trabalhadores de baixa qualidade, feitas de um material muito mais fino que os das máscaras normalmente utilizadas na rede de saúde. Servidores tiraram fotos comparando os modelos e a diferença de espessura entre os modelos é significativa, evidenciando que seu uso não protegerá os trabalhadores do risco de infecção.

“Não sei se é melhor trabalhar com ou sem essa máscara. Isso é um cala-boca da prefeitura, para dizer que está protegendo os profissionais de saúde. É vergonhoso oferecer esse material no meio dessa situação”, relatou à época uma trabalhadora da saúde que pediu para não ser identificada.