Na Fiesp, Mujica defende desenvolvimento a favor dos mais pobres

Presidente do Uruguai afirma durante encontro de empresários que a riqueza material deve ser utilizada para acabar com a pobreza que 'ofende a condição humana'

Mujica (com o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, ao fundo): pelo diálogo latino-americano (Foto: Fiesp/divulgação)

São Paulo – O presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica, tem se transformado num dos chefes de Estado menos convencionais de que se tem notícia. Em visita nesta segunda-feira (14) à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Mujica defendeu que só existe uma finalidade possível para o desenvolvimento: o bem-estar de toda a sociedade.

“Nos resta uma margem de pobreza que nos ofende, que ofende a condição humana, nossa maneira de ver a vida”, ponderou. “Não creio que a riqueza material por si só resolva os problemas. Mas sem o marco de uma riqueza material dificilmente se pode levar cultura e conhecimento a todos”, completou.

O presidente uruguaio era o único a dispensar a gravata em meio a alguns dos principais empresários brasileiros e uruguaios. Por opção, ele ainda deixa o botão superior da camisa aberta, no conjunto com o paletó simples. Por ideologia, tem sido persistente no pedido para a construção de uma Pátria Grande latino-americana, na qual as fronteiras percam a função de isolar e passem a ser sinônimo de integração. 

“Aos brasileiros tenho que pedir que mais que nunca sejam latino-americanos. Os que falamos espanhol aprendamos a falar português. E os que falam português aprendam a falar castelhano. Pertencemos à mesma matriz neste continente”, afirmou Mujica durante o Seminário Brasil-Uruguai. O presidente assegurou que era um interlocutor confiável, uma vez que “ninguém pode desconfiar do imperialismo uruguaio” e pediu que o Brasil, por sua dimensão, conduza o diálogo latino-americano, mas sem intenções colonizadoras.

Na sede da Fiesp, os discursos sobravam em expressões como Custo Brasil, alta carga tributária,  integração produtiva e balança comercial. O encontro reuniu 58 empresas uruguaias e 52 brasileiras, que dialogam na tentativa de fechar negócios. A federação das indústrias lamentou que o governo brasileiro não tenha firmado convênios bilaterais que permitiriam zerar tarifas para a exportação de produtos e apresentou gráficos mostrando que, na comparação com o Paraguai, o custo da mão de obra brasileira é muito alto, especialmente por conta do pagamento de direitos como refeição, transporte e assistência médica. 

A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, ligada ao Ministério do Desenvolvimento, defendeu por sua vez que o Mercosul só será forte se houver uma grande integração em termos econômicos.

Pequenez

A exemplo do que havia feito a então presidenta do Chile, Michele Bachelet, durante evento similar em 2009, Mujica destacou a “pequenez” do país que comanda. Na ocasião, ao lado do presidente Lula, Bachelet ressaltou a competitividade de sua nação, a possibilidade de conexão rápida com os países asiáticos por meio do Oceano Pacífico e a grande quantidade de acordos comerciais assinados com as nações mais ricas do mundo, feitos que transformavam o território chileno em uma plataforma para as exportações brasileiras.

O Uruguai foi mais modesto. Mujica apresentou as estabilidades social, institucional e política como pontos fortes e apontou que o desafio é crescer de forma sustentável, com redução das desigualdades. “Somos muito pequenos. Nossa atração está na seriedade do cumprimento dos compromissos assinados”, afirmou o presidente.

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