pandemia

São Paulo confirma uma morte por coronavírus e investiga mais quatro; subnotificação é realidade

Em coletiva, representantes da área de saúde do governo paulista revelam falta de informações completas sobre o covid-19 em redes de hospitais privados. Real extensão da epidemia é desconhecida

PBH
PBH
David Uip: "Precisamos ser informados. Existe informação de apenas um hospital. Não sei de outros hospitais privados"

São Paulo – O anúncio da primeira morte por covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus, veio junto com a confissão de subnotificação em relação ao número de infectados. O secretário da Saúde de São Paulo, José Henrique Germann, e o coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus , David Uip, mostraram que não existe acompanhamento intensivo em hospitais privados.

Até o momento, o governo do estado só foi notificado sobre casos de coronavírus por um hospital privado, no qual se registrou a morte de um homem de 62 anos. Ainda estão em análise mais quatro mortes neste mesmo hospital, que podem ter relação com a covid-19.

“Fomos informados hoje”, disse Uip, sobre a morte que aconteceu na noite de ontem (16). “Existem outros quatro óbitos sendo investigados”, completou.

O número de casos graves também é incerto. “Não temos neste momento os números mais graves, porque estão em hospitais privados”, disse o coordenador. “Precisamos ser informados. Existe informação de apenas um hospital. Não sei de outros hospitais privados.”

Evolução

Uip afirmou que a doença parece evoluir mais rapidamente do que o esperado. “O homem que veio a óbito começou a ter sintomas no dia 10 de março, foi internado no dia 14 e morreu ontem, 16. Lamentamos muito o óbito, mas temos que trabalhar com dados. Foi uma evolução muito rápida.”

A contaminação do homem foi por transmissão comunitária. Ou seja, ele não viajou para locais com grande número de casos e também não teve contato óbvio com infectados vindos desses locais.

Até o momento, a doença no Brasil tem como característica circular entre os mais ricos, que eventualmente viajaram para exterior ou entraram em contato com pessoas que viajaram para fora do país. Por este motivo, a grande maioria dos casos está concentrada em hospitais privados.

A preocupação maior é quando a disseminação do coronavírus afetar os mais pobres, de acordo com Uip. “Neste primeiro momento, impactou mais no serviço privado. É questão de horas, dias, para impactar o sistema público.”

A já esperada ampla dispersão, aliada ao avanço mais rápido do que o esperado dos sintomas, deve fazer com que os grupos de risco da população redobrem os cuidados. São eles: idosos, fumantes, pessoas em tratamentos imunodepressores, como os que estão em processo de quimioterapia, e portadores de doenças crônicas, como asma, Aids, entre outras.

“Insisto que, na população mais vulnerável, a atenção deve ser redobrada e a procura mais precoce. Serve como recomendação. Fôlego curto, coloração diferente na ponta dos dedos e nariz, é sinal de hipoxemia”, reafirmou Uip.

Cenários

O secretário disse que mortes são esperadas e que medidas de isolamento devem ser mantidas. “Isso deve acontecer (mortes). As restrições feitas foram progressivas. Começaram com suspensões de aulas e impedimento de aglomerações. Agora as restrições aumentam. Trabalhamos neste cenário”, disse.

Sobre a falta de dados precisos, Uip, bem como todos de sua equipe, minimizaram a subnotificação. Na contramão da orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que pede o máximo possível de testes, os representantes da saúde em São Paulo afirmam que os números precisos não são tão importantes.

“Traçamos cenários. Casos graves servem de referência mas não se estabelece um planejamento em cima disso. Você cria perfis e taxas de infecções”, observou Uip.

Bancos de sangue

Um dos pontos mais importantes da coletiva de Uip trata da questão dos bancos de sangue em São Paulo. O sistema vive uma grande escassez, que está a cada dia mais séria, já que as pessoas, devidamente em quarentena, evitam sair de casa, inclusive para doar sangue. Ele argumenta que isso é um erro, e doar sangue é totalmente seguro.

“Nossos bancos de sangue estão praticamente sem sangue. O com melhor condição tem sangue para uma semana. Isso é muito grave para este momento, o indivíduo não está doando sangue por medo do coronavírus. Se tem um lugar protegido é o banco de sangue. Um ambiente totalmente seguro. A população precisa novamente contribuir”, disse o médico.


Leia também


Últimas notícias