pesquisa da Fiocruz

Apenas 16% das crianças menores de 5 anos receberam duas doses da vacina da covid

Baixa cobertura de vacinas no Brasil expõe crianças a riscos não só da covid, mas de também de outras doenças, inclusive a pólio. Fenômeno é uma das heranças do negacionismo do governo Bolsonaro

Marcelo Camargo/Agência Brasil
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Taxa de vacinação infantil precisa aumentar. Crianças estão sendo vítimas do negacionismo e de doenças evitáveis

São Paulo – Pesquisa do Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância) revela que apenas 16% das crianças brasileiras com 3 e 4 anos tomaram as duas doses da vacina da covid-19. Segundo os pesquisadores, em 28 de abril eram 1.787.613 as crianças com essas idades que receberam a primeira dose. E 926.376 com as duas. Os dados são do Vacinômetro Covid-19, do Ministério da Saúde.

Esses 16% representam que o índice de vacinação triplicou desde novembro, quatro meses depois de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovar do uso emergencial da Coronavac para essas crianças. Na época, o alcance era de apenas 5,5%.

Essa melhora se deu por esforços do Ministério da Saúde. Em fevereiro, passou a recomendar uma dose de reforço para as crianças entre 3 e 4 anos que iniciaram a vacinação contra a covid-19 com a CoronaVac. A administração deve ocorrer no mínimo quatro meses após a segunda dose do esquema primário, preferencialmente com a vacina Pfizer.

Sem vacina, duas crianças morrem a cada três dias

Segundo o Vacinômetro, apenas 38.510 crianças nessa faixa etária tomaram a terceira dose. No total, cerca de 5,9 milhões nessa faixa etária moram no Brasil e devem receber as duas doses mais a dose de reforço da vacina.

Mas os dados não são nada confortáveis, segundo pesquisadores. “O atraso na vacinação infantil contra a covid-19 é preocupante. Até junho de 2022, o Brasil registrava uma média de duas mortes diárias por covid-19 entre crianças menores de 5 anos. Desde a aprovação da Pfizer pediátrica pela Anvisa, em setembro, 26 crianças menores de 5 anos já morreram em decorrência da doença”, disse a coordenadora do Observa Infância, Patricia Boccolini.

Para ter um retrato da situação, os pesquisadores levaram em conta também dados do VAX*SIM, estudo que cruza grandes bases de dados para investigar o papel das mídias sociais, do Programa Bolsa Família e do acesso à Atenção Primária em Saúde na cobertura vacinal em crianças menores de cinco anos. A pesquisa é coordenada pelo Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância), iniciativa conjunta da Fiocruz e do Centro Universitário Arthur Sá Earp Neto (Unifase).

Baixa cobertura vacinal no Brasil

O Observa Infância é uma iniciativa de compartilhamento de dados e informações sobre a saúde de crianças de até 5 anos. O objetivo é ampliar o acesso à informação qualificada e facilitar a compreensão sobre dados obtidos junto a sistemas de informação nacionais.

A baixa cobertura vacinal no Brasil que põe em risco as crianças ocorre não só com a covid. É comum com outras doenças, inclusive a pólio. O fenômeno é uma das heranças nefastas do governo de Jair Bolsonaro. A aposta no negacionismo científico foi uma das marcas do discurso, da propaganda e das ações do governo. E tem reflexo entre os adultos também. Dois anos do início da vacinação de adultos contra a covid no Brasil, a população vacinada com pelo menos duas doses é de 80%. E da que recebeu pelo menos uma dose de reforço não chega a 50%.


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Redação: Cida de Oliveira