O mal pela raiz

editorial

danilo ramos/RBA

Armações nas concorrências do Metrô paulistano são o novo tempero das ruas

A metalúrgica Cintia da Silva Freire da Cruz e o estudante Wesley Mendes Souza, personagens de reportagens distintas desta edição, levam vidas diferentes, mas há muito em comum entre eles. Ela tem 27 anos, é profissional formada, opera um equipamento sofisticado e ascendeu em sua atividade por dedicação e competência. Ele, 17, é jovem aprendiz na área contábil de um hospital, abraça a oportunidade com dedicação e vê o mundo com competência.

Boa profissional, Cintia frequenta ainda atividades de seu sindicato e é apaixonada pela militância. Acha que sindicato não é só “pra resolver seu problema”, mas uma ferramenta de solidariedade e de expressão coletiva. Esforçado, Wesley sente na pele o dissabor de consumir horas do dia para se deslocar de casa para o trabalho, para a escola. E se viu mais importante perante sua comunidade quando participou dos recentes protestos por melhores serviços públicos de transporte, saúde e educação.

Nem todo mundo se organiza e vai à luta, como Cintia e Wesley, mas, como eles, grande parte da população depende de serviços públicos para ter alguma qualidade de vida. Só que nem sempre os governantes governam para ela. Se a maioria dos brasileiros é de trabalhadores, por que há mais deputados e senadores ligados a grandes empresas e corporações? Por que é preciso o povo sair às ruas e brigar para exigir o óbvio? Por que parte da gestão pública é manejada para atender a interesses de quem financia as campanhas eleitorais, e não de quem vota?

É nessa discussão que a reportagem de capa mergulha em raízes da corrupção e da ausência do Estado na vida de quem mais precisa dele. E em que pese o esforço da nossa imprensa em fazer com que as pessoas abominem a política como se fosse ela, em si, a mãe da corrupção, o fato é que: 1) se alguém é corrompido no setor público – como no caso do sistema ferroviário no estado de São Paulo – é porque há alguém do capital privado corrompendo – caso do cartel do Metrô denunciado pela Siemens; e 2) a política, em vez de abominada, deve ser entendida como instrumento para mudar esse estado de coisas.

Felizmente, parece crescer entre os brasileiros a percepção de que uma reforma política é essencial para melhorar o Brasil. A qualidade dos governantes e o aprimoramento da democracia passam pelo financiamento público de todo o sistema eleitoral.