São Paulo – “Afastar o processo eleitoral do poder econômico é a providência mais sensata a ser tomada pelo Congresso Nacional, se quiser estar em sintonia com o clamor do povo que pede igualdade de condições financeiras para os candidatos, como caminho indispensável para uma prática política verdadeira democrática.” Assim o bispo de Jales (SP), dom Luiz Demétrio Valentini, ex-presidente da Cáritas e integrante do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, argumenta em defesa de uma reforma política. O bispo também enfatiza a importância da “lucidez” no momento por que passa o país.

“Ninguém duvida que estamos atravessando momentos difíceis”, afirma, em artigo publicado na página da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). “Aumentam as apreensões, e se desenha pela frente um período de turbulências, que vão colocar à prova a maturidade da nossa democracia.”

Nesse sentido, ele aponta riscos e faz referências ao golpe de 51 anos atrás. “Tanto mais, como cidadãos herdeiros de uma lição histórica, que ainda serve de advertência, precisamos estar atentos a possíveis manobras golpistas. Não podemos repetir a experiência de 64, que levou para a ditadura, da qual saímos a duras penas depois de vinte anos, e dela ainda restam alguns resíduos tóxicos”, diz dom Demétrio.

sacralidade.org

Dom Luiz Demétrio: democracia à prova

Mas o bispo também aponta um lado positivo do atual momento. Cita dois episódios: o movimento dos caminhoneiros, que terminou com a sanção de lei específica para a categoria, e o recuo do Congresso em relação ao pagamento de viagens para cônjuges de parlamentares. “Se não houvesse o alerta da crise, com certeza essas duas providências não teriam sido tomadas. Precisamos valorizar esses momentos de lucidez, para tomar outras decisões, de alcance muito maior. Como por exemplo a reforma política”, afirma.

Para dom Demétrio, é por esse caminho “que o Brasil vai ajustar o formato jurídico que servirá de embasamento para os cidadãos poderem participar das decisões nacionais de maneira viável e adequada”.

Ele afirma que o ponto central da reforma é o financiamento de campanhas. “Com tantos episódios, envolvendo grandes empresas, ficou evidenciado o vínculo da corrupção com as doações de empresas para financiar campanhas eleitorais.”

Em janeiro, o bispo de Jales recebeu mensagem do papa Francisco, por completar 50 anos de ordenação sacerdotal (em 6 de fevereiro).