'tem tempo'

PT tenta consenso e evita antecipar nome em disputa pela presidência da Câmara

Afirmando ter tempo para decidir, parlamentares e dirigentes do partido preferem esperar para aprofundar mais a discussão, sem descartar a possibilidade de acordo para apoio a nome de outra sigla

josé cruz/abr

Partido discute projeto que altera meta de superávit primário, reforma política e regulamentação do direito de resposta

Brasília – Trancados em uma reunião interna desde a manhã desta quinta-feira (13) em Brasília, parlamentares, ministros e dirigentes nacionais do PT discutem estratégias para trabalhar nas articulações do Congresso, nos próximos meses, de modo a fazer com que sejam bem encaminhadas e aprovadas pelo Legislativo questões tidas como prioritárias para o governo. Os principais itens são o projeto que altera a meta de superávit primário, a reforma política, a regulamentação do direito de resposta e, principalmente, a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados.

A definição de um nome para ser candidato à presidência da Câmara pelo PT, que tinha sido apontada como principal pauta do encontro, não será mais definida hoje, conforme era esperado, porque o grupo entendeu que é melhor aguardar algumas semanas para apresentar um nome de consenso, uma vez que há tempo hábil para isso.

Segundo informou o líder do PT na Câmara, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (SP), várias sugestões estão sendo feitas hoje, e a comissão que foi designada pelo diretório nacional para definir o candidato terá mais alguns dias. Integram essa comissão, além de Vicentinho, os deputados José Guimarães (CE), Marco Maia (RS), Arlindo Chinaglia (SP) e Geraldo Magela (DF).

Os motivos do adiamento da candidatura são claros: escolher um nome que tenha não apenas o apoio dos petistas, mas também seja bem aceito pelos outros partidos da base aliada do governo. “Nossa responsabilidade nesse sentido é grande. Como temos tempo, vamos esperar mais um pouco”, acrescentou Vicentinho.

Desistência de Maia

Um dos primeiros empecilhos foi observado com o envio de carta pelo deputado Marco Maia aos colegas petistas, informando que não quer entrar na disputa. Cotado como um dos melhores nomes, uma vez que já presidiu a Casa e teve uma administração elogiada pelos pares, Maia não pôde participar da reunião porque se acidentou recentemente andando de moto. Ele avisou, por meio do texto, que não tem interesse em ser candidato. Ressaltou ainda que nunca teve pretensão de assumir outra vez o cargo de presidente da Câmara.

“A definição que temos é que vamos indicar um nome. Sem pressa, com a cautela necessária”, colocou Vicentinho. Já o atual vice-presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, também ex-presidente da Casa e, assim como Maia, cotado para ser candidato, destacou que o momento é de sondagem de um possível nome, respeitando as candidaturas já postas – como a de Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Chinaglia acentuou que, dependendo de como se configurar o quadro nos próximos dias, caso um conjunto de partidos apresente nomes melhores em outras bancadas, os petistas não se oporão a apoiar tal candidatura. Mas deixou claro que isso não está colocado agora. A declaração mostra uma mudança de posição por parte do PT, que a princípio, vinha se mantendo inflexível e trabalhando com a possibilidade de apresentar, de qualquer forma, uma candidatura do partido.

Na mesma linha, José Guimarães defendeu que pode ser feita negociação, caso o PMDB apresente uma segunda candidatura que não seja a de Eduardo Cunha. “Eduardo Cunha para nós é oposição”, disse ele sobre o deputado, tido como um dos principais opositores das votações de matérias de interesse do governo nos últimos anos.

Guimarães também afirmou que um acordo entre PT e PMDB para que cada partido passe a ocupar a vaga por dois anos – hoje esse acordo prevê que cada uma das duas legendas ocupe a presidência por um ano – também não está descartado.

Reforma política

De acordo com informações de alguns dos parlamentares presentes, em relação à reforma política, o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, sugeriu que a bancada do PT passe a se engajar mais no projeto de iniciativa popular para a reforma política que tem sido alvo de campanha por parte de entidades da sociedade civil. O projeto precisaria de 1,6 milhão de assinaturas e tem perto de 500 mil e consiste em objeto de campanha por parte de entidades como Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), entre outras.

“O tema não chegou a um aprofundamento porque não era esse o objetivo do encontro, mas faremos avaliações do cenário dentro de pouco tempo. Queremos um debate para valer (sobre a reforma política)”, disse o deputado Arlindo Chinaglia.

A reunião, que está sendo realizada no Centro de Formação de Servidores da Câmara dos Deputados (Cefor) e continua ao longo da tarde, conta com a presença dos ministros Ricardo Berzoini, das Relações Institucionais, Aloizio Mercadante, da Casa Civil, e Gilberto Carvalho. Além deles, também participam da conversa com os deputados o líder do Senado na Câmara, Humberto Costa (PE), e o presidente nacional do PT, Rui Falcão.