Impeachment

Planalto tenta negociar com Temer e PMDB cargos e manutenção de Padilha

Executivo quer demover ministro da Aviação Civil de sair, com o oferecimento de vagas pedidas por ele. Ideia é aproximar o vice e a ala mais distante de peemedebistas

memória/ebc

Eliseu Padilha enviou comunicado ao Planalto pedindo exoneração do cargo na semana passada

Brasília – Não adiantou fazer reforma ministerial, remanejamento de cargos, nem promessas de liberação de projetos para as bases partidárias. Quando se trata do PMDB, por mais que o assunto sempre provoque polêmica, os apoios a serem definidos precisam ser discutidos de forma isolada, a cada problema. Agora, com a crise criada após a abertura do processo de impeachment, conforme afirmaram hoje (7) integrantes da base aliada no Congresso, a situação é a mesma. O vice-presidente, Michel Temer, que está em São Paulo, tem dado declarações contraditórias sobre sua postura, o que irritou muita gente no Palácio do Planalto. E o governo, por sua vez, embora com negativas oficiais, intensifica as articulações não apenas de mais aproximação com Temer como no afago aos outros nomes do partido.

Há pouco, a presidenta Dilma Rousseff afirmou que confia integralmente na lealdade do seu vice-presidente. Mas o que é tido como certo no Congresso e nos ministérios é que o primeiro caminho nestas “conversações” tem como alvo o secretário nacional de Aviação Civil, Eliseu Padilha, que na última semana enviou comunicado pedindo exoneração do cargo. Padilha, um peemedebista bastante ligado a Temer que tem entrosamento com parlamentares de várias bancadas no Congresso, jogou a toalha alegando como motivo disputas internas para nomeação de cargos dentro da sua pasta com petistas. Por isso, foi chamado para uma audiência na tarde desta segunda-feira com o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner.

O objetivo do encontro é pedir a ele que continue no governo e negociar o atendimento às nomeações solicitadas por Padilha. Ou, se não houver retorno da sua posição, oferecer o cargo a outro peemedebista de peso da mesma ala, dentro da equação para garantir o apoio a Dilma no pedido de impeachment. Outros dois nomes que estão sendo chamados para participar das reuniões são os ministros do Esporte, Henrique Eduardo Alves (RN), e da Saúde, Marcelo Castro (BA).

Constrangimento e críticas

Em relação a Temer, os acenos foram feitos pela própria presidenta, no sábado e hoje, com declarações elogiosas ao vice e confiantes no seu apoio. Mas entre pessoas do gabinete de Temer, as informações são de que ele tem evitado falar a respeito por ter consciência de que é motivo de especulações no país neste momento e, principalmente, para deixar a presidenta mais à vontade. Mas já teria comentado que se sente constrangido com as declarações de Dilma, porque as considera como uma forma de pressioná-lo.

Ao blog do jornalista Josias de Souza, nesta manhã, o vice afirmou que sua posição é de neutralidade e garantiu que terá lealdade “institucional”. Ou seja: continuou a se manter em cima do muro em relação ao impeachment. E não tem sido poupado das acusações de conspirador. “Temer é sócio do impeachment e aliado do golpe”, afirmou ontem o ex-ministro da Integração Nacional Ciro Gomes (PDT).

Tendo sido por conta das críticas de Ciro Gomes, das especulações sobre o seu comportamento pelos políticos de um modo geral, pelas chamadas do Planalto aos peemedebistas para conversas ou pelos afagos da presidenta Dilma, o certo é que o vice-presidente deu sinais de recuo nos últimos dias em relação ao que se especulou sobre contatos dele com caciques do PSDB – dentre os quais, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, com quem se encontrou num almoço de empresários.

Temer cancelou participação em um evento hoje, no Palácio dos Bandeirantes, no qual ficaria ao lado de Alckmin, para evitar maiores especulações, conforme confirmou um integrante de sua assessoria. E tanto o Executivo como líderes da base esperam com certa ansiedade o que sairá da conversa de Jaques Wagner com Eliseu Padilha.

Nomes da comissão

Na Câmara, o líder peemedebista Leonardo Picciani (RJ) já indicou cinco dos oito cargos de representantes do partido para integrar a comissão especial que vai analisar o impeachment. Desses, além dele, quatro são deputados que prometem atuar contra o impeachment e favoráveis ao Planalto: Hildo Rocha (MA), João Arruda (PR), José Priante (PA) e Washington Reis (RJ). O que se espera é que os outros três nomes saiam do outro grupo do PMDB. O que é favorável ao rompimento da aliança da legenda com o PT e a saída do governo. E, em consequência, quer o impeachment.

É a partir da reaproximação dos nomes ligados ao vice que passa o desenho mais próximo das negociações no momento. Negociações que, dependendo do desenrolar, vão repercutir em pedidos de paciência a outros ministros do PT para o remanejamento de outras vagas e na nomeação de novos cargos para integrantes do PMDB. “É uma aliança complicada e cara demais, essa. O governo se livrou da chantagem do Eduardo Cunha, mas ainda precisa encarar essa banda do PMDB que sempre foi problemática”, reclamou um parlamentar, esta manhã.