Por racismo

TJ-DF nega recurso, e Nelson Piquet deve pagar R$ 5 milhões de indenização por racismo

Ex piloto é amigo próximo de Bolsonaro. Tanto que emprestou galpão da sua fazenda em Brasília onde o ex-presidente guardou caixas do “acervo pessoal”, como estojo de joias sauditas

Marcelo Camargo/Agência Brasil
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Amizade: Rolls Royce conduzido por Nelson Piquet leva Bolsonaro a cerimônia do 7 de Setembro de 2021 no Alvorada

São Paulo – O Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) negou recurso apresentado pela defesa do ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet, que foi condenado por ofensas racistas ao colega britânico Lewis Hamilton. Ele continua obrigado a pagar R$ 5 milhões a fundos de promoção da igualdade e contra a discriminação, a título de indenização por danos morais coletivos, segundo a decisão do juiz substituto Pedro Matos de Arruda em março.   

Em uma entrevista em 2021, Piquet chamou Hamilton de “neguinho”, ao comentar um acidente entre Hamilton e o piloto holandês Max Verstappen no Grande Prêmio da Inglaterra daquele ano.  

Em comunicado divulgado em junho de ano passado, o ex-piloto disse que o que havia dito foi “mal pensado”, e alegou que “neguinho” é um “termo historicamente utilizado coloquialmente no português brasileiro como sinônimo para ‘cara’ ou ‘pessoa’”.

Mas Piquet não disse só isso. Ao falar sobre o campeão da F1 de 2021, Keke Rosberg, respondeu: “O Keke? Era um bosta, não tinha valor nenhum. É que nem o filho dele (Nico Rosberg). Ganhou um campeonato. O neguinho (Hamilton) devia estar dando mais c…* naquela época, tava meio ruim”, afirmou.

Mais do que amigo de Bolsonaro

Mais do que apoiador do ex-presidente, o tricampeão de Fórmula 1 é amigo muito próximo de Bolsonaro. Tanto que dirigiu o Rolls Royce que levou o ex-chefe de governo ao Palácio da Alvorada na comemoração do 7 de setembro de 2021.

Como se descobriu depois, Piquet guardava em sua fazenda, em área nobre de Brasília, cerca de 9 mil presentes ganhos pelo ex-presidente no período em que chefiou o governo. O ex-automobilista emprestou um galpão de 195 m³ onde foram guardadas 175 caixas do “acervo pessoal” de Jair Bolsonaro. Lá estava também “escondido” pelo menos um dos conjuntos de joias sauditas que Bolsonaro foi obrigado a entregar à Caixa Econômica Federal.

Piquet chegou a doar R$ 501 mil à campanha da reeleição do ex-presidente. Para calcular a multa de R$ 5 milhões que aplicou ao ex-piloto, o juiz levou em conta essa mesma doação. Se a Justiça Eleitoral limita o valor de doação a 10% dos rendimentos brutos do doador, Piquet teria arrecadado em 2021 ao menos R$ 5 milhões.

Denúncia na PGR

O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) protocolou uma denúncia na Procuradoria-Geral da República (PGR), no ano passado, por improbidade administrativa contra o governo Bolsonaro. A Autotrac Comércio e Comunicações, empresa presidida por Piquet, faturou R$ 6.683.791,80 por um contrato assinado com o Ministério da Agricultura, em 2019, sem licitação, segundo a denúncia.