República Miliciana

PF encontra documentos da Abin na casa de Ramagem; há suspeita de elo com milícia

Papéis tratam de operação em comunidades do Rio dominadas pelo tráfico, onde as milícias têm interesse de entrar, e foram mantidos ilegalmente pelo deputado

Valter Campanato/Agência Brasil
Valter Campanato/Agência Brasil
A PF apura se houve algum desvio de finalidade nessa operação, executada por policiais federais aliados a Ramagem

São Paulo – A Polícia Federal encontrou documentos sobre uma operação da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em comunidades do Rio de Janeiro mantidos ilegalmente na casa do deputado federal Alexandre Ramagem (PL). Ex-diretor da Abin durante o governo Jair Bolsonaro, Ramagem é alvo de investigação da PF que apura esquema de espionagem ilegal contra adversários do ex-presidente durante sua gestão, a chamada “Abin Paralela”. Os documentos foram encontrados durante a operação de busca e apreensão no último dia 25 de janeiro.

De acordo com informações do porta UOL, os papéis estavam na residência do parlamentar descaracterizados, sem logo ou identificação da Abin, e sem data. E tratam de detalhes de uma operação da agência realizada em junho de 2022, em comunidades do Rio de Janeiro dominadas pelo tráfico, onde as milícias têm interesse de entrar, como revelou o site Metrópoles. Na época, segundo a publicação, a Abin sob Ramagem gastou recursos – R$ 1,5 milhão – de sua verba secreta para pagar informantes nessas regiões.

A ação se chamava “Plano de Operações 06/2021” e foi uma das maiores prioridades de Ramagem durante sua gestão, segundo fontes da agência, apesar de a área de segurança pública não fazer parte das atribuições da Abin. A agência deve atuar só quando há risco à segurança nacional, mostra a reportagem. Além disso, pela norma, Ramagem não poderia manter a posse destes documentos após ter deixado o cargo de diretor da organização. O mesmo vale para o notebook e celular da Abin que também foram encontrados em sua casa no dia da operação.

Ajuda a milicianos

A PF apura se houve algum desvio de finalidade nessa operação, executada por policiais federais aliados a Ramagem. Ele pode responder administrativamente e até criminalmente pela posse irregular dos itens. No segundo caso, o crime em questão seria o de violação de sigilo profissional. É preciso, no entanto, que se comprove, neste caso, a entrega de informações de inteligência para terceiros. A PF investiga de onde veio o documento e quando ele foi produzido.

Outra dúvida é se essas informações foram repassadas a policiais do Rio ou para ajudar milícias a tomarem o controle dessas áreas. Ramagem é aliado de primeira ordem da família Bolsonaro, que indícios de ter relação com milícias, de condecorações dadas a policiais criminosos até contratação de familiares de milicianos em gabinete na Assembleia do Rio.

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