Dia de Lutas

Petistas criticam base aliada e reafirmam importância do ‘povo nas ruas’

'As pessoas têm de sair de casa e dizer que querem plebiscito, porque nem a própria base aliada quer', diz dirigente do PT: reforma política integra pauta das mobilizações

Jane Araújo/Agência Senado

Dilma mantém alianças com o PRB de Crivella e o PMDB de Sarney

São Paulo – Parlamentares e dirigentes do PT criticaram hoje (11) as alianças estabelecidas pelo governo da presidenta Dilma Rousseff no Congresso Nacional e reafirmaram a necessidade de um plebiscito sobre reforma do sistema eleitoral como melhor instrumento para politizar a sociedade e combater a corrupção. Petistas participam, junto com centrais sindicais e movimentos sociais, do Dia Nacional de Lutas, que nesta quinta-feira ocupa as ruas de ao menos 13 capitais para pressionar o Estado em prol de reformas que beneficiem os trabalhadores.

“Fernando Collor, que combatemos a vida inteira, Renan Calheiros e José Sarney são todos da base aliada, até o Paulo Maluf. Olha a base aliada que arranjamos”, lamentou à Rádio Brasil Atual o secretário de Comunicação da executiva estadual do PT em São Paulo, Aparecido Luiz da Silva, o Cidão, destacando a presença de dois ex-presidentes e de um ex-governador na bancada governista no Congresso – dois deles notórios colaboradores do regime militar. “Olha os amigos que temos para governar.”

Esta semana a base aliada decidiu rejeitar a proposta de Dilma Rousseff para promover um plebiscito sobre a reforma política. A articulação, comandada pelo PMDB, tomou como base a argumentação de que não haverá tempo para aprovar as mudanças a tempo de que sejam aplicadas nas eleições de 2014. Com isso foi formado um grupo de trabalho no Legislativo para apresentar propostas em 90 dias.

Cidão afirma que as alianças costuradas pelo governo têm como moeda de troca a concessão de ministérios e outros cargos na administração federal, como a direção de autarquias, agência reguladoras e empresas estatais. “Se não der cargo, não tem governo”, critica. Por isso, o petista lembra da importância do “povo nas ruas” para pressionar governo e parlamentares a aprovar mecanismos que limitem o poder de barganha dos partidos. “As pessoas têm de sair de casa e dizer que querem plebiscito, porque nem a própria base aliada quer.”

Apesar da oposição de algumas centrais, como a Força Sindical, a consulta popular para a reforma política está no centro das reivindicações do PT neste Dia Nacional de Lutas. “Se a gente partisse para financiamento público, baratearíamos as campanhas e as pessoas passariam a votar não em pessoas, mas em projetos de partidos”, defende Cidão. “O financiamento privado é bom para as empreiteiras e para a agroindústria.”

O secretário de Comunicação do PT adverte que os recursos empenhados por grandes empresas nas campanhas de deputados e senadores não conseguem ser pagos pelos parlamentares eleitos. “É dinheiro que em salário não volta”, sustenta. “Ninguém se elege por causa de salário. Eles são financiados por ruralistas, por exemplo, para depois votar contra reforma agrária e Código Florestal. Parte dos congressistas é testa de ferro de banqueiros, grande imprensa, empreiteiras ou multinacionais.”

Trabalhadores

Apesar de também levantar a bandeira da reforma política, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) engrossa suas reivindicações com pautas essencialmente trabalhistas, como o fim do fator previdenciário, a redução da jornada de 44 horas para 40 horas semanais, sem reducação de salário, e a derrubada do Projeto de Lei 4.330, de 2004, que amplia as terceirizações no país.

“Vários categorias estão mobilizadas: bancários, metalúrgicos, trabalhadores ocupando a Avenida Paulista, cobrando pautas importantes, como redução da jornada: é importante reduzir, gerar mais postos para classe trabalhadorea brasileira, com qualdade”, defende Luiz Cláudio Marcolino, deputado estadual do PT e ex-presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo. “Essa paralisação é importante.”

“A assombração da terceirização ronda os trabalhadores há muito tempo”, continua, alertando sobre os riscos da aprovação do projeto apresentado pelo deputado Sandro Mabel (PMDB-GO). “Hoje há trabalhadores terceirizados em várias atividades, mas (se o texto for aprovado) vai poder terceirizar qualquer área, deixar de ter trabalhador com carteira assinada. Essa mobilização serve para debater com população, projeto que acaba com relações trabalhistas no Brasil.”

Marcolino argumenta que as pautas defendidas pelas centrais durante o Dia Nacional de Lutas trasncendem o universo dos trabalhadores e são importantes para toda a sociedade “porque geram mais renda, mais emprego, mais recursos na economia e melhor desenvolvimento do país”. De acordo com o parlamentar petista, caberá aos movimentos sociais “cobrar” da bancada governista no Congresso e “fazer pressão” junto à Casa Civil para que medidas que prejudiquem a classe trabalhadora não sejam aprovadas.