Pesquisas ‘preocupam’ ao mostrar polarização entre candidatura democrática e autoritária
Denise Montovani diz que, apesar de favoritismo do petista, resiliência de Bolsonaro chama a atenção
Publicado 17/03/2022 - 10h36
São Paulo – As pesquisas eleitorais apontam para uma polarização no Brasil, que se divide entre o apoio a uma candidatura vinculada ao campo democrático, representada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e um candidato com viés autoritário, o atual chefe do Executivo Jair Bolsonaro (PL). Para Denise Montovani, pós-doutora em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB), o cenário é “preocupante” e pode trazer riscos às eleições.
De acordo com ela, apesar do favoritismo de Lula, não se pode subestimar a força do apoio ao movimento antidemocrático que Bolsonaro encarna. A especialista reforça a necessidade de a sociedade e as instituições ficarem atentas aos ataques à democracia, porque “não será uma eleição como as outras”.
“Estamos vendo uma discussão sobre dois projetos bastante distintos. Nós estamos em um período pré-eleitoral e com candidatos de características distintas. Enquanto Lula está no campo democrático, o atual presidente é uma candidatura autoritária e antidemocrática, pois não respeita as regras e vive de mentiras”, afirmou Denise, em entrevista a Rodrigo Gomes, no Jornal Brasil Atual.
A pesquisa realizada pela Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira (16), mostra que o ex-presidente Lula lidera as intenções de voto no primeiro turno, com 45% , enquanto o atual presidente, Jair Bolsonaro, segue em segundo lugar, com 25%. “O país vive uma desestruturação intencional que atinge diretamente os brasileiros, e mantém 25% de apoio. Apesar do favoritismo de Lula, é importante se atentar à resiliência de Bolsonaro”, comenta a pós-doutura.
Costumes x economia
Denise Montovani diz que as pesquisas evidenciam a polarização que gira em torno de pautas como as de costumes quando se observa o perfil dos apoiadores de cada um dos candidatos. Segundo a pesquisa PoderData realizada entre os dias 13 e 15 de março, Bolsonaro tem 46% das intenções de voto dos eleitores evangélicos no primeiro turno e Lula, que lidera as intenções de voto no cômputo geral, tem 22% neste segmento.
Para ela, a campanha bolsonarista continuará se promovendo por meio da pauta associada à moral para disseminar medo e mentiras sobre os adversários. Enquanto isso, Lula tentará falar sobre revogação do teto de gastos e da reforma trabalhista, apontando como o atual projeto político representa uma crise social e econômica do Brasil.
“O bolsonarismo atua pelo caminho da manipulação do medo, com mentiras e fake news. Como Bolsonaro é antidemocrático, ele vai atuar por um terreno movediço, usando a pauta dos costumes e explorando o preconceito contra setores da sociedade. Portanto, diante desse discurso moralista, Lula irá precisar atuar além da denúncia da destruição econômica do país e precisará se proteger de falas que tentarão enquadrá-lo numa retórica reacionária”, afirmou a cientista política.