leite derramado

Para Frei Betto, PT errou ao escolher PMDB como aliado

Escritor indica necessidade de ampliação da mobilização social para 'reinventar' a cidadania brasileira

Antonio Cruz/Agência Brasil

Enquanto Dilma cuida da economia, Calheiros tenta deslocar o eixo do poder do Planalto para o Senado

São Paulo – Em seu comentário para a Rádio Brasil Atual, o escritor e assessor de movimentos sociais Frei Betto comentou a aliança entre PT e PMDB, afirmando que não adianta mais chorar o leite derramado, que é necessário reinventar as bases políticas.

“Reza o ditado que não adianta chorar sobre o leite derramado, nada fará com que ele retorne ao copo, ou à garrafa. Isso se aplica na política brasileira, no fenômeno Eduardo Cunha (presidente da Câmara dos Deputados). O PT, ao fazer opção preferencial pelo PMDB, agora colhe o que semeou. Acreditou que 300 picaretas iriam, da noite para o dia, se tornar pazinhas adequadas para encher seu caminhão de areia, ou seja, de apoio no Congresso”, afirma.

Frei Betto compara a situação atual com o momento em que Evo Morales assumiu a presidência da Bolívia. “Ele não tinha apoio do mercado e nem do Congresso. Mobilizou seus aliados históricos: os movimentos sociais. Assim, conseguiu modificar o perfil do Legislativo boliviano e obteve o apoio do mercado. De todos os atuais governos progressistas da América Latina, o de Evo Morales, na Bolívia, é o que apresenta resultados mais positivos e solidez política”.

O analista prossegue: “O Brasil melhorou nos governos Lula e Dilma? Melhorou muito, como nunca na nossa história republicana. Porém, o belo carro do neodesenvolvimentismo trafegou em estrada esburacada. Não se cuidou para cuidar das bases da sustentabilidade. Nenhuma reforma estrutural foi feita nos 12 anos de governo petista, nem agrária, nem tributária, nem política”, analisa.

Frei Betto lembra da inclusão econômica de 45 milhões de brasileiros, que para ele, porém, não foi acompanhada pela redução da desigualdade social. “Estimulou-se o consumismo, sem politizar a nação. Os rentistas especuladores nadaram de braçada, maquiou-se a economia com a desoneração tributária às grandes empresas.”

Segundo o comentarista, chegou a hora de fazer o balanço dos erros e acertos. Entretanto, ao chamar Joaquim Levy (ministro da Fazenda) para a economia, o governo sacrifica os mais pobres. Enquanto isso, Eduardo Cunha e Renan Calheiros (presidente do Senado) deslocam o eixo do poder do Planalto para suas Casas Legislativas.

“A gente se pergunta, cadê o Conselhão? Aquele aglomerado de empresários, líderes sindicais e cientistas sociais que Lula e Dilma, em seus primeiros mandatos, reuniam para ouvir opiniões. Cadê o diálogo com os movimentos sociais? Cadê a agenda positiva capaz de fazer sombra às reiteradas denúncias de corrupção? Cadê o projeto de construir um novo Brasil?”, indaga.

“O que precisamos fazer é, quanto antes, reinventar, a partir de nossas bases, de nossa cidadania, de nosso movimento, o processo político brasileiro”, afirma Frei Betto.

Ouça o comentário na integra para a Rádio Brasil Atual: