2018 é logo ali

Analistas veem disputa no PSDB mais à ‘direita’ em 2018, com Alckmin e Aécio

Para cientistas políticos, senador de Minas faz aposta errada ao tentar capitalizar ataques ao governo, exagera ao se deixar pautar pelo conservadorismo e governador de SP leva vantagem em disputa futura

Marcelo Camargo/ABR e George Gianni/PSDB

Governador de SP adota conduta mais cautelosa, enquanto senador mineiro convoca protestos ao lado de golpistas

São Paulo – Os movimentos dos dois postulantes mais bem posicionados no PSDB para pleitear a presidência da República em 2018, Aécio Neves (MG) e Geraldo Alckmin, são claros e no momento opostos. Faltando cerca de três anos para o nome ser definido (em 2014, o senador mineiro foi confirmado candidato em 14 de junho), o governador de São Paulo adota postura conciliadora, inclusive em relação à presidenta Dilma Rousseff, e aparentemente tem o apoio antecipado da cúpula da legenda, que é paulista.

Aécio se movimenta com discurso radicalizado, discursou pelo impeachment durante todo o início do segundo mandato de Dilma e abraçou setores da sociedade claramente identificados com a direita e mesmo a extrema direita. Em prévia talvez precipitada, mas emblemática, no domingo (14) o PSDB de São Paulo, em convenção do partido, lançou o nome de Alckmin para a disputa. “O Brasil está doente e precisa de um médico para salvá-lo”, disse o deputado estadual Pedro Tobias, presidente do diretório estadual.

A julgar pelas opiniões de analistas políticos ouvidos pela RBA, o governador de São Paulo sai na frente.

Para o cientista político Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília (UnB), a votação de 51 milhões de votos que Aécio teve em 2014 poderia até credenciá-lo a ser o candidato natural em 2018. “Mas houve o problema de ele ter perdido em casa (Minas), e o núcleo decisório do PSDB, que já é um partido paulista, sempre esteve concentrado em São Paulo. O partido teve de fazer um esforço para sustentar o candidato de outro estado e, se já não via isso com bons olhos, agora muito menos”, diz. “Pode-se contrapor dizendo que é preciso ganhar outros estados e Minas é sempre o outro estado chave. Mas perder em casa é imperdoável, é um pecado mortal e o Aécio vai sofrer muito por causa disso.”

Outro fator que pesa contra Aécio Neves é sua própria estratégia pós-eleitoral. “A estratégia dele é equivocada. Está se transformando num líder do movimento das ruas, no que tem de mais agressivo e negativo. É uma aposta errada tentar capitalizar isso. Alckmin está sendo mais prudente, mais sensato e mais eficaz no sentido da postulação à candidatura”, opina o cientista político Fábio Wanderley Reis, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Para Reis, o equívoco de Aécio se dá, inclusive, porque sua leitura dos movimentos anti-PT, contra Dilma e pelo impeachment, pode ser traiçoeira e não se refletir na realidade que mais importa, justamente a eleitoral. “Existe um hiato, entre o que a gente vê em termos de manifestações de quem vai à rua gritar ‘impeachment já’ e a parcela da população capaz de ganhar eleições. Não há razão para presumir que a parcela da população que cria essa polarização atual seja decisiva na hora do voto.”

Para ele, isso ficou claro na eleição do ano passado. Em 2014, apesar das “idas e vindas” do processo eleitoral e do desgaste de Dilma desde 2013, o resultado não foi a aposta da oposição. “Na hora do voto, as coisas foram diferentes. Bem ou mal a Dilma termina eleita. A postura atual de Aécio é um erro de cálculo. Ele está criando uma imagem negativa. Sua cara típica, que a gente vê nas fotos, é uma cara de raiva, de garoto briguento. Alckmin está caminhando melhor nessa direção, de se apresentar como uma liderança mais responsável e atenta aos problemas que essa polarização (PT e anti-PT) tende a criar ou ajudar a criar.”

Também na avaliação de Leonardo Barreto, o senador mineiro pode estar cometendo um erro de avaliação. Aécio calcula que a principal variável que explica seu eleitorado foi o antipetismo, mas o senador pode não ser o antipetista escolhido em 2018. “As pessoas votaram nele muito mais porque ele se constituía na principal força anti-PT com chances de vencer do que propriamente pelos seus atributos e qualidades pessoais. Isso o levou a um processo de radicalização e ele acabou se deixando pautar ou sequestrar por esses movimentos.”

Terceira força

Além disso, Barreto acredita que, apesar de ter avançado, ocupado espaços e fazer barulho, essa direita não é tão representativa quanto se pensa, e a aposta no discurso raivoso pode significar o naufrágio de Aécio enquanto possibilidade eleitoral. A “terceira força”, num cenário de polarização PT x PSDB, para o professor da UnB, não tende a se identificar com a direita, mas com a centro-esquerda, o que o voto em Marina Silva de certa maneira confirma, já que a ex-petista recebeu muitos votos de eleitores decepcionados com o PT, mas que se recusaram a migrar para Aécio.

“A terceira força é muito mais progressista do que conservadora. Com a perda de credibilidade do PT, que sofre um desgaste inevitável e vai com um passivo grande às próximas eleições, e com várias candidaturas com apelo de direita, esse espectro de centro-esquerda talvez fique órfão. Ao ir demais para a direita, Aécio estaria abrindo um flanco para entrar aí a alternativa de um outro partido de esquerda, talvez o PSB ou mesmo um PMDB, mas aí com um discurso mais conservador.”

Para o professor da UnB, ainda é preciso considerar o fato de que, apesar do enorme desgaste, o próprio PT pode ainda ocupar o espaço da centro-esquerda “na figura de um Lula inesperadamente competitivo”.

A professora Maria do Socorro Sousa Braga, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), também vê fragilidade no campo da direita. “Hoje não tem um grande partido de direita, a não ser que se considere que seja o PSDB. Mas se não for ele, já que há uma mistura dentro do partido, qual seria? O DEM está se esvaziando cada vez mais, parece que a tendência é sair até o grupo do ACM Neto.”

Oposição frágil

Na opinião da professora, é preciso considerar também um outro fator na disputa Aécio x Alckmin. “A briga é forte desde já porque a oposição também está frágil. Essa fragilidade acaba trazendo maior conflito interno”, diz.

Para ela, além da fragilidade programática e política atual da oposição, a divisão do PSDB existe e pode dificultar ainda mais as coisas para o partido, que, apesar da postura raivosa de Aécio, ainda abriga setores identificados com uma classe média mais progressista, que está longe de se identificar com o senador. “O PSDB tem dentro dele um setor mais social-democrata, e esse pessoal é claro que vai divergir, tanto do Alckmin como de Aécio. Quanto maior a divisão interna, maior a dificuldade de encontrar um candidato consensual.”

A professora entende que esses grupos mais progressistas do PSDB tendem a divergir também de Alckmin porque, embora o governador adote movimentos cautelosos e atitudes políticas conciliadoras, ele está longe de ser progressista. “Os dois são de direita. Alckmin sempre se relacionou com setores reacionários de São Paulo, tem a política de segurança pública forte e repressora, por exemplo, que mostra isso. Só que ele se relaciona com os poderes de forma mais aberta.”

Como governador, Alckmin carrega a chamada “faca de dois gumes”. “Estar no governo é uma vitrine, se ele for bem. Se for mal, é um problema”, diz Maria do Socorro, que lembra como fator negativo a grave crise hídrica do estado de São Paulo.

Aécio teria uma vantagem considerável, que é o chamado “capital” dos 51 milhões de votos de 2014, o que lhe daria mais possibilidades pensando no Brasil como um todo, incluindo o Nordeste, onde Alckmin ainda não penetra. “Mesmo assim eu diria hoje que Aécio estaria atrás do Alckmin”, avalia Leonardo Barreto.

Por enquanto, os analistas não veem outro nome, nem mesmo o senador José Serra, no páreo da corrida tucana. “Serra? É possível, mas em princípio, potencialmente, o Serra é um candidato menos viável, já teve sua chance, se desgastou, é uma figura já derrotada, de certa maneira”, diz Fábio Wanderlei Reis. “Serra para mim está fora do páreo”, diz Maria do Socorro.