Gleisi e CGU criticam relatório da Transparência Internacional: ‘Termômetro desregulado’
“De transparente só tem o nome”, disse Gleisi, que destacou a relação da ONG com a Lava Jato. Ministro Vinícius de Carvalho também falou sobre “diagnósticos equivocados” na iniciativa da entidade de rebaixar o Brasil no Índice de Percepção da Corrupção
Publicado 30/01/2024 - 19h07
São Paulo – A presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), criticou duramente um relatório da ONG Transparência Internacional (TI) que apontou que o Brasil caiu no ranking global sobre percepção da corrupção. Na mesma linha, o ministro da Controladoria-Geral da União, Vinícius Marques de Carvalho, classificou como “termômetro desregulado” o índice apresentado nesta terça-feira (30).
A TI afirma que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) destruiu “marcos legais e institucionais anticorrupção”, mas o governo Lula vem falhando na “reconstrução” desses mecanismos. Reclama da nomeação do ministro Cristiano Zanin, “advogado pessoal do presidente”, para o Supremo Tribunal Federal (STF).
Do mesmo modo, reprovou a indicação do ministro Flávio Dino, dessa vez pelo “perfil político para um tribunal já excessivamente politizado”. E também critica a escolha de Paulo Gonet, fora da “lista tríplice”, como novo chefe da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Em função disso, e de outros pontos, a TI tirou dois pontos do Brasil no Índice de Percepção da Corrupção (IPC), de 38 para 36. Assim, o país ficou na 104ª colocação entre os 180 países avaliados, caindo 10 posições em relação ao ano anterior.
Nesse sentido, a ONG classificou o desempenho como “ruim”, “abaixo da média global (43 pontos), da média regional para Américas (43 pontos), da média dos BRICS (40 pontos) e ainda mais distante da média dos países do G20 (53 pontos) e da OCDE (66 pontos)”.
Passou dos limites
Gleisi destacou que a Transparência Internacional tem “longa trajetória de desinformação sobre os governos do PT”. Mas dessa vez, “passou dos limites”. Para ela, classificar como “retrocesso” as escolhas para o STF e a PGR “revela apenas a má vontade e a oposição política da ONG a Lula e ao PT”.
“Queriam que Lula indicasse procurador-geral e ministros lavajatistas? Expliquem antes quem financia vocês, abram suas contas, expliquem os negócios em que se envolveram com Moro e Dallagnol. Poucos saíram tão desmoralizados das investigações sobre os crimes da Lava Jato quanto a tal Transparência Internacional, que de transparente só tem o nome”, afirmou a petista.
Em 2016, a Transparência Internacional premiou a Lava Jato pelo suposto trabalho no combate à corrupção. Na ocasião, o então procurador Deltan Dallagnol foi recebido “com estardalhaço” em Berlim, sede da organização.
ONG Transparência Internacional tem longa trajetória de desinformação sobre os governos do PT, mas no relatório anual divulgado ontem passaram dos limites. Acusar de retrocesso a indicação dos ministros Cristiano Zanin e Flavio Dino ao STF, além da escolha de Paulo Gonet para a…
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) January 30, 2024
Posteriormente, a série de reportagens da Vaza Jato revelou os verdadeiros interesses da ONG. A TI pretendia gerenciar, junto com a Lava Jato, um fundo de R$ 2,5 bilhões recuperados dos desvios na Petrobras, para financiar supostos projetos de “combate à corrupção”.
Além disso, o vazamento das conversas também revelou proximidade entre Dallagnol e o então presidente da ONG Bruno Brandão. Os recursos seriam geridos por uma “fundação”, com nomes indicados pela própria Lava Jato. Incluiriam também representantes da sociedade civil, como a Transparência Internacional, por exemplo.
“As investigações sérias revelaram que a TI foi não apenas cúmplice de Sergio Moro e Dallagnol na perseguição a Lula e ao PT: seus dirigentes tornaram-se sócios nas tentativas da dupla de se apropriar de recursos públicos ilegalmente, o que foi felizmente barrado pelo STF”, ressaltou Gleisi.
Percepção
Já a CGU afirmou que índices baseados em percepção possuem “limitações metodológicas” e pregou cautela na análise dos resultados. “A corrupção é um fenômeno complexo e nenhum indicador consegue medir todos os seus aspectos”, frisou o órgão de fiscalização e controle.
Para o ministro Vinícius de Carvalho, o IPC “é um termômetro conhecido, mas que apresenta problemas”. “Especialistas do mundo todo dizem, há mais de uma década, que o termômetro do IPC tem problemas. Essas críticas precisam ser levadas a sério e debatidas”, escreveu nas redes sociais.
Especialistas do mundo todo dizem, há mais de uma década, que o termômetro do Índice de Percepção da Corrupção tem problemas. Essas críticas precisam ser levadas a sério e debatidas. Um termômetro desregulado leva a diagnósticos equivocados.
— Vinicius Marques de Carvalho (@mcarvalhovini) January 30, 2024
Para a formação do índice, a ONG consulta 13 fontes de dados advindas de 12 instituições diferentes (empresas de consultorias, especialistas, think tanks empresariais, etc.). Dentre elas, estão o Banco Mundial, o Fórum Econômico Mundial e a Freedom House, organização independente mas amplamente financiada pelo governo dos Estados Unidos.
Além disso, entre os financiadores da Transparência Internacional, estão governos ocidentais – Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Noruega e Suécia, dentre outros –, fundações internacionais – Ford, Gates, Open Society – e grandes empresas, como Google, Microsoft, Shell e Coca-Cola.
O secretário nacional do Consumidor do Ministério da Justiça, Wadih Damous, o jurista Pedro Serrano e o jornalista Reinaldo Azevedo também utilizaram as redes sociais para questionar o ONG. Assim, o termo “Transparência Internacional” figurou entre os termos mais comentados do X (ex-Twitter) ao longo do dia.
Estou com uma lupa procurando a credibilidade da tal Transparência Internacional, que de transparente nada tem. Com que autoridade pode medir corrupção, de seja lá quem for, uma entidade que se mancomunou com a Lava Jato e que iria gerir o fundo bilionário do Dallagnol?
— Wadih Damous (@wadih_damous) January 30, 2024
Essa Transparência Internacional tem pouco de Transparência e muito de Internacional para o meu gosto!
— Pedro E. Serrano (@pedro_serrano1) January 30, 2024
Como? A Transparência Internacional diz ter aumentado percepção de corrupção no Brasil e critica Zanin e Dino no STF e Gonet na PGR? É aquela entidade flagrada nas três posições do decúbito com a Lava Jato? Que combinava ações com Deltan Dallagnol, o militante de extrema-direita?…
— Reinaldo Azevedo (@reinaldoazevedo) January 30, 2024