Ligações perigosas

Bloco com 13 partidos na Câmara garante André Moura como novo líder do governo

Confirmada pelo Planalto, notícia só será divulgada oficialmente quando sair o líder do governo no Senado. Articulações, segundo bastidores, passaram pela busca por votos de deputados e chantagens de Cunha

Wilson Dias/Agência Brasil

André Moura, aliado de Cunha, ganhou disputa com Rodrigo Maia pela liderança do governo na Câmara

Brasília – O que todos os parlamentares da Câmara dos Deputados conversaram em reuniões oficiais e em reservado durante o dia inteiro ontem (17) foi confirmado na manhã desta quarta-feira pelo secretário de Governo, ministro Geddel Vieira Lima, do Palácio do Planalto. O novo líder do governo na Casa será mesmo o deputado André Moura (PSC-SE), aliado de primeira hora do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Moura ganhou a disputa para o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), até ontem a preferência dos partidos de oposição, por dois motivos. O primeiro, oficial, foi o fato de legendas que formavam o chamado “centrinho” (ou “centrão”, dependendo da mídia que o divulga) se uniram a siglas nanicas, formando a partir de agora um novo bloco partidário aliado do governo (agora sim, um “centrão”).

São 225 deputados no total, que daqui por diante estarão reunidos num único bloco, formado por integrantes dos partidos PP, PR, PSD, PRB, PSC, PTB, SD, PHS, PROS, PSL, PTN, PEN e PTdoB. O número, juntamente com siglas que faziam oposição direta ao governo Dilma, como DEM, PSDB e PPS, chegou perto de 400 deputados implicitamente envolvidos na base de sustentação a Temer. Ou seja: valeu a articulação pela garantia de mais votos na tramitação de matérias na Câmara, durante a decisão sobre a liderança do governo na Casa.

O outro motivo, divulgado a torto e a direito em off pelos deputados a repórteres e também em reuniões de bastidores, foi a pressão que teria sido feita de forma insistente pelo grupo de Eduardo Cunha junto ao presidente da República em exercício, Michel Temer, destacando o esforço feito por ele e seus aliados para aprovação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

Nessas conversas, teria sido cobrado, inclusive, o fato de o presidente afastado da Câmara ter aceitado e se mantido de forma discreta sobre o distanciamento oportuno de Temer e seu grupo dele, desde que foi comunicada a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de tirá-lo do cargo até o julgamento do processo no qual é réu..

“Foi mais uma chantagem de Eduardo Cunha, que mesmo abatido pelo STF, continua mostrando suas garras. Não acredito que tenha sido colocado só esse fator como argumento, mas também mencionados ‘esqueletos no armário’ que Cunha deve ter sobre pessoas próximas da equipe que hoje cerca Temer no Executivo”, disse um líder que não quis se identificar.

A decisão, no entanto, não foi anunciada ainda, embora dada como certa por ter sido confirmada por um dos ministros mais próximos do presidente interino. Mas já tinha sido mencionada ontem à noite por analistas legislativos, parlamentares do PT, líderes de outras legendas e até mesmo o irmão de Geddel, o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).

Já falando como líder escolhido, embora sem admitir a confirmação, André Moura destacou que “não fará o jogo de ninguém”, numa referência às especulações de ter sido ajudado pelo presidente afastado da Casa. “Procurarei agir de acordo com minha consciência e desenvolver um bom trabalho, como tenho feito em minha atuação parlamentar”, afirmou.

‘Mudança de vento’

É impressionante como a mudança de vento aconteceu depois que os deputados resolveram formalizar um bloco partidário grande de apoio ao governo e levaram, dentro dessa proposta, o nome de André Moura, comentou uma deputada petista, ao mencionar reunião tida na tarde de ontem entre Temer e líderes partidários da Câmara e do Senado.

Isto porque, ligado e apadrinhado ao ex-ministro Moreira Franco – tido como nome forte do governo e muito próximo a Temer – Rodrigo Maia era tido como praticamente certo para a liderança até por volta das 15h de ontem.

Na reunião dos líderes da Câmara hoje de manhã, ficou dada como certa essa definição sobre o líder do governo na Casa e um acerto inicial entre a mesa diretora e líderes de partidos como DEM, PSDB e PPS, que pedem insistentemente a saída do presidente interino, Waldir Maranhão (PP-MA).

A situação de Maranhão – que presidiu a reunião de líderes pela primeira vez e reiterou que não renuncia ao cargo – não foi acertada. Mas houve, pelo menos, um aceno por parte desses partidos de que não apresentarão empecilhos para que seja desobstruída a pauta da Câmara e votadas as quatro medidas provisórias que trancam os trabalhos e cuja desobstrução, permitirá a continuidade das votações.

Esse acordo de cavalheiros permitirá, assim, que o plenário esteja pronto para receber matérias novas do Executivo e dar seguimento célere às votações para se preparar para as propostas a serem encaminhadas, conforme pediu o presidente em exercício aos deputados. Mas os recursos e questões de ordem que pedem a destituição do presidente interino da Casa continuam sendo discutidos.

“Não mudamos nosso posicionamento em relação ao Waldir Maranhão, mas concordamos e já dissemos ao presidente da República que não vamos nos opor, nem usar de ações que obstruam os trabalhos da Câmara dos Deputados”, afirmou o líder do DEM, Pauderney Avelino (AM).