Derrotado no Recife, PT precisa curar feridas e encontrar um norte

Racha provocado por prévias no partido e por campanha que não conseguiu se livrar da má avaliação do prefeito João da Costa leva petistas de Pernambuco ao divã

Humberto Costa terá de retornar ao Senado após ser derrotado em uma disputa que iniciou como favorito (Foto: Antônio Cruz. Agência Brasil)

Recife – A vitória de Geraldo Julio (PSB) no primeiro turno das eleições para prefeito do Recife coloca um ponto final numa longa era do PT, que governou a capital pernambucana nos últimos doze anos. Daqui para a frente, o Partido dos Trabalhadores terá pela frente uma longa jornada para curar as feridas abertas por uma campanha que renegou a gestão do prefeito petista João da Costa após um processo de prévias marcado por ataques. O candidato da sigla, Humberto Costa, começou a corrida eleitoral na liderança das pesquisas com 40% das intenções de voto e terminou as eleições em terceiro lugar, com 17,43% dos votos válidos.

Ao longo da campanha, o senador foi perdendo voto graças a uma sucessão de confusões causadas pelo próprio PT, que estava rachado e brigava internamente desde as prévias, quando o atual prefeito João da Costa foi preterido e não pôde tentar sua reeleição.

Pelas contas do economista Maurício Costa Romão, Ph.D. pela Universidade de Illinois e consultor da Contexto Estratégias Política e de Mercado, o PT perdeu cerca de 200 mil votos nos últimos três meses. Humberto Costa começou a campanha com o apoio de 330 mil eleitores, segundo as pesquisas, e terminou com 154,5 mil votos. 

“Nunca se imaginou que o PT pudesse ter menos de 30% dos votos no Recife. O partido é muito forte aqui, tem um histórico extremamente favorável. As pesquisas mostram que o partido é o mais querido dos recifenses, tem estrutura, tem coesão programática. Mas as prévias provocaram um desacerto e o partido continuou brigando ao longo da campanha e de forma pública. Todo este processo de desconstrução da imagem do atual prefeito João da Costa, feito pelo próprio PT, deixou o partido sem discurso. A propaganda eleitoral de Humberto era a mais mal avaliada. Ele não poderia criticar a administração municipal, porque ela é do PT, e nem defendê-la porque ela é mal avaliada. O discurso ficou incoerente e gerou uma confusão no eleitor que preferiu mudar”, explica.

De vencedor a derrotado

Maurício cita que no início do ano as pesquisas mostravam que os moradores do Recife queriam que o PT continuasse na prefeitura, independentemente do candidato. “Agora, as últimas pesquisas mostraram que 70% dos recifenses não queriam o PT na prefeitura. O Partido dos Trabalhadores sai muito chamuscado dessas eleições, sai pequeno e sem alicerce para disputar a eleição estadual no futuro”, avalia. De todos os problemas que o PT enfrentou, Maurício acredita que as prévias traumáticas tenham tido mais impacto na votação do partido. “O PT começou a perder as eleições nas prévias. Quem inicia uma eleição tendo de se explicar não pode se dar bem”, diz. 

Já o cientista político Adriano Oliveira acha que as prévias não tiveram tanto peso assim na derrota. “O principal motivo é a péssima avaliação do prefeito João da Costa, que fez uma administração reprovada. Se o prefeito fosse bem avaliado, o Humberto poderia ter ido para o segundo turno. Este é o principal fator, embora haja outros, como a força do governador Eduardo Campos e a indefinição da escolha da candidatura do PT. O presidente Lula, que é muito querido aqui no estado, não veio para o Recife e isso também interfere negativamente”, diz Oliveira, que é professor do Núcleo de Estratégias e Política Eleitoral da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e um dos coordenadores da série de pesquisas feitas nas eleições deste ano no Recife pelo Instituto Mauricio de Nassau. 

Futuro do PT

“É difícil imaginar qual será o futuro do PT em Pernambuco”, diz o cientista político e pesquisador da Fundação Joaquim NabucoTúlio Velho Barreto. “Do ponto de vista político, pode-se dizer que os maiores derrotados nessas eleições foram o PT e suas duas principais lideranças locais, o senador Humberto Costa e o ex-prefeito do Recife João Paulo”, comenta.

Para Barreto, o imbróglio envolvendo o partido desde o rompimento de João Paulo com o atual prefeito João da Costa, até hoje não totalmente esclarecido, fez com que o partido tivesse uma chapa puro sangue, diferentemente de 2000, 2004 e 2008, quando saiu vitorioso.  “O desgaste provocado pelas prévias, por sua anulação pela Executiva Nacional, pela desistência do deputado federal Maurício Rands em disputá-la em favor de Humberto Costa e, finalmente, pela intervenção e escolha deste para liderar a chapa contribuiu para que o PT despencasse para a terceira posição. Mas, se no Recife o partido e suas lideranças saíram menor do que entraram o mesmo não é possível afirmar em relação ao estado, onde ampliou o número de prefeitos eleitos, ainda que em municípios com menos visibilidade política. E o mesmo pode-se dizer em relação ao país”, afirma Barreto.

Para o professor Adriano, o PT, no Recife e em Pernambuco, precisa tomar um norte e decidir qual será o seu papel, principalmente em relação ao governo do Estado. “Continuará como aliado? Será oposição? João Paulo continua forte e poderá ser líder do PT em Pernambuco, mas terá de se movimentar para que o Partido se una e feche com ele. Não vejo outra liderança por enquanto”, diz Adriano.

Maurício Romão diz que o PT “minguou” e terá de recomeçar do zero. “O partido está capenga em Pernambuco, não tem como se recuperar num curto espaço de tempo. E por culpa do próprio partido, que se matou publicamente. O melhor que eles podem fazer agora é escrever um livro, cujo título é ‘Como perder uma eleição’”.