Derrotado no Recife, PT precisa curar feridas e encontrar um norte
Racha provocado por prévias no partido e por campanha que não conseguiu se livrar da má avaliação do prefeito João da Costa leva petistas de Pernambuco ao divã
Publicado 09/10/2012 - 13h25
Humberto Costa terá de retornar ao Senado após ser derrotado em uma disputa que iniciou como favorito (Foto: Antônio Cruz. Agência Brasil)
Recife – A vitória de Geraldo Julio (PSB) no primeiro turno das eleições para prefeito do Recife coloca um ponto final numa longa era do PT, que governou a capital pernambucana nos últimos doze anos. Daqui para a frente, o Partido dos Trabalhadores terá pela frente uma longa jornada para curar as feridas abertas por uma campanha que renegou a gestão do prefeito petista João da Costa após um processo de prévias marcado por ataques. O candidato da sigla, Humberto Costa, começou a corrida eleitoral na liderança das pesquisas com 40% das intenções de voto e terminou as eleições em terceiro lugar, com 17,43% dos votos válidos.
Ao longo da campanha, o senador foi perdendo voto graças a uma sucessão de confusões causadas pelo próprio PT, que estava rachado e brigava internamente desde as prévias, quando o atual prefeito João da Costa foi preterido e não pôde tentar sua reeleição.
Pelas contas do economista Maurício Costa Romão, Ph.D. pela Universidade de Illinois e consultor da Contexto Estratégias Política e de Mercado, o PT perdeu cerca de 200 mil votos nos últimos três meses. Humberto Costa começou a campanha com o apoio de 330 mil eleitores, segundo as pesquisas, e terminou com 154,5 mil votos.
“Nunca se imaginou que o PT pudesse ter menos de 30% dos votos no Recife. O partido é muito forte aqui, tem um histórico extremamente favorável. As pesquisas mostram que o partido é o mais querido dos recifenses, tem estrutura, tem coesão programática. Mas as prévias provocaram um desacerto e o partido continuou brigando ao longo da campanha e de forma pública. Todo este processo de desconstrução da imagem do atual prefeito João da Costa, feito pelo próprio PT, deixou o partido sem discurso. A propaganda eleitoral de Humberto era a mais mal avaliada. Ele não poderia criticar a administração municipal, porque ela é do PT, e nem defendê-la porque ela é mal avaliada. O discurso ficou incoerente e gerou uma confusão no eleitor que preferiu mudar”, explica.
De vencedor a derrotado
Maurício cita que no início do ano as pesquisas mostravam que os moradores do Recife queriam que o PT continuasse na prefeitura, independentemente do candidato. “Agora, as últimas pesquisas mostraram que 70% dos recifenses não queriam o PT na prefeitura. O Partido dos Trabalhadores sai muito chamuscado dessas eleições, sai pequeno e sem alicerce para disputar a eleição estadual no futuro”, avalia. De todos os problemas que o PT enfrentou, Maurício acredita que as prévias traumáticas tenham tido mais impacto na votação do partido. “O PT começou a perder as eleições nas prévias. Quem inicia uma eleição tendo de se explicar não pode se dar bem”, diz.
Já o cientista político Adriano Oliveira acha que as prévias não tiveram tanto peso assim na derrota. “O principal motivo é a péssima avaliação do prefeito João da Costa, que fez uma administração reprovada. Se o prefeito fosse bem avaliado, o Humberto poderia ter ido para o segundo turno. Este é o principal fator, embora haja outros, como a força do governador Eduardo Campos e a indefinição da escolha da candidatura do PT. O presidente Lula, que é muito querido aqui no estado, não veio para o Recife e isso também interfere negativamente”, diz Oliveira, que é professor do Núcleo de Estratégias e Política Eleitoral da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e um dos coordenadores da série de pesquisas feitas nas eleições deste ano no Recife pelo Instituto Mauricio de Nassau.
Futuro do PT
“É difícil imaginar qual será o futuro do PT em Pernambuco”, diz o cientista político e pesquisador da Fundação Joaquim NabucoTúlio Velho Barreto. “Do ponto de vista político, pode-se dizer que os maiores derrotados nessas eleições foram o PT e suas duas principais lideranças locais, o senador Humberto Costa e o ex-prefeito do Recife João Paulo”, comenta.
Para Barreto, o imbróglio envolvendo o partido desde o rompimento de João Paulo com o atual prefeito João da Costa, até hoje não totalmente esclarecido, fez com que o partido tivesse uma chapa puro sangue, diferentemente de 2000, 2004 e 2008, quando saiu vitorioso. “O desgaste provocado pelas prévias, por sua anulação pela Executiva Nacional, pela desistência do deputado federal Maurício Rands em disputá-la em favor de Humberto Costa e, finalmente, pela intervenção e escolha deste para liderar a chapa contribuiu para que o PT despencasse para a terceira posição. Mas, se no Recife o partido e suas lideranças saíram menor do que entraram o mesmo não é possível afirmar em relação ao estado, onde ampliou o número de prefeitos eleitos, ainda que em municípios com menos visibilidade política. E o mesmo pode-se dizer em relação ao país”, afirma Barreto.
Para o professor Adriano, o PT, no Recife e em Pernambuco, precisa tomar um norte e decidir qual será o seu papel, principalmente em relação ao governo do Estado. “Continuará como aliado? Será oposição? João Paulo continua forte e poderá ser líder do PT em Pernambuco, mas terá de se movimentar para que o Partido se una e feche com ele. Não vejo outra liderança por enquanto”, diz Adriano.
Maurício Romão diz que o PT “minguou” e terá de recomeçar do zero. “O partido está capenga em Pernambuco, não tem como se recuperar num curto espaço de tempo. E por culpa do próprio partido, que se matou publicamente. O melhor que eles podem fazer agora é escrever um livro, cujo título é ‘Como perder uma eleição’”.