Expectativa

Novo Datafolha mede diferença entre Lula e Bolsonaro após oficialização de chapas e dias tensos

Pesquisa vem em meio a reação da sociedade a golpismo de Bolsonaro, e após PEC do Auxílio, assassinato de petista por bolsonarista e chegada de Anitta ao jogo

Clauber Cleber Caetano (Presidência da República) / Ricardo Stuckert (Instituto Lula)
Clauber Cleber Caetano (Presidência da República) / Ricardo Stuckert (Instituto Lula)
Entre os fatos que podem ser relevantes para o cenário está a escalada no tom golpista de Bolsonaro

São Paulo – O instituto Datafolha divulga na tarde desta quinta-feira (28) nova pesquisa eleitoral (confira aqui o resultado). É o primeiro levantamento após a oficialização das chapas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do atual inquilino do Planalto, Jair Bolsonaro (PL). Lula lidera as pesquisas em patamar estável, entre 43% e 47%, desde o ano passado. Na ausência de outros nomes competitivos, o antipetismo moveu Bolsonaro para entre 30% e 35% segundo alguns institutos. Mas não segundo o Datafolha, que o trouxe com 27% em maio e 28% junho.

A última pesquisa Datafolha, de 23 de junho, captou 47% de intenção de voto no ex-presidente (em maio, 48%). Considerando votos válidos, Lula poderia ganhar logo no primeiro turno, com mais de 53%. Ciro Gomes (PDT) estava com 8% e André Janones (Avante) com 2% e Simone Tebet (MDB) 1%. Apesar de ser classificado como centro-esquerda, Ciro bate mais duro em Lula do que em Bolsonaro. Apostar numa queda abrupta de Bolsonaro ou mesmo em sua saída do jogo para, quem sabe, assumir a preferência dos anti-PT.

Por sua vez, André Janones já teria indicado voto em Lula num segundo turno entre o petista e Bolsonaro. E Tebet já declarou que de Bolsonaro não vai.

As pesquisas apontam também que a rejeição a Bolsonaro é sempre maior que a aceitação. Ou seja, tem muito mais gente dizendo que não vota nele de jeito nenhum do que gente que diz que pode votar. Ao contrário de Lula, que tem potencial de voto sempre acima da casa dos 60%, e de não voto abaixo de 40%.

Ontem (27), o Datafolha divulgou levantamento com jovens entre 15 e 29 anos feito em 12 capitais. O petista é preferido por 51%, Bolsonaro por 20%.

O que mudou

Entre os fatos mais relevantes dos últimos dias, que podem ou não influenciar o cenário, está a escalada no tom golpista de Bolsonaro. O presidente, em reunião com embaixadores no último dia 18, disparou mentiras sobre o sistema eleitora e ataques a instituições democráticas. A opção em dialogar diretamente com os que seguem o bolsonarismo como a uma seita é um sinal de aposta mais em conflito do que no processo eleitoral. Afinal, não foram pequenos os esforços eleitoreiros embutidos na chamada PEC da Bondade, ou do Desespero, ou do Auxilio, com que Bolsonaro tenta sair de sua bolha e atrair parte dos pobres que estão com Lula. Mas, se mesmo assim ainda insiste no golpismo, deve ter acesso a maus sinais em relação ao que as urnas lhe reservam.

A sociedade também percebeu o aumento do ódio e da violência bolsonarista, que culminou com o assassinato do dirigente do PT de Foz do Iguaçu (PR) Marcelo Arruda pelas mãos de um bolsonarista. O assassino invadiu o aniversário de Marcelo aos gritos de “aqui é Bolsonaro” e disparou.

A violência bolsonarista levou a cantora Anitta a declarar apoio a Lula. A artista, disse não haver outro jeito agora de defender a democracia. E enfatizou que não é petista, que deixará suas opções políticas para a próxima, mas que pretende ajudar a impulsionar a opção Lula nas redes. A decisão rendeu amplo engajamento nas redes sociais e “furou a bolha” petista. Enquanto isso, o bolsonarimo apostou no ataque e na disseminação de desinformação contra Anitta e contra o PT. Chegou ao ponto de o Supremo Tribunal Federal (STF) exigir a retirada de postagens mentirosas de bolsonaristas ligando o PT ao crime organizado.

Inércia e ridicularização

Outro fato relevante é a inércia da Procuradoria-Geral da República (PGR). Além de não se posicionar contra os discursos golpistas de Bolsonaro, o procurador-geral, Augusto Aras, e sua vice, Lindôra Araújo, tentam blindar o presidente, ao determinar o arquivamento das denúncias da CPI da Covid contra ele. Ao aproveitar a onda, Bolsonaro elevou os ataques contra políticos opositores que fizeram parte do inquérito, e voltou a atacar as vacinas contra a covid-19. “Nunca exigi passaporte vacinal nem cobrei nada de ninguém, até porque eu nunca me vacinei. Entendo que isso é liberdade e democracia. É um direito meu. E estou vivo até hoje”, disse.

O presidente ainda ironizou a honestidade do presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), e ridicularizou o tom de voz do vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP). “Fala fino”, disse o político, levando a plateia de apoiadores – no Conselho Federal de Medicina – aos risos.

A nova pesquisa Datafolha começou suas 2.556 entrevistas presenciais nesta quarta e o resultado deve sair no fim da tarde. A amostra abrange 183 municípios, em 25 estados (exceto Roraima) e no Distrito Federal. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, e a pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR-01192/2022.