Crise

Comissão aprova parecer pró-impeachment; votação irá a plenário

Após debate tumultuado na Câmara, colegiado teve 38 votos pelo relatório e 27 contra. Vice da República foi chamado de 'traidor' e 'golpista', entre gritos de 'fora, Dilma' e 'fora, Cunha'

Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados

Agora, o relatório irá ao plenário da Casa

São Paulo – A comissão especial do impeachment na Câmara aprovou o relatório do deputado Jovair Arantes (PTB-GO) favorável ao processo. Foram 38 votos pelo parecer (58% dos 65 integrantes do colegiado) e 27 contra (42%), sem abstenções. A sessão, que durou dez horas, foi encerrada às 20h37. Agora, o relatório irá ao plenário da Casa, o que deverá ocorrer no próximo fim de semana. O texto precisa de dois terços para ser aprovado e, nesse caso, ser encaminhado ao Senado.

Como esperado, a sessão foi marcada por várias interrupções e bate-boca, com troca de ataques entre governo e oposição. O debate ficou ainda mais acirrado após a revelação de um áudio do vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), se pronunciando como se o impeachment já tivesse sido aprovado pela Câmara. Deputados da base aliada chamaram Temer de “traidor” e “golpista”.

Para o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), o relator não apontou fato que pudesse ser considerado como crime de responsabilidade da presidente Dilma Rousseff. “O melhor caminho é a repactuação, é o diálogo”, afirmou o líder. “É uma articulação (o processo do impeachment) para entregar o poder ao Michel Temer e ao Eduardo Cunha.”

Muitos deputados também criticaram o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Paulo Teixeira (PT-SP), por exemplo, chegou a chamar o relator de “Jovair Cunha”, causando nova discussão. “Esse relatório foi feito a quatro mãos. Ele (Arantes) foi nomeado pelo Eduardo Cunha, que tem interesse no impeachment. Se houver impeachment, o Eduardo Cunha vira vice-presidente da República. Ele não tem imparcialidade para dirigir esse processo”, afirmou Teixeira, lembrando que o presidente da Casa é réu na Operação Lava Jato.

“Engana-se o ministro Cardozo quando diz que na dúvida não se pode processar”, disse o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), referindo-se à defesa feita na semana passada pelo advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo.

Posições partidárias

O líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), disse que deputados votariam contra e a favor do parecer, em uma posição “construída” a partir da indicação de membros da comissão especial. Ele afirmou que, por isso, a bancada estava liberada. Também foi essa a decisão do PP. O PSD disse que tinha divergências, mas que a maioria votaria contra o relatório. Já o PSB disse que a posição da bancada era a favor do parecer de Arantes, assim como PSDB, DEM, PTB e Solidariedade.

O PRB também orientou seus deputados a favor pela admissibilidade do processo. O voto do PDT seria contra o parecer, assim como os do PT e do PCdoB. O PTB disse que decidiu hoje, “por maioria apertadíssima”, também contra o relatório. O PSC definiu posição pelo impeachment, conforme anunciado pelo deputado Pastor Marco Feliciano (SP), assim como o PPS e o PV.

Já o deputado Chico Alencar (RJ), líder do Psol, disse que queria “o impeachment da hipocrisia e do cinismo”, “de uma pedalada jurídico-parlamentar”, referindo-se a um relatório que teve o auxílio “luxuoso e suspeito” de advogados ligados a Cunha. Mesmo oposição ao governo, o partido disse não ao que considera “farsa” do impeachment. O Pros liderou a bancada, e a Rede disse que votaria contra o parecer, mesmo com críticas ao governo. O PTdoB também foi contra o relatório de Arantes. O PEN votaria não ao impeachment, e o PMB, sim.