Entreguismo

Com proposta única, Tarcísio privatiza linha 7 da CPTM e trem São Paulo-Campinas

Sem concorrentes, grupo Comporte e estatal chinesa CRRC vão gastar menos do que o Estado e lucrar por 30 anos com novo Trem Intercidades. De quebra, levaram linha de trem metropolitano

Marcelo S. Camargo/ GOVSP
Marcelo S. Camargo/ GOVSP
Tarcísio pretende privatizar todo o transporte sobre trilhos em São Paulo

São Paulo – Numa tacada só, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), privatizou a construção do Trem Intercidades Eixo Norte (TIC), ligando São Paulo a Campinas, e a Linha 7-Rubi da CPTM. Um consórcio formado pelo grupo Comporte e pela estatal chinesa CRRC foi o único a apresentar proposta e venceu o leilão realizado nesta quinta-feira (29) na Bolsa de Valores de São Paulo (B3). O grupo CCR, controlador da Via Mobilidade (que opera as Linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda CPTM, 5-Lilás, do Metrô, e 17-Ouro, do Monotrilho ) e da Via Quatro (Linha 4-Amarela), não compareceu ao leilão.

Assim, o grupo vencedor ofereceu apenas 0,01% de desconto sobre a contraprestação máxima de cerca de R$ 8 bilhões definida no edital do leilão. O Estado de São Paulo entrará no projeto do TIC com aporte de cerca de 9 bilhões de reais, dos quais 6,4 bilhões serão financiados pelo BNDES. Isso porque o governo federal incluiu a obra no Novo Pac (Programa de Aceleração do Crescimento).

Ou seja, a iniciativa privada vai desembolsar menos do que o governo paulista, para lucrar por 30 anos com a prestação do serviço do novo Trem intercidades. De quebra, levou também, pelo mesmo período, a concessão da operação da Linha 7, que liga o centro da capital a Jundiaí. Além disso, o consórcio vencedor também vai operar o Trem Intermetropolitano (TIM) entre Jundiaí e Campinas, que acompanha o traçado do TIC.

As vencedoras

O grupo Comporte pertence à família dos fundadores da companhia aérea Gol. Em dezembro de 2022, também com lance único, a empresa venceu o leilão para concessão do metrô de Belo Horizonte. Arremataram o contrato de 30 anos, com oferta de R$ R$ 25,7 milhões. Três meses após o início das operações, o governador Romeu Zema (Novo) reajustou a tarifa. O bilhete do metrô passou de R$ 4,50 para R$ 5,30, aumento de 17,78%. Quatro anos antes, custava R$ 1,80.

Já a estatal chinesa, com sede em Hong Kong, é a maior fabricante de trens do mundo. Já forneceu trens para a linha 13-Jade da CPTM e também para a Supervia e o metrô do Rio de Janeiro. Também é responsável por operar trens de alta velocidade na China, o metrô de cidades como Pequim, Chicago e Massachusetts. Além disso, também opera trens intercidades na Costa Rica, Argentina, Sri Lanka, Iraque, Tailândia, Malásia, Irã e México.

A previsão é que o TIC São Paulo-Campinas comece a operar em 2031, levando cerca de 632 mil viajantes por dia. De acordo com o governo paulista, a tarifa máxima estipulada é de R$ 64, mas poderá ser corrigida pela inflação até o início das operações. O tempo estimado da viagem é de 64 minutos. Já o TIM entre Jundiaí e Campinas terá tarifa máxima de R$ 14,15.

Protestos

Ontem e hoje, representantes dos sindicatos dos trabalhadores dos transportes sobre trilhos em São Paulo e da Sabesp, também alvo das privatizações do governo Tarcísio, protestaram do lado de fora da B3. No ano passado, os trabalhadores fizeram duas greves, em outubro e novembro, contra as privatizações dos serviços públicos. Além disso, lançaram um plebiscito popular no qual a população se manifestou majoritariamente contra os planos do governador.

Na opinião do presidente do sindicato dos Ferroviários, Eluiz Alves de Matos, as privatizações colocam a população em risco. Isso porque as linhas operadas pela Via Mobilidade apresentam índices bem mais altos de panes e acidentes. “Os leilões significam que os problemas vão aumentar. São acidentes, descarrilamentos que não é normal acontecer”.

Para a presidenta do Sindicato dos Metroviários, Camila Lisboa, o governador Tarcísio não tem compromisso com o povo. Ao longo do mandato, ele pretende privatizar todas as linhas de trens e metrô ainda sob controle do estado. “O compromisso do governador não é com a qualidade e a segurança da população. O compromisso dele é com os bilionários dos grupos econômicos que vão abocanhar esse serviço público”, criticou.

Pelas redes sociais, ela também questionou e lamentou o resultado do leilão.


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